Scot Consultoria
www.scotconsultoria.com.br

Relatório do Meat & Livestock Australia (MLA) para o ano fiscal 2010/2011

por Jéssyca Guerra
Terça-feira, 13 de dezembro de 2011 -15h04
1. O que é o MLA?

O MLA é uma empresa privada que faz análises de demanda, produção, produtividade e dá credibilidade à indústria da carne vermelha australiana através de marketing e pesquisas em parceria com a indústria e com o governo.

2. Relatório do presidente

No relatório do ano fiscal 2010/11 (julho de 2010 a junho de 2011), o presidente do MLA cita que as situações climáticas desfavoráveis e a instabilidade financeira global afetaram a Austrália em 2010.

A Austrália passou por ondas de calor com temperaturas superiores a 40º C e incêndios em 2009, sendo que as principais regiões afetadas estão no Sudeste do país. Logo após, no verão de 2011, ocorreram precipitações pluviométricas acima do normal, o que ocasionou enchentes, com destaque para o estado de Queensland, no Noroeste do país.

É preciso considerar também o tsunami que atingiu o Japão em 2011. O país absorve através da importação, 23,0% da produção de carne australiana.

O cenário foi de incertezas com relação à economia na Europa e nos Estados Unidos.

Entretanto no final de 2010 e começo de 2011 as chuvas tornaram-se freqüentes, com exceção do Sudeste australiano, o que deu a chance dos pecuaristas se recuperarem.

Produção australiana de carne

Na temporada 2010/11 a produção australiana foi de 2,1 milhões de toneladas equivalente carcaça de carne bovina, 391,3 mil toneladas equivalente carcaça de carne de cordeiro e 27,7 mil toneladas equivalente carcaça de carne de caprinos.

A produção brasileira de carne bovina estimada pela Scot Consultoria para 2011 é de 9,3 milhões de toneladas equivalente carcaça, ou 343,8% maior que a produção australiana.

A produção de carne de cordeiro e de caprinos no Brasil é em grande parte informal, o que faz com que estimativas nesses setores não tenham tanta precisão. Estimam-se ao redor de 6,2 mil toneladas de carne de cordeiro, não alcançando nem 2% da produção australiana. A carne de caprino é pouco comercializada, representando menos de 0,5% da produção australiana.


Estimulada pelas condições climáticas favoráveis no terceiro trimestre, as exportações australianas de carne bovina subiram 4,1% no ano fiscal 2010-11 em relação ao ano anterior, atingindo 937,3 mil toneladas equivalente carcaça e as exportações de carne ovina declinaram 9,0% para 242,7 mil toneladas equivalente carcaça.

O volume de carne bovina exportado pelo Brasil no período foi de 1,8 milhão de toneladas equivalente carcaça, 92,0% mais que a Austrália. Quanto a carne ovina, o volume importado pelo Brasil é maior do que as exportações, não competindo com a Austrália neste mercado.

Essa demanda internacional foi sustentada pelos mercados emergentes em todo o Sul e Leste da Ásia, China, Oriente Médio e Rússia, que representaram mais de 30% dos embarques totais de carne bovina no ano. Figura 1.



Na figura 2 têm-se os embarques brasileiros de carne bovina e assim pode-se comparar com os embarques australianos. Nota-se que os mercados em que a Austrália mais atua (Japão, Estados Unidos e Canadá) representam apenas 1% das exportações brasileiras.

O mercado em que a Austrália mais concorre com o Brasil é a Ásia, representando 14,5% das exportações australianas (4o. maior mercado) e 14,8% das exportações brasileiras (4o. maior mercado).

Os mercados para os quais o Brasil mais exporta são Rússia/União Européia e Oriente Médio que também são mercados onde a Austrália atua. São mercados onde o Brasil precisa preservar.




No mercado interno, mais de 742,2 mil toneladas equivalente carcaça de carne bovina e
203,5 mil toneladas equivalente carcaça de carne de cordeiro foram consumidas durante
o período analisado. Isto significa uma redução de 3,4% e 8,3%, respectivamente, em relação ao ano fiscal anterior.

