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Mais cautela para confinar

por Equipe Scot Consultoria
Segunda-feira, 8 de junho de 2009 -18h17
A primeira pesquisa de intenção de confinamento, realizada pela Associação Nacional de Confinadores (Assocon) e divulgada no início do mês de abril, revela que o número de animais produzidos pelos sócios da entidade pode ser 5,7% superior ao registrado no ano passado.

Esse levantamento foi feito durante o primeiro trimestre de 2009 com 47 dos 53 associados, distribuídos por Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná e São Paulo. Esses pecuaristas afirmaram que, a partir deste mês, confinarão mais de 498 mil animais. Tais números mostram uma mudança de cenário pois, de janeiro a março, a posição da Assocon era de grande preocupação com o desenvolvimento da atividade.

Uma combinação de fatores colocou a direção da entidade em estado de alerta, refletindo o sentimento de seus associados. O problema começou com a crise financeira internacional, que acarretou a redução de créditos e recursos. “O confinamento de bois estava sendo visto como uma oportunidade de investimentos, inclusive com momento para começar e terminar, como qualquer outra aplicação”, explica o diretor executivo da Assocon, Juan Lebrón.

Diante dessa retração, a entidade chegou a divulgar, no início do ano, a possibilidade de redução de 20% nos confinamentos. Vieram ainda outros problemas. A elevação da cotação de boi magro, que representa 70% do custo desse sistema produtivo, foi um deles. E pesou tanto que os pecuaristas praticamente nem sentiram a redução nos preços de outros insumos. É claro que, sem essa queda, o panorama seria ainda pior. Por fim, veio a situação caótica da indústria frigorífica, culminando com a interrupção de várias plantas, como foi o caso do Independência Alimentos, que ocupava a quinta posição entre as empresas do segmento. “Quando chega a esse ponto, é muito perigoso. Há municípios que vivem em função dessas unidades e outros que não terão para quem vender seus bois", analisa Lebrón.

Para o dirigente, os riscos podem ser bem maiores do que parecem pela falta de confiança que passa a rondar a cadeia produtiva de carne bovina, além da possibilidade de surgir uma crise social. Em relação às conseqüências, Lebrón cita como exemplo o setor de transportes: “Imagine o que significa mil bois que simplesmente deixaram de ser carregados pelos caminhões”.

Orientação - Cumprindo o papel de assistir seus associados, a entidade criou uma cartilha para ajudar os pecuaristas a fazerem uma comercialização segura de seus animais. Entre as medidas preventivas sugere, por exemplo, que a venda dos bois seja feita exclusivamente com pagamento à vista e que a negociação não seja baseada apenas no preço oferecido pelo frigorífico.

Lebrón comenta que a meta foi reforçar as informações aos associados que, segundo ele, são profissionais do confinamento. No geral, já conhecem bem sua atividade, estão capitalizados e têm escala. “Podem estar apertados, mas com grande volume é diferente”, explica. A maioria também faz o ciclo completo, com cria, recria e engorda, o que ajuda aliviar o peso da reposição.

Quanto mais informações, melhores são as condições para os produtores tomarem decisões acertadas em relação aos investimentos e às definições de manejo. E foi com o intuito de atender a essa demanda que as empresas de consultoria Coan e Scot promoveram IV Encontro Confinamento: Gestão Técnica e Econômica, realizado entre os dias 11 e 13 de março, na Unesp Jaboticabal (SP).

Segundo os organizadores, mais de 300 pessoas acompanharam a programação. “O evento funcionou para fecharmos as possibilidades de erros e garantirmos que os confinadores obtenham sucesso prático e econômico”, afirma Alcides Torres, engenheiro agrônomo e diretor da Scot Consultoria.

Torres conta que o objetivo desse encontro é casar as possibilidades de aplicação da técnica agronômica com as informações de mercado. E acredita que este é um momento bastante oportuno para investir no confinamento, “exatamente quando todos estão imobilizados pelo medo”. Para o agrônomo, é importante ter muita atenção com o que acontece agora, mas sem deixar de olhar para as oportunidades futuras. “Além do mercado interno para ser atendido, temos o externo, que é carente de fornecedores de carne bovina. O Brasil também deveria aproveitar espaços deixados por concorrentes como a Argentina, que passa por uma crise econômica interna agravada pela mundial”.

Uma forma de estar mais bem preparado para tais oportunidades, e de maneira permanente, é a aplicação do confinamento estratégico, como sugere o zootecnista e diretor técnico da Coan Consultoria, Rogério Coan. Por meio dessa metodologia, o pecuarista busca a melhor relação custo-beneficio, ou seja, o máximo aproveitamento com custo mínimo.

O sucesso desse manejo depende do eficiente controle do peso dos animais à entrada no confinamento e, por consequência, do trato enquanto estiverem no pasto. A necessidade de administrar bem os números da fazenda - custos, investimentos, cotações e índices produtivos - tem aumentado a demanda pelo atendimento de consultorias.

O diretor da Coan conta que a empresa vem recebendo cada vez mais solicitações de projetos e reuniões com investidores de pequeno, médio e grande porte. O atual momento financeiro do mundo contribui para este quadro. “Os pecuaristas estão mais cautelosos, diante do cenário proporcionado pela crise econômica internacional, que interfere nas exportações e no consumo interno de carne bovina”, acrescenta.

Ainda sobre a soma eventos e informações, está confirmada a realização da segunda Conferência Internacional de Confinadores, a Interconf, que acontecerá entre os dias 15 e 17 de setembro, em Goiânia (GO). A realização é da Assocon.

Planejamento e ação – “Não é complicado visualizar o mercado uns três anos à frente, mas o pecuarista já enxergou muita coisa que não se concretizou como esperava”. O comentário de Lebron, da Assocon, mostra que, por muitas vezes, o produtor até se programa, se dedica ao planejamento e, mesmo assim, é surpreendido. Em grande parte das vezes, porque alguém mudou as regras do jogo, e com o jogo em andamento. “Se depender apenas de si próprio, o pecuarista sabe qual é seu mercado, a demanda e o custo”, acrescenta.

Para o executivo, o que faz diferença, no momento, é estar - ou não - na lista de fazendas credenciadas a exportar para a União Europeia. E se diz cético em relação as esperanças de aumentar o número de propriedades nessa lista. No entanto, não descarta a possibilidade de surgirem ações que possam alterar a situação. “O discurso que ouvi do Inácio Kroetz (secretario de Defesa Agropecuária do Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento), em Campo Grande (MS), foi interessante.
Há conversas de ações concretas, por parte do governo federal, no sentido de simplificar uma série de situações burocráticas. A mudança de postura é positiva”.

Lebrón comenta, ainda, que o problema maior está na comercialização, pois, no que diz respeito à produção, o Brasil é superior a todos os outros países confinadores.

“Nossa imagem é positiva lá fora, porque a produção intensiva em uma área específica já é uma garantia de que não é preciso desmatar”, explica. As questões que ainda precisam ser superadas são a sanitária, que tem na febre aftosa seu principal entrave, e a conscientização classista do produtor. “Quando se trata de carne, na Austrália, é uma prioridade nacional. Há consciência da importância do setor e todos se envolvem. No Brasil, o trabalho é individualizado”, lamenta.

Fonte: Revista Terra Viva. Maio de 2009.