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Carta Conjuntura - O impacto da produção agrícola brasileira

Sexta-feira, 5 de outubro de 2012 -16h00

O Brasil é o maior produtor mundial de café, cana-de-açúcar, laranja, suco de laranja e feijão. O país está entre os três maiores produtores de soja, milho, carne bovina, carne de frango, grãos e produtos hortícolas.


Sua participação no consumo mundial de carne bovina é de 14%, atrás somente dos Estados Unidos e da União Europeia. A participação no consumo mundial de carne de frango é de 12%. O país está em terceiro lugar após os Estados Unidos e a China.


A economia brasileira consome ainda 6% da produção mundial de milho, em grande parte para a alimentação animal. Além disso, o Brasil consome 8% da produção mundial de farelo de soja e 13% da produção de óleo de soja.


A emergência do Brasil como um grande exportador de produtos agrícolas tem implicações significativas para os Estados Unidos. O setor agrícola norte americano baseia-se nos mercados de exportação. Em 2011, os Estados Unidos exportaram US$146 bilhões em produtos agrícolas, 52% mais que em 2006, cujo faturamento foi de US$76 bilhões. 


Neste período, o Brasil aumentou suas exportações agrícolas de US$36,60 bilhões para US$81,70 bilhões. A exportação de produtos agrícolas do Brasil para os Estados Unidos aumentou substancialmente. Em 2006, o faturamento foi de US$16,4 bilhões passando para US$38,0 bilhões em 2011, uma expansão de 132%.

História recente das politicas agricolas brasileiras

A migração interna e a expansão das fronteiras agrícolas do Brasil foram incentivadas pelo governo brasileiro desde a década de 1950, especialmente após a legislação da reforma agrária promulgada em 1964. Estas reformas, em grande parte, foram projetadas para reduzir o conflito social em áreas do Sul do Brasil. 


A agricultura mecanizada foi se expandindo para garantir a soberania brasileira sobre a região amazônica. A migração interna para a região Centro-Oeste, particularmente para o Mato Grosso, continua até hoje.


Nesse período o objetivo era abastecer os centros urbanos e gerar divisas para financiar as importações necessárias à industrialização por substituição de importações. A prioridade era abastecer o mercado interno, exportando-se apenas o excedente. A agricultura deveria produzir alimentos para suprir o setor urbano, em crescimento acelerado e, assim, viabilizar o desenvolvimento industrial.


Na década de 1960, a produção agrícola apresentou desempenho superior ao da década anterior. A economia brasileira se abriu ao mercado global, com aumento das exportações de produtos agrícolas industrializados. No final da década, a situação do mercado internacional estava favorável. Os preços dos insumos e bens de capital estavam em declínio e os preços agrícolas em alta. Isso mostrava o acerto da política agrícola que estava sendo adotada.


A expansão das exportações manteve-se na década de 1970, pois os preços internacionais incentivavam o aumento das exportações agrícolas. Predominou a política de crédito rural altamente subsidiado. A taxa de juro dos empréstimos manteve-se fixada em 15% nominais ao ano. Em 1980 a participação das exportações de produtos agrícolas brasileiros, em relação ao total exportado, era de 4,0%. Já em 2000 era de 3,1%. Até 2009, segundo a FAO, a participação do Brasil no mercado mundial teve um incremento de 5,6%. Com taxas de crescimento de produção superior ao crescimento do consumo doméstico, o Brasil emergiu como um fornecedor mundial.


Quadro analitico dos fatores competitivos


Os fatores competitivos determinantes, diretos e indiretos, para a decisão pela compra de determinado produto se baseiam em três critérios principais: custo de entrega, diferenciação do produto e a confiabilidade de abastecimento.


Para muitos consumidores de produtos agrícolas, o custo de entrega é o critério mais importante na decisão de compra e determina a competitividade de determinado fornecedor em relação aos demais. Alguns fatores que influenciam no custo de entrega são a utilização de biotecnologia (sementes de alta produtividade, por exemplo) e as tecnologias de produção (mecanização e irrigação, por exemplo). 


O custo de entrega depende diretamente dos custos de produção do bem e do custo de transporte. Os custos de produção, por sua vez dependem dos custos de insumos e salários.


Além do custo de entrega, os compradores avaliam o nível de diferenciação dos produtos domésticos e importados na hora de decidir a compra. A marca do produto e a forma de processamento são importantes e permitem que as características do produto e sua reputação formem a base da decisão de compra, tornando o custo de entrega menos importante. 


É necessário fortalecer setores, grupos de empreendedores e empresas atuantes nos mercados agrícolas brasileiros. Para que o setor obtenha maior capacidade competitiva, é necessário, portanto, a efetivação de políticas de promoção do comércio exterior e de promoção de mudanças tecnológicas e de estímulo às inovações nas empresas.


A facilidade de acesso às novas tecnologias, com as informações em tempo real, a tendência de todos os produtos, inclusive insumos agrícolas, é se tornarem pouco diferenciados. Atualmente o marketing cria diferenciais, visando fugir da armadilha de vender pelo menor preço. O fornecedor busca criar uma esfera envolvente e atrativa o suficiente para chamar a atenção de seu cliente e conseguir fidelidade. Para isso investigam qual a melhor maneira de agregar ao seu produto um diferencial e torná-lo mais competitivo.


