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Queda das commodities reduz poder de troca por fertilizante

por Equipe Scot Consultoria
Quinta-feira, 18 de setembro de 2008 -10h09
Os sojicultores que não compraram todo o adubo necessário para o plantio da safra de verão precisarão de mais sacas do grão para comprar a mesma quantidade de fertilizantes. A forte queda nos preços das commodities agrícolas dos últimos dias, motivada em parte pela crise econômica que se espalha pelo mundo, já cria um cenário de incerteza com relação à rentabilidade da próxima safra. Com essa queda, atualmente o custo com fertilizantes corresponde a 50% do gasto total por hectare em uma lavoura de soja. De acordo com a Céleres, o custo médio para a próxima safra é de R$1.587 por hectare, cerca de R$30,00 por saca.

Atualmente, estima-se que 70% dos insumos necessários para a produção da safra de verão já foram comprados, o que significa que uma parte dos sojicultores deva sofrer com esse cenário. Leonardo Menezes, analista da Céleres explica que ontem os contratos de novembro fecharam em R$26,08 a saca e já inviabilizariam a produção em algumas regiões do Mato Grosso. “O custo com o frete é muito alto nessa região, por isso o produtor terá problemas se os preços continuarem caindo”, prevê.

Segundo levantamento da Scot Consultoria, atualmente são necessárias 31,54 sacas de 60 quilos de soja para comprar uma tonelada de fertilizantes, com base em São Paulo. Bem acima da média de 22 sacas por tonelada. Com isso, o produtor deverá avaliar as condições do solo e reduzir um pouco mais o uso de fertilizantes”, diz José Amaral, analista da Scot Consultoria.

Glauco Monte, analista da FCStone, explica que o produtor que se adiantou na compra de insumos terá um custo mais favorável neste ano. “Quem deixou para comprar agora terá um forte impacto nos custos”, diz. Ele explica que boa parte dos produtores estavam apostando em um cenário de preços mais altos para a soja. “A queda na venda antecipada também foi motivada porque havia a expectativa de vender o grão por um preço melhor”, observa. Além disso, explicou que os produtores que conseguiram travar os preços no período em que os preços estavam mais favoráveis já estão garantidos.

Para Eduardo Daher, diretor executivo da Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), a queda nos preços do petróleo ainda devem demorar um pouco para chegar aos preços finais dos fertilizantes, como a uréia. “A preocupação agora é com o gás natural da Bolívia, que é importante na produção da uréia”, disse. No entanto, ele explica que as vendas dos fertilizantes foram maiores em relação a 2007. “Quando as commodities estavam em alta os produtores investiram e isso aumentou as vendas”, analisa.No caso do café, o poder de troca de uma saca de café arábica por fertilizante é o menor dos últimos 17 anos em algumas regiões de Minas Gerais, responsável por mais da metade da produção do Brasil. Segundo a consultoria FCStone, até junho deste ano, o fertilizante acumulou uma alta de 83% em doze meses. No mesmo período, o café subiu 5,3%, passando de R$243,00 para R$256,00 a saca (60 quilos) do arábica tipo 6, conforme os dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, da Universidade de São Paulo, (Cepea/USP). O mesmo indicador diz que a saca foi negociada em média a R$263,00 na última semana. Com isso, a expectativa de algumas cooperativas é que a aplicação dos adubos seja racionada em algumas lavouras.

Na Cooperativa de São Sebastião do Paraíso (Cooparaíso), uma das maiores do país, para adquirir uma tonelada fertilizante, a relação de troca exige quase seis sacas de café arábica do tipo 6. Em 1992, essa proporção era de 3,5 sacas. “Estamos orientando o produtor a fazer uma boa análise do solo para utilizar apenas o necessário”, diz Marcelo de Moura Almeida, gerente Cooparaíso.

Fonte: Gazeta Mercantil. Agronegócio. Por Roberto Tenório. 18 de setembro de 2008.