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Apesar da escassez, preço do boi indica recuo na entressafra

por Equipe Scot Consultoria
Sexta-feira, 11 de julho de 2008 -12h21
Em uma série histórica de 13 anos, o preço da arroba do boi recuou em entressafra em apenas dois. Este ano, em reação a alta de preços da carne bovina nos supermercados, o boi pode ter, novamente, preço menor na entressafra. O contrato de outubro da Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) encerrou o pregão ontem em R$92,00 a arroba, valor 2,12% menor que o do mercado físico de São Paulo (Barretos), que fechou em R$94,00. Alguns fatores ajudam a explicar o movimento atípico, entre eles, a estagnação do consumo nos supermercados. Aliado a isso, há a queda no volume exportado de carne bovina e ainda, o maior peso dos bois abatidos.

O presidente da Associação Brasileira dos Supermercados (Abras) Sussumu Honda, confirma que, de fato, o consumo das proteínas animais não cresceu neste ano como era esperado. Em 2007, o mercado de produtos perecíveis expandiu-se 10%, desempenho que neste ano está próximo a zero. "Nesse cenário incluem-se todas as carnes e também os embutidos, tais como a lingüiça", acrescenta Honda.

Portanto, esclarece ele, não se trata apenas de uma estagnação para a carne bovina, mas também para as outras. "Quando a carne bovina sobe, também puxa o frango, cuja produção também teve alta de custos por causa do milho e da soja", justifica.

Sérgio De Zen, coordenador de Pecuária do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Esalq/USP), avalia que o movimento reflete um ajustamento normal no mercado confuso que tornou-se o do boi. Desde o começo deste ano, o preço da arroba aumentou 55%, de acordo com o indicador do Cepea. Segundo o mesmo indicador, o valor da carne no atacado elevou-se 25% desde janeiro. "Temos, portanto uma redução no ritmo de crescimento do consumo e, por outro lado, um aumento da oferta, não na quantidade, mas no peso médio de abate dos animais. Isso não é suficiente para mudar o ritmo do mercado, mas ajuda a regularizar. Os agentes estão procurando um ponto de equilíbrio nos preços", avalia De Zen. Além disso, explica ele, o volume exportado menor contribuiu para ampliar a oferta no mercado interno. Neste semestre, as vendas de carne bovina ao exterior recuaram 23% em volumes, segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex).

Levantamento da Scot Consultoria mostra que desde 2004 o preço do boi não caia na entressafra. O segundo ano em que isso ocorreu dentro da série de 13 anos foi em 1995, quando o preço recuou 0,36% entre julho e outubro. No ano passado, os preços do boi tiveram a segunda maior elevação da série (21,89%).

Além da reação do consumo nos supermercados, Fabiano Tito Rosa, da Scot Consultoria, afirma que a única outra razão para essa tendência de preços seria o aumento do confinamento de boi no País. Em abril, a consultoria realizou uma pesquisa com pecuaristas que indicaram a intenção de aumentar em 20% a oferta de gado confinado neste ano. "Temos dúvidas de que essa expansão se concretize, sobretudo porque os custos do confinamento aumentaram muito e já estão acima de R$100,00 por arroba, enquanto o valor da própria arroba está em R$92,00. Mesmo o pecuarista que já colocou o boi magro no confinamento, tem a opção de desistir e devolvê-lo para o pasto", explica Rosa.

Juan Carlos Lebron, diretor de operações da Associação Nacional dos Confinadores (Assocon), diz que, de fato, o confinamento não terá expansão em relação a 2007. Não por causa do custo de produção mais alto, mas porque simplesmente não há oferta de boi magro no mercado. "Não tinha animal magro, se não o confinamento aumentaria. Temos ganho de escala quando temos mais animais confinados", explica Lebron. Segundo a Scot Consultoria, no ano passado foram confinados 2,5 milhões de cabeças no Brasil. Se confirmassem os 20% de expansão, este ano seriam submetidos ao confinamento 3,06 milhões de cabeças.

Fonte: Gazeta Mercantil. Agronegócio. Por Fabiana Batista. 11 de julho de 2008.