Produção, consumo e comércio dos produtos agrícolas brasileiros


Em 2010, a produção agrícola representou 6% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil e 20% dos empregos formais. 


O setor é constituído por cerca de cinco milhões de fazendas, sendo metade operada por pequenos produtores que produzem apenas 7% da produção agrícola total do Brasil. Cerca de 1,6 milhão de fazendas são grandes propriedades comerciais, localizadas principalmente na região do Cerrado, no Brasil Central. Estas fazendas contabilizam mais de três quartos do total da produção agrícola.


O Brasil tem recursos naturais abundantes, incluindo terras substancialmente aráveis e quase três vezes as reservas de água doce dos Estados Unidos. A diversidade de climas e solos do Brasil favorece as diversas culturas, permitindo duas colheitas por ano em determinadas regiões. Embora o Brasil e os Estados Unidos sejam os maiores exportadores mundiais de muitos dos mesmos produtos, a concorrência direta entre os dois países é limitada. Por exemplo, ambos os países abastecem a China com soja, no entanto, o rápido crescimento da demanda de soja pelos chineses permitiu que ambos os países ampliassem essas exportações.


Produção agrícola


Embora a agricultura brasileira tenha sido próspera durante décadas, experimentou uma expansão especialmente forte entre 1995 e 2005, devido às reformas econômicas e a liberalização do governo, que levou mais agricultores à fonte de capital, insumos e tecnologia de investidores internacionais.


No final da década de 80, com o processo de abertura comercial, as empresas brasileiras voltaram a enxergar nas exportações um componente estratégico para a diluição de riscos e ganho da competitividade. Este esforço de conquista do mercado internacional se intensificou especialmente após a desvalorização cambial de 1999.


Incitadas pela conjuntura internacional favorável, principalmente a partir de 2002, as exportações brasileiras atingiram o patamar de US$198,00 bilhões em 2008, em razão do acelerado crescimento do comércio internacional, da baixa inflação e das taxas de juros reais próximas de zero ou negativas nos principais países desenvolvidos.


O clima tropical e os solos ácidos do Cerrado inicialmente limitaram a produção de muitas culturas, mas os agricultores e cientistas brasileiros superaram essas limitações pelo uso de calcários e fertilizantes, bem como o desenvolvimento de novas variedades de sementes para uso regional. A tecnologia também desempenhou um papel importante através do uso de culturas geneticamente modificadas, legalizadas em 2004 e 2009, que permitiram que o Brasil se tornasse o segundo maior produtor de lavouras biotecnológicas do mundo.


Em 2010, o valor da produção total do Brasil chegou a R$154,00 bilhões (US$87,40 bilhões), 9% mais que no ano anterior, devido à alta dos preços internacionais. Combinados, esses três principais produtos representaram metade do valor da produção total das culturas: soja (24%), cana-de-açúcar (18%) e milho (10%).


Dessa forma a política externa brasileira passou a dar maior importância à promoção das exportações. Ao longo dos últimos anos assentou-se a visão de que o incentivo às exportações deve ser o foco da política comercial.


Consumo agrícola


A demanda por alimentos está levando os produtores agrícolas a mudarem as estratégias de comercialização para o mercado interno, haja visto que os preços domésticos subiram mais que nos mercados de exportação.


Entre 2006/07 e 2010/11, o consumo brasileiro de quase todos os produtos agrícolas cresceu em volume, apesar das taxas de crescimento diferentes entre os grupos de mercadorias. O consumo de óleo de soja cresceu tanto para a produção de biodiesel quanto para uso na culinária. A forte demanda por carnes pelos consumidores brasileiros aumentou o consumo de soja e de farelos, ingredientes usados na alimentação do gado bovino, suíno e de aves. Entre os grãos, o consumo de milho aumentou em quase 10 milhões de toneladas durante esse período. 


Comércio agrícola


O comércio agrícola internacional representa um grande e crescente mercado para os produtos brasileiros. A representatividade dos produtos agrícolas em relação ao total exportado passou de 27% em 2006 para 32% em 2011. 


Entre 2006 e 2011, o superávit brasileiro mais que dobrou, atingindo R$70,70 bilhões. Grande parte desse crescimento ocorreu entre 2007 e 2008 e entre 2010 e 2011, reflexo da alta de preços das commodities mundiais.


Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) o superávit da balança comercial brasileira somou US$ 29,79 bilhões em 2011, crescimento de 47,8% em relação a 2010.


O aumento do saldo comercial em 2011 está relacionado, à elevação dos preços das commodities no mercado externo. Com o preço em alta, as vendas externas se tornaram mais rentáveis, o que aumentou o valor das exportações.


Conclusão


O Brasil ainda tem potencial de crescimento, podendo colocar seus produtos agrícolas em mercados com crescente demanda. 


Para tal será necessário um esforço conjunto entre governo e agricultores para promover os produtos nacionais e garantir a competitividade nas exportações.


O Brasil possui excelentes características para se destacar em âmbito internacional. Clima apropriado para que aconteçam safras de verão e inverno, crescentes em produção; grande quantidade de terras agricultáveis; tecnologia e água em abundancia. Com isto, o Brasil possui diferenciais. 


O maior empenho e o interesse para refinar a política comercial viriam de bom grado.


Colaborou Paola Grigolli, engenheira agrônoma e trainee da Scot Consultoria.