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Mantida a exportação de boi em pé

por Equipe Scot Consultoria
Terça-feira, 6 de julho de 2010 -13h19
Por Fernando Yassu

Em audiência pública, os exportadores convencem os parlamentares e o governo de que a venda externa beneficia o produtor.

A audiência pública realizada no dia 4 de maio na Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio da Câmara dos Deputados colocou uma pá de cal na última tentativa de representantes de frigoríficos vinculados à Abrafrigo- Associação Brasileira dos Frigoríficos e à Uniec - União das Indústrias Exportadoras de Carne de barrar as exportações de gado em pé, sob o pretexto de que não agregam valor ao produto e transferem empregos para outros países.

A defesa da suspensão dos embarques foi feita por Reinaldo Gonçalves, professor
da Universidade Federal do Rio de Janeiro e autor do estudo “Desvantagens da Exportação do Boi em Pé”, e Charli Ludtke, representante da WSPA, Organização Mundial de Proteção aos Animais, entidade que encomendou o estudo. No lado oposto, com parecer favorável à exportação de boi em pé, estava Alcides Torres, da Scot Consultoria, contratado pela Abeg Brasil- Associação Brasileira das Empresas Exportadoras de Gado.

Após quatro horas de debate, na presença de parlamentares e representante do
governo, venceu a tese do consultor da Scot, que, com tabelas e gráficos, demonstrou que a exportação de gado em pé agrega valor e que o produtor rural, favorecido pela concorrência, recebe mais pelo boi, melhora a sua renda, paga mais imposto, gera mais emprego, consome mais insumos na fazenda e contribui para o desenvolvimento regional.

Como exemplo, Alcides Torres mostrou números que atestam a valorização
crescente do boi no Pará, Estado que lidera as exportações. Entre 2005 e 2006,
período em que a receita com exportações de gado em pé cresceu de US$ 31,4 milhões para US$ 173 milhões, os pecuaristas do Pará receberam pelo boi 21,27% a menos do que os produtores de São Paulo.

Já em 2009, quando a receita alcançou US$ 433 milhões, a diferença caiu para 15,28%, apesar do problema ambiental que afetou a pecuária do Estado.

Nos quatro primeiros meses deste ano, com o aumento das exportações em 24,68% em volume e 48,81% em receita em relação ao mesmo período do ano anterior, a diferença caiu para apenas 9,21% (veja a tabela).



Da mesma forma, entre 2005 e 2006, um período conturbado para a pecuária de corte por causa da febre aftosa no Mato Grosso do Sul, o preço médio do boi registrou recuo de 3,44% em São Paulo e de 5,89% no Pará. Já em entre 2006 e 2007, a tendência se inverteu, e o preço médio, que em São Paulo subiu 14,5%, no Pará elevou-se 16,98%.

Ainda: em 2008, quando as exportações de gado em pé registraram um salto, atingindo US$ 389 milhões, a cotação no Pará subiu 42,08% sobre o a ano anterior, enquanto em São Paulo o aumento limitou-se a 37,71%. E mais ainda: em 2009, quando os embarques de gado em pé atingiram US$ 433 milhões, a cotação no Pará, pressionada pela crise mundial e por problemas ambientais, recuou 3,34%, enquanto no mercado paulista a queda foi além, 5,59% (veja a tabela).



Na audiência pública, o consultor da Scot também mostrou que a exportação de gado em pé não afeta a cadeia produtiva em seu conjunto e pode conviver em harmonia com os demais setores associados à pecuária, como couro, sapatos e medicamento.

O mercado de gado em pé apresenta-se, assim, como um novo nicho que a cadeia pode explorar. “Se a demanda externa aumentar, a pecuária brasileira responderá com aumento da produção”, argumenta Torres.

SEM VOLTA

Na opinião de Gil Reis, diretor- superintende da Abeg Brasil, as exportações de boi em pé se consolidaram e tendem a crescer. “Nesses quatro anos, as empresas exportadoras evoluíram no seu profissionalismo. Nada se improvisa, da logística de transporte terrestre ao estabelecimento de pré-embarque e à produção de alimentos”, diz.

São quatro as empresas exportadoras – a Agroexport, de Uberaba, MG; a Caiapó, de Ananindeua, PA; a Boi Branco, de Belém, PA; e o Minerva, de Marabá, PA. E os investimentos no setor não param de crescer – a Caiapó, segundo informa Reis, está investindo R$ 30 milhões em instalações de engorda intensiva para 9 mil animais e de pré-embarque, em Ananindeua.

Atraídos pelo sucesso do negócio, pecuaristas da Bahia estão ansiosos por embarcar
a primeira partida. O primeiro carregamento de 20 mil cabeças para o Egito estava previsto para maio, mas por problemas burocráticos foi adiado. “Faltou fiança bancária para o importador”, informa Nélson Pineda, proprietário de fazenda no Estado.

Segundo Pineda, a Bahia está preparada para enfrentar o desafio. Seria a redenção da pecuária de corte no Estado, especialmente da região oeste, que, apesar de responder pela oferta de um número elevado de animais, conta com poucos frigoríficos sob inspeção federal, autorizados a comercializar o produto fora do estado. “Os frigoríficos estão concentrados no sul e no extremo sul, que contam com quatro plantas, para um rebanho de 2,86 milhões de cabeça, enquanto o oeste, com um rebanho de 3,234 milhões de cabeças, conta com apenas duas”, diz.

Sem acesso a frigoríficos sob inspeção federal, os pecuaristas da região Oeste, em vez de terminar os animais, preferem vender os bezerros para Minas Gerais, Goiás e Tocantins.

A expectativa é que, uma vez abertas as exportações, o gado seja terminado no próprio Estado, que tem um rebanho de 12 milhões de cabeças.

Pineda acha que os Estados exportadores de gado em pé vão especializar-se na venda a determinados destinos. Assim, o Pará teria na Venezuela o seu cliente preferencial, enquanto a Bahia se voltaria para os mercados do Oriente Médio, como Líbano e Egito, e o Rio Grande do Sul e Santa Catarina, para a Europa, especialmente Itália.

De janeiro a maio, a Venezuela importou 170.795 cabeças (57% a mais do que no mesmo período de 2009).



Fonte: Revista DBO Rural. Edição nº 356. Por Fernando Yassu. Junho de 2010. pág. 29 – 32.