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Política no campo

por Alma
Quarta-feira, 4 de novembro de 2009 -17h54


Um pré-candidato a deputado federal veio pedir apoio político a uma amiga, produtora rural. Que me pediu conselhos para condicionar o seu apoio.
Aí vão algumas coisinhas que um político deve saber para defender o homem do campo:


Não pode existir uma diferença entre agricultura familiar e agronegócio. O que existe é um só setor e uma só classe, a de produtores rurais, divididos em grandes médios e pequenos;

Este setor é responsável por um terço do PIB e dos empregos do país. Quando se luta pelos interesses do campo não se está defendendo "os fazendeiros", os "ruralistas", está se defendendo o interesse e a economia do Brasil;

Um produtor que sustenta sua família com agricultura pratica agricultura familiar, não interessando se ele é grande, médio ou pequeno. Como existem indústrias e comércios familiares, que vão da quitanda do japonês da esquina até a rede Pão de Açúcar dos Diniz, a Votorantim do Ermírio de Moraes, a siderurgia dos Gerdau e etc. Existem agricultores familiares que trabalham com tabaco no RS, com suinocultura em SC, com fruticultura no vale do São Francisco, e com pecuária no MS, em GO, ou em MG. O importante é que a renda gerada por aquela propriedade sustente dignamente uma família, e se possível gere renda a outras famílias também;

É mentira que o agronegócio gere concentração fundiária e desemprego por exemplo. No último censo agropecuário do Estado de São Paulo, que tem a agricultura mais tecnificada do país, verificou-se que o tamanho médio das propriedades diminuiu. E isso com toda aquela cana, laranja e reflorestamentos. Os empregos que são eliminados no campo com a monocultura e a tecnificação são criados nas cidades com a instalação de agroindústrias de suco, de papel e celulose, de usinas, de laticínios, de frigoríficos e etc;

Quanto menor a propriedade obviamente mais necessário se faz o uso da técnica agronômica e zootécnica para um bom desempenho de produtividade, e maior precisa ser a capacidade de organização na hora de conseguir crédito, na compra de insumos e na comercialização de produtos. Isso pode ser alcançado por exemplo com o cooperativismo (como alguém com 20ha pode ter um trator por exemplo sem inviabilizar financeiramente a propriedade?). É nessa hora que o estado deve desempenhar sua função através dos programas de extensão rural;

A agricultura familiar no entendimento do atual governo e do programa de reforma agrária no entanto é incapaz de gerar renda, o que a recente pesquisa da CNA comprova. Pela pesquisa da CNA, 46% dos beneficiados com o Programa da Reforma Agrária já vendeu suas terras (o que é ilegal diga-se de passagem), 37% não produz rigorosamente nada, 10% não produzem o suficiente nem para a família e 24% produzem o suficiente só para a família. Ou seja, em vez de gerar um benefício para a comunidade e para a economia do país, gera-se um gasto extra que em vez de dar independência econômica a uma família cria uma legião de estado-dependentes, gente que para viver precisa de auxílio contínuo do Estado;

É preciso entender que o setor da agropecuária é um setor da economia igual aos outros, como é a indústria, como é o comércio. Os índices de produtividade que visam a desapropriação de imóveis rurais são uma obscenidade ideológica. Imaginem por exemplo que seja proposto um índice de produtividade para a indústria de calçados. A que não produzir um determinado número de pares de calçado por ano poderá ser desapropriada e destinada as militantes do Movimento dos Sem-Indústria. A idéia é tão absurda que ninguém nunca cogitou implantar uma coisa dessas. E no campo no entanto essa idéia perdura, com um atraso de uns 200 anos pois é do tempo em que a terra era a única fonte de geração de riquezas;

A revisão dos índices de produtividade vai servir só como ferramenta para que um movimento criminoso como o MST ganhe passe livre para invadir onde bem entender.
Por mais que uma fazenda seja mal cuidada ou que produza muito pouco, o dono dela emprega pelo menos duas ou três pessoas. Tem um filho em escola particular na cidade, usa uma Unimed, gera um excedente que mesmo pequeno vai gerar ICMS para o município. Se nessa fazenda faz-se um assentamento de reforma agrária, além de não gerar mais nada vai dar prejuízo em forma de bolsa-família, cesta básica, transporte grátis e ainda demanda a instalação de redes delétricas, de água e esgoto em zonas rurais quando nem nas cidades estes serviços estão disponíveis a toda a população urbana. Nesse sentido, a reforma agrária deve ser feita em terras realmente improdutivas, que devem ser dadas não a assentados mas vendidas a pessoas com vocação agrícola por programas que facilitem o acesso à terra;

Em resumo, o papel do Estado no campo:
- facilitar o acesso a terra a quem realmente tem vocação agrícola
- extinguir os índices de produtividade para o setor agrícola
- incentivar programas de extensão rural que viabilizem a pequena propriedade
- incentivar a agroindústria
- melhorar a infraestrutura em núcleos urbanos do interior, diminuindo o inchaço das grandes capitais