*colaboraram: Alcides de Moura Torres Junior - engenheiro agrônomo, Gustavo Adolpho Maranhão Aguiar - zootecnista, Jéssyca Guerra - zootecnista
A produção brasileira de citros aumentou 26,6% em 2011/2012 na comparação com a temporada anterior.
A colheita terminou em fevereiro. Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), foram colhidas 375,74 milhões de caixas de 40,8kg.
O aumento da oferta para a indústria de suco provocou queda de preço e redução da margem para o produtor.
Outro ponto importante é que na temporada que se encerrou, a indústria antecipou a colheita, de forma a reduzir a necessidade imediata de compra dos produtores independentes.
Resultados econômicos
Para a análise econômica apresentada a seguir, consideramos o preço ao produtor em R$10,50 por caixa de 40,8kg, que foi estabelecido como preço mínimo pelo governo no ano passado para as empresas que quisessem contratar a Linha Especial de Crédito (LEC) para estocagem de suco de laranja.
Do lado dos custos de produção, a Associação Brasileira de Citricultores (Associtrus) estimou um valor de R$16,06 por caixa de 40,8kg (custo operacional total) em São Paulo.
Levando em conta o preço médio e a produtividade média, o faturamento por hectare foi de R$7.644,00.
Descontando os custos, cuja estimativa é de R$11.691,68 por hectare, o agricultor teve prejuízo de R$4.047,68 por hectare na temporada 2011/2012.
Segundo a Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR), de 2001 a 2009, a quantidade de produtores de laranja do cinturão citrícola (São Paulo e Triângulo Mineiro) caiu de 15,0 mil para 12,6 mil, uma redução de 15,8%.
Os resultados econômicos adversos foram a principal causa do êxodo de produtores da atividade.
A perda de espaço da cultura citrícola fica bastante evidente para quem percorre as principais regiões produtoras.
Como vimos na edição passada, os resultados da cana-de-açúcar estão bem melhores quando comparados aos da laranja e explicam em certa medida a migração para essa cultura que vem ocorrendo em São Paulo.
Segundo informações do projeto Canasat, do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), a área cultivada com a cultura em São Paulo cresceu de 3,0 milhões de hectares em 2003/04 para 5,4 milhões de hectares em 2011/12, avanço de 79,9%.
Este cenário tem gerado discussões na cadeia da laranja.
De um lado a indústria, que produz aproximadamente 50,0% da produção da laranja, pressionando os preços no mercado interno. Do outro, os produtores independentes, que se sentem prejudicados com a concentração do setor e imposição de preços pela indústria.
Um dos fatores que prejudicou os produtores independentes foi a indústria ter liberado lentamente a colheita da laranja, o que fez com que houvesse perdas ao redor de 15,0% em função da queda de frutas.
A política do preço mínimo, estabelecida pelo Governo Federal em 2011, não trouxe o alívio necessário para o setor.
Em muitos casos, os R$10,00 por caixa mais o bônus de R$0,50 estabelecido pelo governo, acabou sendo o preço máximo e não o mínimo.
Perspectivas para 2012/2013
No início de maio, a CitrusBR divulgou a primeira estimativa da safra de laranja 2012/13.
Considerando-se os pomares de São Paulo e do Triângulo Mineiro, a estimativa aponta para uma produção de 364 milhões de caixas de 40,8 kg, volume 15% menor que o estimado para a safra 2011/12 (428 milhões de caixas).
Para a temporada 2012/13, não existe previsão de início do processamento da laranja. Quase a totalidade dos citricultores ainda está sem contratos.
Fica a expectativa de como a demanda das indústrias se comportará, já que os estoques estão elevados e as perspectivas de exportação não são animadoras.
Segundo informações do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/USP), ainda que não tenham sido divulgados preços para a safra, as indústrias estariam negociando uma prorrogação da Linha Especial de Crédito (LEC) adotada na temporada 2011/12.
O setor deve ficar atento, também, ao volume de laranja que o mercado interno absorverá. Em 2011/12, a elevada oferta de laranja de mesa derrubou as cotações neste segmento.
*publicado na revista Agroanalysis, volume 32, nº 07, julho 2012.