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Preço alto provoca volta do leiteiro de porta em porta

por Equipe Scot Consultoria
Quarta-feira, 1 de julho de 2009 -15h58
Preço do longa-vida bate recorde e estimula os fazendeiros a venderem o produto diretamente ao consumidor final

O preço do leite longa vida atingiu seu recorde histórico. Nos supermercados, o litro é encontrado por até R$2,98, reajuste de 70% em relação ao preço médio praticado em junho do ano passado. A disparada do alimento básico já foi sentida no bolso das famílias: nos últimos 30 dias, o consumo do produto nos supermercados caiu 15%. Por outro lado, o pico da entressafra, que reduz o pasto e a oferta do alimento, está aquecendo pequenos negócios, como a venda de porta em porta. Entregue em domicílio por até R$1,50 o litro, o produto in natura cresce na preferência do consumidor. Pequenos comerciantes já registram aquecimento de até 30% na demanda pelo alimento da fazenda.

A justificativa para a alta do preço é a produção menor, devido à estiagem que caracteriza os meses de junho e julho. Segundo dados da Scot Consultoria, em Minas Gerais, onde é produzido um terço do leite consumido no país, o produtor recebeu em junho R$0,69 pelo litro, R$0,10 a menos que no mesmo período do ano passado. Seguindo a cadeia, o produto sai da indústria a R$1,80, mas no comércio formal, o consumidor paga em média R$2,50, podendo o litro custar quase R$3,00, de acordo com levantamento do Mercado Mineiro, realizada em 12 grandes redes do varejo.

Mas é exatamente nessa época de vacas magras que pequenos comerciantes, como João Alves, ganham fôlego extra. Conhecido no Bairro Jardim Alterosa, em Betim, como João do Leite, ele utiliza sua moto para vender o alimento direto do sítio para o consumidor. Em maio, ele subiu o litro de R$1,25 para R$1,50, o que não impediu o crescimento da demanda em 30%. “O leite está muito caro no supermercado, por isso a procura pelo produto da fazendinha aumenta.” Segundo João, que está na atividade há quatro anos e atualmente vende 100 litros por dia, ele poderia comercializar até 40% mais, o que significaria um incremento de 70% no negócio da entressafra. “Meu problema é que tenho um único fornecedor e ele não consegue aumentar a produção”, comenta.

O típico comércio do interior agrada a dona de casa Patrícia Peixoto. Ela deixou de comprar o leite no supermercado e aderiu ao produto que alimenta dois meninos com idade entre dois e seis anos. Por dia, são R$3,00. “Pago R$1,50 no litro. Não acho caro. O leite é gostoso e muito limpo, temos total confiança na origem. Ainda aproveito a nata para fazer biscoitos.”

Apesar da aceleração dos preços para o consumidor, os produtores não estão satisfeitos com o preço pago, que não cobriria o custo da produção. Eles querem que o brasileiro passe a consumir mais leite, para que o lucro venha com a escala. “Com o leite nesse preço não tem jeito de o consumo aumentar”, protesta Paulino Gontijo, presidente do Sindicato Rural de Bom Despacho, no Centro Oeste do estado. Segundo ele, o custo da produção é de R$0,80. “O máximo que o leite deveria custar no supermercado deveria ser R$1,70”, aponta. Segundo levantamento do Sindicato da Indústria de Laticínios de Minas Gerais (Silemg), o consumo do produto caiu 15%, mas, este mês, os preços ainda não devem apresentar tendência de queda.

No quilômetro 383 da BR-381, que liga Belo Horizonte a João Monlevade (Vale do Aço), produtores de Barão de Cocais vendem o litro de leite por R$0,70 para laticínios da região. Apesar de, na indústria, garantirem o comércio em escala de aproximadamente 100 litros dia, é no varejo que o lucro aparece. Produtores como Eustáquio Salomé vendem para os vizinhos cerca de 20% da produção do dia por R$1,25, quase 80% mais que o valor pago pela indústria. Na opinião do Alessandro Rios, presidente do Silemg, o motivo da disparada dos preços é não haver no país política de estoques reguladores, que garanta ao produtor preços melhores no período da safra, e ao consumidor acesso ao alimento durante todo o ano.

O Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) alerta que o leite para consumo humano deve ser pasteurizado, o que evita a proliferação de uma série de bactérias.

Fonte: Estado de Minas. Por Marinella Castro. 1 de julho de 2009.