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Chorume na fertilização de pastagens - parte II dosagens recomendadas

Quinta-feira, 25 de setembro de 2008 -19h05
A adubação orgânica compreende o uso de resíduos orgânicos de origem animal, vegetal, agroindustrial e outros com a finalidade de aumentar a produtividade das culturas.

Como mencionado na primeira parte desse artigo, publicado na edição 126 do informativo A Nata do Leite, o dejeto tem um efeito direto e indireto na produção das culturas e das pastagens.

O efeito direto depende da quantidade de nutrientes contidos nele e da quantidade de fertilizantes minerais que podem ser substituídos pelo mesmo. O efeito indireto do dejeto é sua ação benéfica nas propriedades físicas e químicas do solo e intensificação da atividade microbiana e enzimática.

Estes resíduos quando corretamente manejados e utilizados, poderão garantir a sustentação da produção de forragens, tanto nas pastagens como em forragens conservadas, pela substituição de grande parte dos fertilizantes químicos.

No entanto, visando amenizar possíveis transtornos ambientais, recomenda-se fazer análise dos dejetos antes da aplicação destes no solo, a fim de verificar sua composição em nutrientes, principalmente NPK, e que juntamente com análise prévia do solo, seria possível estimar a taxa de aplicação destes dejetos, que, por exemplo, em solos de cerrado, variaria de 45 a 180 m3/ha/ano, devendo ser divididos em pelo menos duas aplicações, as quais poderiam suprir total ou parcialmente as exigências nutricionais de culturas anuais ou perenes e de plantas forrageiras.

Para melhorar a eficiência na utilização de dejetos, a recomendação é a de que os mesmos sejam submetidos, pelo menos, a algum tipo de tratamento primário (lagoas anaeróbias e aeróbias, compostagem ou esterqueiras), antes de serem reaproveitados. O tratamento primário melhora a qualidade do material como fertilizante.

DOSAGENS

O dejeto de suíno pode ser considerado um excelente fertilizante orgânico pois possui quantidades de macronutrientes e presença de micronutrientes. Utilizou-se 3 dosagens exclusivas de dejetos de suínos líquidos (60, 120 e 240 m3 por hectare), uma dosagem organomineral (com 120 m3 de dejeto + 30 Kg de N, 30 kg de P2O5 e 30 kg de K2O de fertilizante mineral), uma adubação mineral (60 Kg de N, 90 kg de P2O5 e 100 kg de K2O) e a testemunha (sem adubação).

Após aplicação do dejeto de suíno na pastagem degradada observou-se as alterações quanto ao aumento de produtividade de matéria seca e características químicas bromatológicas. Conclui-se que o dejeto de suíno, mesmo na menor dosagem aplicada (60 m3 por hectare), substitui totalmente a adubação mineral (Silva et al., 2001).

As doses econômicas de dejetos de suínos para produção de milho em solos de cerrado em plantio convencional têm variado de 45 a 90 m3/ha e, para solos sob plantio direto, de 50 a 100 m3/ha. Os estudos também mostraram que essas doses deveriam ser aplicadas anualmente, devido ao baixo efeito residual do chorume, ano após ano.

No caso do esterco de bovino acredita-se que as doses possam ser um pouco mais elevadas, devido às diferenças de composição entre os dejetos de suínos e bovinos. Sabe-se dos efeitos benéficos da utilização desses dejetos para o solo, pois trata-se de uma maneira tecnicamente e ambientalmente correta, no entanto, faltam estudos para melhor definição de doses (Konzen, 2000).

Em sistemas de confinamento de bovinos leiteiros em baias coletivas (“loose housing”), com utilização de camas, ou de gado de corte a céu aberto, a primeira opção mais econômica, quando possível, será distribuir o esterco diretamente nas áreas de cultivo, sem qualquer tratamento prévio, e em seguida incorporá-lo ao solo por meio de aração ou gradagem e deixar que a microbiologia do solo se encarregue de oxidar e mineralizar a matéria orgânica. Esta operação deverá ser feita pelo menos 30 a 60 dias antes de qualquer plantio. * A dosagem recomendada para aplicação em área total varia de acordo com a disponibilidade, facilidade de aplicação, fertilidade do solo e o tipo de cultura, porém dosagens de 20 a 40 toneladas/ha são tecnicamente permitidas para esterco e compostos orgânicos.

Para melhorar a eficiência na utilização de dejetos, a recomendação é a de que os mesmos sejam submetidos, pelo menos, a algum tipo de tratamento primário (lagoas anaeróbias e aeróbias, compostagem ou esterqueiras), antes de serem reaproveitados. O tratamento primário melhora a qualidade do material como fertilizante.

O uso de dejetos como adubo supre até 70% da necessidade de aplicação de fertilizantes, conforme a cultura. Os dejetos devem ser aproveitados, pois ajudam a reduzir custos de produção.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O uso de dejetos como adubo supre até 70% da necessidade de aplicação de fertilizantes, conforme a cultura. Os dejetos devem ser aproveitados, pois ajudam a reduzir custos de produção.

O biofertilizante pode substituir a adubação química em 50% a 70%. Em alguns casos, a substituição chega a 100%, principalmente em áreas de pastagem e das culturas de milho, soja e café, pois são as que mais correspondem à adubação proveniente de dejetos animais.

Com o uso racional de dejetos na adubação de pastagens, a capacidade de suporte aumentou de 1,2 animais por hectare para mais de 8 animais/hectare e, houve, ainda, economia de 85% no uso de fertilizantes químicos. Já, na cultura do milho, a adubação com biofertilizantes alcançou produtividade de até 8.440 quilos/ha, bem maior que a média nacional de 3.210 quilos/ha. Para a soja, não foi diferente, o índice foi de 3.530 quilos/ha, enquanto a produtividade média foi de 2.403 quilos/ha, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), na safra 2005/2006.

Vale ressaltar que, os custos com transporte e mão-de-obra para aplicação desses dejetos têm levado a se buscarem alternativas mais econômicas, como a aplicação via sistema de irrigação, pois, dependendo de sua origem, o resíduo animal pode conter 60% a 98% de líquido.

O manejo sustentável de dejetos animais, além de diminuir o impacto ambiental - no ar, na água e no solo -, pode ser uma opção economicamente interessante para o produtor. Normalmente utilizados como fertilizantes, esses resíduos têm eficiência comprovada, mas não devem ser jogados de maneira indiscriminada no ambiente.


ricardo dias signoretti é engenheiro agrônomo, doutor em produção animal, pesquisador científico/ apta colina-sp e consultor da coan consultoria.