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Os dois lados da moeda: experimentação em animais

por Priscila Montanheri
Quarta-feira, 6 de novembro de 2013 -16h56

O uso de animais para pesquisas científicas é considerado um assunto polêmico e de uma discussão cautelosa.


A Lei nº 11.794, conhecida como Lei Arouca, sancionada em outubro de 2008, estabelece procedimentos para uso científicos de animais, ou seja, isso é permitido pela legislação brasileira.


Porém, essa prática fica restrita a estabelecimentos de ensino superior e de educação profissional técnica de nível médio da área biomédica.


A partir da criação da lei, todos os testes devem ser monitorados pelo CONCEA - Conselho Nacional de Controle de Experimentação de Animais, este fica responsável pelo cumprimento das normas relativas à utilização humanitária de animais com finalidade de ensino e pesquisa científica.


Sabe-se que a maioria dos testes realizados em animais é de produtos da indústria farmacêutica. Esta, por sua vez, avalia as dosagens ideais, concentrações e os efeitos dos mesmos. Estes testes são feitos em etapas.


No caso do teste de um fármaco, por exemplo, a primeira etapa consiste no tratamento de um grupo de células infectadas em laboratório. Caso haja reação positiva ao princípio ativo, inicia-se a segunda etapa, onde os testes são feitos em animais (camundongos, cães, macacos). Por último, acontece o teste em seres humanos.


A indústria farmacêutica não consegue dar continuidade as pesquisas de medicamentos sem o uso de animais. Por outro lado, a indústria cosmética tem diminuído o uso de animais, pois já utiliza testes in vitro (em cultivos celulares), além de sistemas alternativos, como kits de peles artificiais importados. A pesquisa tem caminhado.


É considerado crime o uso de animais para testes científicos quando existe outro método possível, mas ao mesmo tempo ativistas em defesa dos animais afirmam que os órgãos responsáveis por essa fiscalização não possuem hoje um controle de quais métodos deveriam ser usados alternativamente pelas instituições.


Além disso, as opções alternativas ainda são poucas e ineficientes, na medida em que não conseguem mimetizar os sistemas biológicos. É importante que haja um interesse na pesquisa e no desenvolvimento de métodos alternativos para que o uso de animais seja feito somente o necessário.


Sistemas biológicos não são sistemas matemáticos, não há como prever que os efeitos de um medicamento, vacina, protocolo de tratamento, serão os mesmos, tanto em um cultivo celular como em um organismo vivo com toda a sua complexidade.


As pesquisas são de extrema importância no âmbito farmacológico, não somente para remédios propriamente ditos, mas também na descoberta de vacinas e protocolos de tratamentos.


A ciência não pode estagnar. A cada dia uma nova doença é descoberta, e nem sempre existe o tratamento adequado, ou seja, nem sempre há no mercado um princípio ativo capaz de ser efetivo no combate da enfermidade.


No século 18 se iniciou a busca para tratamento da varíola, o médico inglês Edward Jenner retirava pústulas de vacas doentes, logo infectadas, e aplicava em camponeses sadios para protegê-los (Jenner descobriu que camponeses que tiravam leite dessas vacas não ficavam doentes). Até então era a única vacina existente. Esse cenário começou a mudar com a chegada dos estudos de Pasteur no final do século XIX, que compreendeu o papel dos microorganismos nas infecções.


A cura para diabéticos foi descoberta utilizando insulina retirada do pâncreas de bovinos. Durante anos foi utilizada a insulina de origem animal, até o desenvolvimento da sintética.


Dessa forma, os animais possuem presença expressiva na descoberta e desenvolvimento de fármacos desde tempos passados, quando a tecnologia se restringia às condições da época.


A descoberta de métodos alternativos para a experimentação científica não será instantânea, entretanto isso não impede que os pesquisadores utilizem os já existentes, e se interessem pela produção de novos.


Você que é contra o uso de animais e propõe o uso de humanos nos testes desde o início da pesquisa tire algumas horas de sua vida e pense no grande monstro que isso poderia virar. Olhe para a história e veja o que já foi feito a espécie humana em nome da "ciência", as atrocidades cometidas por grupos políticos, sociedades ditatoriais e etc. Queremos regredir?


Em ambos os lados dessa moeda, há fatores positivos e negativos.


Animais são seres vivos e não estão se voluntariando para testes, estão sendo forçados, sendo assim devem ser respeitados e tratados com dignidade. Os abusos devem ser penalizados.


Hoje, não há como pensarmos em qualquer tipo de cura, desenvolvimento de medicamentos, protocolos e etc., sem o uso de animais em alguma etapa do processo de experimentação. Assim, cabe aos seres humanos utilizar a racionalidade e inteligência para fazer isso de modo correto e sensato.


Colaborou Milena Zigart Marzocchi, zootecnista em treinamento pela Scot Consultoria.