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Carta Gestor- Bom para alguns, excelente para outros

por Rafael Ribeiro
Sexta-feira, 21 de setembro de 2012 -17h36

O clima adverso foi responsável pela menor oferta de grãos na temporada 2011/2012.


A situação foi mais complicada para a soja. A produção despencou nos principais países produtores.
Segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, sigla em inglês), a produção mundial em 2011/2012 foi 10,4% menor frente à temporada anterior. Veja a tabela 1.



Com a revisão da produção para baixo e uma demanda crescente, os estoques mundiais de soja caíram para os menores níveis dos últimos anos.


Com isso, as cotações subiram nos mercados internacional e brasileiro. Na região de Sorriso, no Mato Grosso, o preço da saca de soja de 60kg subiu em média 88,4% de janeiro a agosto deste ano Veja a figura 1.



A previsão desta alta levou à comercialização antecipada da safra.


Até janeiro de 2012, aproximadamente 60,0% da safra de soja mato-grossense (2011/2012) havia sido comercializada (IMEA).


Os preços em patamares elevados aumentaram também os negócios com a soja 2012/2013.


Ainda segundo o IMEA, até o final da segunda semana de setembro, 61,4% da produção prevista para a próxima temporada havia sido negociada (figura 2).Isto significa que a atividade apresentou resultados diferentes, conforme o período e o preço negociado, além, é claro, dos custos.



O custo médio de produção de soja em 2011/2012 (custo total) na região de Sorriso-MT foi de R$1.696,14 por hectare, segundo o IMEA.


O agricultor que vendeu a produção em janeiro de 2012 recebeu, em média, R$37,33 por saca de 60kg. Já quem negociou em agosto deste ano recebeu, em média, R$70,33 por saca.


No Paraná, a diferença de preços vigentes em janeiro e agosto foi de 76,9%. Os custos de produção são os divulgados pelo Departamento de Economia Rural (DERAL), da Secretaria de Agricultura do Paraná. Veja a tabela 2.



Em Sorriso-MT, o lucro por hectare para quem vendeu o grão em janeiro foi de R$245,02. Quem fechou negócio com os preços de agosto obteve um lucro de R$1.961,02 por hectare.


Para o cálculo da rentabilidade, consideramos o preço da terra. Com isso, no Mato Grosso, a rentabilidade média da atividade em 2011/2012 foi de 2,5% para a venda em janeiro de 2012, e de 20,3% para a venda em agosto.


Uma diferença de 17,8 pontos percentuais.Dependendo do caso, é preciso considerar o custo de armazenagem em silos de terceiros. Normalmente, na venda para as grandes empresas o grão é depositado no silo do comprador sem custo para o agricultor.


Para a armazenagem em silos privados cobra-se na chegada a pré-limpeza e a secagem, cujo valor varia de R$2,00 a R$3,00 por saca, mais uma mensalidade a partir dos 60 dias, entre R$0,20 e R$0,30 por saca. Mesmo assim, esse valor é pouco representativo diante da valorização da soja no período.


No Paraná, levando em conta o preço mais alto da terra em relação ao Mato Grosso, a rentabilidade foi menor.De qualquer maneira, a diferença de resultados considerando os dois períodos de vendas foi marcante.


Quem vendeu a soja em janeiro obteve uma rentabilidade de 0,07%, praticamente empatou. Já quem negociou em agosto obteve uma rentabilidade média de 8,34%.


Um ponto importante é que o agricultor do Mato Grosso conseguiu um rendimento das lavouras razoavelmente melhor, apesar das condições climáticas adversas. No Sul do país, de maneira geral, apesar dos preços bons, o rendimento das lavouras foi fortemente prejudicado pela seca, afetando o resultado final.

Cenários distintos com relação aos resultados econômicos foram verificados também para o milho de segunda safra ou milho safrinha, porém em espaço menor de tempo.


A pressão de baixa no mercado interno até junho, em função da expectativa de uma super safrinha, deu lugar a aumentos de preços em julho e agosto, devido às perdas nas lavouras norte-americanas.O USDA revisou para baixo, semana a semana, a qualidade das lavouras de milho (2012/2013) nos Estados Unidos. Saiu de 63,0% da área em condições boas e excelentes em meados de junho para 22,0% da área nestas condições ao fim de agosto. Veja a figura 3.



No mercado brasileiro, os preços subiram.


Em Campo Mourão, no Paraná, a saca de milho saiu de R$23,33 em junho para R$30,02 por saca em agosto.


Na tabela 3 estão os índices e resultados econômicos considerando a venda do milho safrinha em junho e agosto de 2012.



Em dois meses, a rentabilidade da atividade foi de 0,3% para 6,1% no Médio Norte do Mato Grosso.

O planejamento e a estratégia de venda da produção são tão importantes quanto à compra dos insumos.


Em situações de especulação e incerteza, como foi na safra 2011/2012, a análise do mercado, de seus fundamentos e do clima, é fundamental para a construção de cenários e elaboração destas estratégias, seja na compra dos insumos, pensando no custo de produção, ou na venda do grão.


Em 2012 foi assim para a soja e para o milho. Tivemos resultados diferentes, em função da época da venda.


Para 2012/2013 pairam dúvidas: Os atuais níveis de preços para o milho e para a soja vão se manter? Como o clima interferirá na produtividade das lavouras?


Com relação aos custos de produção, fertilizantes, corretivos e defensivos agrícolas estão mais caros e podem estreitar a margem para o agricultor, dependendo do preço recebido.


Na dúvida, tem muito agricultor garantindo preço.


No Mato Grosso, por exemplo, 61,4% da safra de soja 2012/2013 foi comercializada até os últimos dados disponíveis, de setembro. Tem gente já negociando a safrinha de milho 2012/2013.


Colaboraram Gustavo Aguiar, consultor da Scot Consultoria e Alcides Torres, diretor da Scot Consultoria.