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Com exportação baixa, preço do boi despenca na entressafra

por Equipe Scot Consultoria
Quinta-feira, 27 de agosto de 2009 -10h50
Adentrando o segundo semestre com as vendas externas limitadas, o mercado de carne bovina segue em ritmo lento e com a cotação em queda em plena entressafra. Nessa mesma época no ano passado, os preços negociados em São Paulo estavam cerca de 15% maiores. Este ano, a média mensal de agosto é de R$78,20 a arroba (preço nominal onde a inflação já está descontada). Em agosto de 2008, a média foi de R$92,05 a arroba.

De acordo com Shirley Martins Menezes, pesquisadora do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), este ano está sendo bastante atípico, com diversos fatores, dentre eles os climáticos e os econômicos, interferindo nos volumes de oferta e de demanda. “Por causa disso, estamos percebendo frequentes oscilações nos preços e as médias diárias refletem um mercado pontual”, disse Menezes.

Segundo pesquisas do Cepea, a forte cautela compradora soma-se à baixa oferta de animais prontos para abate, levando a um ritmo lento de comercialização. “De modo geral, compradores e vendedores trabalham com muita cautela. Produtores têm se mostrado bastante insatisfeitos com o cenário atual, tanto que estão com baixo interesse na reposição”, completou Menezes.

De acordo com Fabiano Tito Rosa, analista da Scot Consultoria, em São Paulo já existem alguns frigoríficos ofertando, de balcão, R$74 a arroba, a prazo, livre de Funrural, pelo boi gordo. “Se esse fosse o preço-referência (e vale destacar que não é), o mercado retornaria aos patamares do final de fevereiro de 2008. Lembrando que, ao menos no calendário, estamos na entressafra de 2009”, disse. Rosa destacou, no entanto, que em algumas praças, como Sul de Goiás e Tocantins, o mercado dá sinais de ter encontrado piso, tendo sido registradas correções positivas.

Segundo agentes do mercado, a oferta está curta desde o início do ano, mas devido à forte queda nas exportações as indústrias estão comprando apenas o suficiente para preencher as escalas de abate, pressionando os preços.

Nem mesmo a retomada de algumas plantas está sendo capaz de estimular compras maiores e de longo prazo. O mercado permanece cauteloso já que muitas empresas em recuperação judicial seguem em situação indefinida ou com dificuldade para retomar as operações.

Uma medida que vem sendo tomada pelo Frigorífico Independência, para solucionar o problema de endividamento junto aos antigos fornecedores, está gerando grande contrariedade entre os pecuaristas. A empresa estaria apresentando uma procuração aos credores que, caso seja assinada, daria ao frigorífico o poder de representá-los na assembleia que votará o plano de recuperação judicial da companhia. Em contrapartida, o pecuarista receberia o valor de direito pago pelo frigorífico. A proposta foi considerada revoltante pela Associação dos Criadores do Mato Grosso (Acrimat). “A Acrimat está atenta a essa cooptação por parte do Independência e a ilegalidade da ação. Vamos às últimas consequências para barrar essas ações”, disse Armando Biancardini Candia, assessor jurídico da Acrimat. Ele falou que “se preciso for vamos conversar com a Magistrada Adriana Nolasco da Silva, responsável pelo processo, como fizemos em abril quando constatamos que não havia pedido formal de recuperação judicial por parte do frigorífico até aquela data”.

Pela proposta do Independência seriam pagos aos credores R$100 mil, na primeira parcela e o saldo em até 36 vezes, com parcela mínima de R$1 mil até que a dívida seja liquidada. Luciano Vacari, superintendente da Acrimat, ressalta que o pecuarista deve ficar atento a “esse tipo de manobra, pois a proposta é tentadora, já que 80% dos credores do setor receberiam seu crédito”.

Ontem, credores do Independência em Mato Grosso se reuniram na sede da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado (Famato) para discutir a legalidade do procedimento adotado pela empresa. Antes da reunião a diretoria da entidade já havia sinalizado ser contrária ao acordo.

Produtores de Goiás se reuniram na terça-feira para definir um posicionamento em relação ao plano de recuperação do frigorífico. Segundo a Federação de Agricultura e Pecuária do Estado de Goiás (Faeg), dos 31 credores presentes na reunião, cinco não foram sondados pela empresa.

Fonte: Jornal DCI. Por Priscila Machado. 27 de agosto de 2009.