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O difícil acesso ao crédito de investimento

por Equipe Scot Consultoria
Quarta-feira, 13 de abril de 2011 -10h05
De R$10 bilhões disponíveis para compra de máquinas e equipamentos, só 40% foram contratados

Anunciado em junho do ano passado, o Plano Agrícola e Pecuário 2010/2011 destinou R$116 bilhões para operações de crédito rural. Em relação ao ciclo 2003/2004 (R$32,6 bilhões), o volume de recursos praticamente quadruplicou. O que chama a atenção, porém, segundo levantamento da Scot Consultoria, é que parte do crédito que poderia ser usada pelos produtores não sai do banco, sobretudo em relação ao crédito voltado a investimentos.

No Plano Agrícola e Pecuário 2009/2010, enquanto o volume de crédito contratado para custeio e comercialização (R$64,8 bilhões) chegou a 98% do total de R$62,2 bilhões disponíveis, o volume contratado para investimentos não chegou a 40% do disponível. De R$10 bilhões, foram tomados R$3,6 bilhões. “O produtor dá prioridade ao crédito de custeio e comercialização, tanto que a média de crédito contratado para investimento nas últimas seis safras é de 48%”, diz o consultor da Scot, Rafael Ribeiro de Lima Filho. No Moderfrota, que financia tratores e implementos, dos R$2 bilhões disponíveis em 2009/2010, só 10% foram contratados.

“O dinheiro existe, mas as exigências são muitas. O produtor esbarra na burocracia”, diz o consultor. Outros motivos têm relação com a falta de conhecimento do agricultor sobre as linhas de financiamento e com a falta de preparo dos bancos. A burocracia faz também o agricultor recorrer às tradings, que trocam insumos por produto a juros bem maiores se comparados com os do crédito oficial. "Hoje as tradings representam 50% de todo o financiamento agrícola e pecuário do País, mesmo cobrando juros de 15% a 25% ao ano. O agricultor opta por pagar mais porque é mais fácil se entender com a trading do que com o banco”, diz.

Demora. Em Bragança Paulista (SP), o agricultor Hélio Júnior Lustosa de Oliveira diz que quase desistiu de financiar um trator novo, de 75 cavalos. Com grade aradora, roçadeira e subsolador, o trator sairia por R$73 mil, para pagar em nove anos, com um ano de carência e juros de 3% ao ano. “Era para o dinheiro sair em um mês, mas a liberação demorou quase oito meses. Cada hora o banco alegava um motivo. Procurei a Cati e o dinheiro acabou saindo.”

Já o crédito para custear um plantio de minitomates em estufa saiu rápido. Oliveira tomou R$ 16 mil para pagar em um ano, a juros anuais de 3%. “Procurei a Casa de Agricultura para conseguir a Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP) e fui ao banco. Em 15 dias o dinheiro saiu”, diz.

“Do lado dos bancos, é preciso lembrar que cada agência trabalha conforme a demanda. Numa cidade grande, pode haver essa falha de atendimento ao agricultor, mas se a cidade tem vocação agropecuária o banco é preparado para oferecer um cardápio de produtos para a região”, diz o diretor adjunto de Produtos e Financiamentos da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Ademiro Vian.

O pecuarista Marcelo Pimenta Mascarenhas, de Minas, diz que, nas agências das capitais, a falta de familiaridade com o agricultor é grande. “Para lidar com o agricultor é preciso conhecimento e boa vontade. Nas capitais, os gerentes não têm o costume de lidar com agricultores.”

“Recursos para o crédito existem, mas pode ser que haja dificuldade em acessar o dinheiro. Temos de investigar por que o produtor não procura o banco”, diz o gerente executivo da diretoria de Agronegócios do Banco do Brasil, Álvaro Schwerz Tosetto.

Maior operador de crédito rural do País, o Banco do Brasil desembolsou, até dezembro do ano passado, R$22,1 bilhões, 13,7% a mais em relação ao mesmo período anterior. O desembolso projetado para a safra 2010/2011 é de R$41,9 bilhões. “Pelo desempenho verificado até dezembro de 2010, 52,8% do total projetado já foi desembolsado.” Segundo ele, o crédito projetado para custeio é de R$25,4 bilhões.

O produtor João Batista Gritti, de Tuiuti (SP), aconselha os interessados a planejar bem. “Senão, o produtor se afunda em dívidas e aí sim tem o acesso ao crédito bloqueado.”

Vacas. Há cinco anos, Gritti financiou a aquisição de 30 vacas no valor de R$35 mil, para pagamento em cinco anos e juros de 7,25%. “Paguei, por ano, R$7.500, por causa do juro alto. Mesmo assim foi vantajoso, porque consegui elevar a produção de leite. Mas tive que me programar para não me endividar.” Produtor de frango e de hortaliças, Gritti reservou parte do rendimento das outras atividades para quitar o financiamento. Com muito planejamento, financiou dois tratores usados, um de R$20 mil e outro de R$30 mil. “Vou pagar um em cinco anos e o outro em seis anos, com juros de 5% e 4,5%.”

Serviço estadual

Nas Casas de Agricultura, o produtor pode se informar a respeito do crédito rural e obter o DAP. Se não houver casa da agricultura no município, o interessado pode ir à cidade vizinha. Em 2010, a Cati emitiu 13.664 DAPs, cuja validade é de seis anos.


Recursos

R$116 bilhões é o valor destinado ao crédito rural no Plano Agrícola e Pecuário 2010/11

50% é o quanto as tradings representam de todo o financiamento rural do País

Agilidade

As cooperativas de crédito dão mais agilidade à tomada de crédito. Na Credicitrus, a maior do gênero do País, o volume de operações somou R$739 milhões em 2010.

Planejamento

JOÃO GRITTI
PRODUTOR DE TUIUTI (SP)


“Para tomar crédito é preciso se programar. Senão, o produtor se afunda em dívidas e aí sim tem o acesso ao crédito bloqueado.”

Burocracia

HÉLIO LUSTOSA
PRODUTOR DE BRAGANÇA PAULISTA (SP)


“Quase desisti de financiar um trator. O que era para sair em um mês levou oito meses. Cada hora o banco dava uma desculpa.”

Fonte: O Estado de São Paulo. Economia. Por Fernanda Yoneya. 13 de abril de 2011.