Este fato é reflexo do equilíbrio entre a oferta e a demanda, com a demanda através da exportação
tomando uma proporção maior da produção, deixando menos carne para consumo no mercado interno.

A crise na Indonésia foi um ponto que trouxe problemas para as indústrias australianas.

Em 31 de maio de 2011 a Austrália proibiu a exportação de gado em pé para a Indonésia, em função de um documentário que mostrava os animais sendo maltratados. O comércio de gado vivo com a Indonésia, cujo valor é de US$320,0 milhões anuais, foi cancelado temporariamente. O MLA disponibilizou US$9,5 milhões para um plano de bem-estar animal e foi progressivamente restabelecendo o comércio com o país.

3. Relatório do Diretor Geral

O Diretor Geral destaca o forte incremento nas exportações australianas para a Coréia, cujo faturamento foi de US$715,0 milhões no ano fiscal 2010/11, mesmo com uma investida agressiva dos Estados Unidos neste mercado.

O novo programa de marketing do MLA intitulado "Nada supera a carne” foi lançado em outubro de 2010, atingindo mais de 14,6 mil australianos. Neste período houve um aumento de 12,0% nas vendas de carnes nobres e 6,0% em todas as refeições de carne/vitelo servidas.

Este ano foi lançado no Brasil a Campanha Sou Agro, onde diversas empresas, entidades representativas do agronegócio brasileiro e produtores rurais se uniram em uma iniciativa de esclarecer e reduzir o descompasso entre a realidade do campo e as percepções equivocadas sobre o universo agrícola.

Entretanto, falta um órgão que promova a carne vermelha brasileira, como o MLA faz na Austrália.

Enquanto isso, o programa “Masterpieces” ensinou cerca de 400 chefs e representantes de foodservice maneiras criativas de usar cortes não tradicionais de carne bovina e de cordeiro.

O diretor cita também programas que vêm sendo desenvolvidos na área de genética, principalmente com a raça Angus.

4. MLA em números – 2010/11

• US$167,4 milhões de receita total;
• US$90,4 milhões investidos em programas de marketing;
• US$76,1 milhões investidos em pesquisa e programas de desenvolvimento;
• US$900 mil excedentes;
• 47.556 produtores associados.

Os cinco imperativos estratégicos do MLA são:

• Melhorar o acesso ao mercado;
• Demanda crescente;
• Aumentar a produtividade em toda a cadeia de suprimentos;
• Promover a integridade da indústria e sustentabilidade;
• Capacitar melhor a indústria e as pessoas.

Principais realizações:

• Campanhas de marketing apoiando a indústria no aumento de exportações de carne bovina para a Coréia em face da concorrência agressiva dos Estados Unidos;

Meat Standards Australia (MSA - programa de qualidade da carne) atingiu 1,42 milhões de bovinos e 870,5 mil ovelhas classificadas;

• O programa “Masterpieces” aumentou significativamente as vendas de cortes não-tradicionais de carne bovina entre os participantes;

• Liberação comercial do programa “BREEDPLAN” de melhoramento genético incorporando medidas genômicas;

• Investimento em Centros Cooperativos de Pesquisas Invasivas em Animais para produzir novos controles em suínos e cães;

• 1.500 produtores de cordeiro participaram de fóruns “É a hora da ovelha” e 72% pretendem fazer mudanças nos seus negócios;

• Ensaios de sucesso de HookAssist, uma nova tecnologia para facilitar o manuseio da carcaça de carne bovina.

Áreas que requerem mais atenção:

• Apoiar os exportadores e importadores de gado para fornecer garantia de bem-estar animal atendendo aos padrões internacionais;

• Aumentar a transparência e comunicação em torno de pesquisa e desenvolvimento de projetos;

• Maior visibilidade da marca MSA que sustentam marcas de varejo no ponto de venda.

Fonte: MLA – Annual report 2010/11.

Traduzido, adaptado e comentado por Jéssyca Guerra, zootecnista e analista júnior da Scot Consultoria.