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Encontro de Adubação de Pastagens da Scot Consultoria – Tec-Fértil entrevista o pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental Moacyr Bernardino Dias-Filho

por Equipe Scot Consultoria
Segunda-feira, 26 de agosto de 2013 -09h50


A necessidade de produzir mais em menos área é uma realidade para a pecuária brasileira. O mercado e a legislação ambiental conduzem para essa estratégia.


Em função desse cenário é que nos dias 25 e 26 de setembro acontecerá em Ribeirão Preto-SP o Encontro de Adubação de Pastagens da Scot Consultoria - Tec-Fértil.


Para maiores informações acesse www.encontrodepastagem.com.br.


Moacyr Bernardino Dias-Filho será um dos nossos palestrantes.


Sua palestra será sobre "Diagnóstico da situação das pastagens no Brasil - pastagens nativas, cultivadas e degradadas."


Para saber um pouco sobre a palestra, leia a entrevista que ele concedeu à organização do Encontro de Adubação de Pastagens.


 


Entrevista com Moacyr Bernardino Dias-Filho



Scot Consultoria: De maneira geral, como o senhor classifica o grau de degradação de pastagens brasileiras? Ele vem diminuindo ou aumentando?


Moacyr Bernardino Dias-Filho: Ainda não existem estudos que permitam resposta precisa a esta pergunta. Recentemente, a Embrapa iniciou um projeto de pesquisa - o Geodegrade - que pretende mapear, usando imagens de satélite, as áreas de pastagens degradadas, nas principais regiões pecuárias do país. No futuro, portanto, será mais seguro responder a esta pergunta.


De qualquer forma, na quarta edição do meu livro sobre degradação de pastagens, estimo que entre 50 a 70% das áreas de pastagens do Brasil estariam em algum grau de degradação.


Levando em conta a capacidade de suporte, que é o indicador mais flexível para quantificar a degradação de uma dada pastagem, é possível de certa forma, confirmar esta estimativa com base nos dados do DIEESE (Estatísticas do meio rural 2010-2011), sobre a capacidade de suporte das pastagens brasileiras.


Nesta publicação, estima-se que cerca de 70% das pastagens brasileiras teriam capacidade de suporte inferior a 0,8 UA/ha, sendo que em torno de 50% dessas pastagens teriam capacidade de suporte máxima de 0,4 UA/ha. Esses números certamente caracterizam algum grau de degradação (baixa produtividade) dessas pastagens.


A boa notícia é que a tendência de degradação das pastagens brasileiras vem diminuindo. A maior constatação é que, nos últimos anos, o crescimento do rebanho bovino vem superando o aumento das áreas de pastagem. Um indicativo do aumento da produtividade da pecuária brasileira, que é basicamente desenvolvida a pasto.


As razões para isso são várias, no entanto, tem forte influência o aumento na disponibilidade de tecnologia (aprimoramento das técnicas de recuperação e manejo de pastagens, lançamento de cultivares mais produtivas de capins etc.).


Outro fator importante são as pressões ambientais e de mercado que incentivam o uso de tecnologia na formação e no manejo das pastagens.


No entanto, nada disso seria relevante se não estivesse acontecendo uma mudança na mentalidade dos pecuaristas, que de forma crescente, vêm percebendo que as pastagens têm que ser vistas e cuidadas como uma lavoura para produção de carne e leite. Portanto, produzir mais, em menor área, isto é, modernizar a atividade pecuária, passou a ser questão de sobrevivência para a pecuária nacional.


Para ilustrar esta mudança de mentalidade, cito a minha experiência na região amazônica. Há trinta anos, era comum encontrar pecuaristas na região que me diziam que em suas propriedades não podiam entrar três A s: agrônomo, adubo e arado.


Isto é, havia uma aversão à tecnologia. Nesse cenário, a atividade pecuária era praticada de modo predominantemente extensivo. Hoje, já são poucas as propriedades da região onde os três A s ainda não estão presentes.


 


Scot Consultoria: Existem dados que mensuram o tamanho da área com pastagem nativa no Brasil? Se a resposta for positiva, qual seria a porcentagem disso frente às pastagens cultivadas?


Moacyr Bernardino Dias-Filho: Os dados disponíveis para este levantamento são os dados do IBGE. De acordo com o Censo Agropecuário de 2006, 36% do total das pastagens brasileiras, aproximadamente 60 milhões de hectares, seriam de pastagens naturais.


Até o censo de 1985, as áreas de pastagens naturais no Brasil superavam as de pastagens plantadas (cultivadas). A partir do censo de 1996, esta tendência se inverteu, persistindo até o presente.


As exceções para esta tendência são as regiões Sul, principalmente, e a Nordeste. Nessas regiões ainda predominam as áreas ocupadas com pastagens naturais, em relação à área total de pastagens.


No estado do Rio Grande do Sul, na região Sul e nos estados do Rio Grande do Norte, Ceará, Paraíba, Piauí e Alagoas, na região Nordeste, as áreas de pastagem natural superam as de pastagem plantada.


Na região Norte, apenas no estado do Amapá, as estatísticas apontam uma pequena superioridade das áreas de pastagem natural sobre as de pastagens plantadas.


A tendência geral no Brasil, no entanto, tem sido a redução sistemática nas áreas de pastagem natural, desde o censo de 1970. A explicação para isso é que, como vem ocorrendo com as áreas de pastagens plantadas, muitas dessas áreas vêm sendo substituídas por lavouras, além de outras atividades, ou mesmo substituídas pelo plantio de gramíneas forrageiras exóticas, normalmente mais produtivas do que certas pastagens naturais.


 


Scot Consultoria: Qual região do Brasil mais preocupa em relação à degradação de suas pastagens? E qual região apresenta as melhores condições de pastagens?


Moacyr Bernardino Dias-Filho: A degradação de pastagens é um fenômeno global, estando presente em todas as regiões do Brasil. No entanto, o problema é particularmente preocupante nas regiões aonde a pecuária vem apresentado as maiores taxas de crescimento.


Portanto, nas áreas de fronteira agrícola que se concentram nas regiões Norte, Centro-Oeste e Nordeste o problema da degradação de pastagens é mais preocupante.


O relativo baixo preço da terra e as dificuldades impostas por gargalos infraestruturais, típicos das áreas de pecuária na fronteira agrícola, dificultam a adoção de tecnologia para manter as pastagens produtivas e recuperar as pastagens degradadas. Portanto, nesses locais o problema da degradação de pastagens tende a ser maior.


Segundo dados do DIEESE (Estatísticas do meio rural 2010-2011), cerca de 70% das pastagens na região Norte teriam capacidade de suporte de até 0,4 UA/ha. Na região Nordeste esta proporção seria ainda maior e na Centro-Oeste, perto de 50%. Só na Amazônia Legal (que inclui todos os estados da região Norte, mais o estado do Mato Grosso e parte do Maranhão), minha estimativa é que existam em torno de 30 milhões de hectares de pastagens degradadas ou em degradação.


Considerando que os índices zootécnicos de pastagens recuperadas estão muito acima dos índices de pastagens em degradação, seria possível inferir que a recuperação de extensões relativamente pequenas dessas áreas já teria forte impacto positivo no aumento da produção de carne e leite e na preservação ambiental dessas regiões.


No Brasil, a região Sul apresenta o menor percentual de pastagens degradadas. No entanto, como esta região tem a menor extensão de áreas de pastagens do Brasil, o impacto dessa condição é relativamente pequeno.