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Lavoura, pecuária e floresta

por Fabio Lucheta Isaac
Quinta-feira, 22 de março de 2007 -09h41
A Embrapa Transferência de Tecnologia, unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, tem investido em estudos que priorizam a otimização da área agrícola, com o máximo do uso do solo, maximizando os retornos econômicos do produtor, e ao mesmo tempo garantindo a sustentabilidade do sistema produtivo com árvores, culturas agrícolas e animais criados todos juntos.

Segundo o supervisor da Gerência de Planejamento e Negócios da entidade o sistema de integração lavoura-pecuária, que consiste basicamente na recuperação de pastagens degradadas por meio da plantação de culturas agrícolas, vêm sendo utilizado com freqüência por produtores de todo o país nas últimas décadas. Mas além disso, a floresta também é um componente importante para a sustentabilidade dos ecossistemas, e foi incluída nos estudos.

Estudos realizados no interior de Minas Gerais comprovaram a eficácia do novo sistema: em um primeiro momento, o solo é preparado para o plantio de árvores, como o eucalipto. Nos três primeiros anos de crescimento das árvores, culturas agrícolas como milho e soja são plantadas no espaçamento entre os troncos, que devem ter uma distância de pelo menos oito metros. Após a primeira colheita agrícola, a pastagem de animais como bovinos pode ser inserida até a retirada do eucalipto para a revenda da madeira, que ocorre a partir do sétimo ano após o plantio, quando o mesmo ciclo começa novamente.

As culturas agrícolas são inseridas apenas nos primeiros anos do sistema até que o eucalipto atinja uma altura média. Após o terceiro ano, ao mesmo tempo em que os animais podem ser inseridos, já que não alcançam mais a copa das árvores e por isso não conseguem mais danificá-las, as culturas devem ser retiradas, pois as sombras que as árvores formam começam a atrapalhar a produtividade agrícola.

A principal vantagem é que esse sistema permite a produção de culturas agrícolas, o reflorestamento de áreas degradadas com espécies nativas ou o plantio de madeiras certificadas para revenda, que nos dois últimos casos contribuem para o bem-estar dos animais por propiciarem sombra e eventualmente fornecerem alimentos.

De acordo com o supervisor do projeto, o Brasil possui atualmente cerca de 45 milhões de hectares de pastagens no cerrado com baixa produtividade. Boa parte dessas terras estão extremamente degradadas, apesar de serem férteis e agricultáveis. Essas áreas estão disponíveis para o sistema de integração lavoura-pecuária-floresta. Isso evidencia que não é mais preciso alterar a configuração original das florestas brasileiras para produzir soja, milho e culturas do biodiesel.

Os pesquisadores da Embrapa estão divulgando o novo sistema de produção sustentável para incentivar o plantio de espécies nativas em regiões ameaçadas, como a Amazônia, permitindo inclusive a formação de corredores ecológicos que ligam florestas em áreas isoladas. Esses corredores facilitam tanto o trânsito de animais entre essas ilhas de florestas como também a dispersão das espécies vegetais.

Fonte: Revista Fapesp, 22 de março de 2007.