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Lista da UE terá mais 20 fazendas

por Equipe Scot Consultoria
Quinta-feira, 29 de maio de 2008 -11h49
Passados três meses do fim do embargo da União Européia à carne in natura brasileira, a lista das fazendas autorizadas a vender aos frigoríficos exportadores deve crescer - até o momento só tinha encolhido. Hoje apenas 94 estabelecimentos - sendo 79 em Minas Gerais - estão na listagem. Mas a previsão é que, na próxima semana, pelo menos 23 novos serão incluídos. Parte dessas propriedades ainda está sendo auditada pelos estados. O número considerado ideal para a normalidade dos abates é entre 3 mil a 5 mil fazendas.

A quantidade exígua de estabelecimentos fez com que, em três meses, houvesse poucos abates - apenas dos frigoríficos que não têm unidades no exterior, de onde poderiam encaminhar o produto. Além disso, desde a retomada do mercado - os abates recomeçaram no final de março, um mês depois de saída a listagem -, o ágio tem se mantido na faixa dos R$10 por arroba, considerado baixo pelos pecuaristas, que seguram os animais ao máximo, em busca de preços melhores.

"A expectativa é que, a partir de agora, a cada 15 dias haja nova atualização da lista", diz o secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Inácio Kroetz. Segundo ele, equipes estão no campo fazendo as auditorias das propriedades inscritas no Sistema ERAS (Estabelecimentos Rurais Aprovados pelo Sisbov), que permite a exportação para o bloco. A primeira lista do governo tinha cerca de 2,7 mil fazendas que tiveram de ser reauditadas. Destas, 106 foram aprovadas e, desde fevereiro, por diversos motivos, algumas foram retiradas. Neste período, técnicos dos estados foram treinados pelos europeus para fazer a auditoria.

O Estado com a maior quantidade na primeira lista é o que já enviou mais fazendas ao ministério: foram três até agora e outras 12 ainda serão auditadas. Dos cinco Estados autorizados, apenas Goiás ainda não reiniciou as auditagens. O consultor José Sanches, da BDO Trevisan Consultoria, acredita que, com a próxima liberação, haverá um boom de embarques relacionados a novos contratos. "Quem está exportando hoje é para contratos antigos", afirma.

"Hoje são embarques pontuais, imprevisíveis, pois dependem da estratégia de poucos vendedores", afirma Fabiano Tito Rosa, analista da Scot Consultoria. Dois grandes frigoríficos brasileiros, o JBS e o Marfrig estão usando suas bases fora do Brasil para atender à União Européia. Em nota, o Marfrig afirmou que, com as plantas da Argentina e Uruguai, conseguiu que o bloco continuasse a representar 52,1% das vendas da empresa no primeiro trimestre deste ano. Os demais frigoríficos autorizados a exportar para a União Européia têm feitos poucos abates. De acordo com o diretor comercial do Independência, André Skirmunt, os abates para o bloco seguem lentos. "Há um ou outro lote disponível, sem regularidade, perfazendo dois a quatro lotes mensais", afirma. Segundo ele, a quantidade de animais abatidos depende da fazenda, mas tem variado de 400 a 600. No Rio Grande do Sul, o frigorífico Mercosul, só conseguiu realizar um abate - a expectativa é de um novo lote até o final desta semana. "Tudo o que tem disponível nós estamos adquirindo e tentando exportar. Mas não está sendo fácil", afirma o presidente da empresa, Augusto Cruz. Ele não revela o valor do ágio, mas diz que não é possível pagar muito caro, pois estaria "inflacionando o mercado e afetando a lucratividade da indústria".

O produtor Tiago Antoniazzi, um dos nove na lista gaúcha, reclama da pouca procura pelos animais. "Os frigoríficos não estão repassando o valor de uma carne de melhor qualidade e, por isso, estou segurando e vendo se tem mercado externo. Por enquanto não está valendo a pena ser da lista", reclama. A insatisfação não ocorre só no Rio Grande do Sul, mas também nas fazendas mineiras - estado com a maior quantidade de propriedades na lista e que tem pelo menos quatro frigoríficos autorizados a exportar. O pecuarista Oswaldo Murta Filho, de Carlos Chagas (MG), diz que vai segurar pelo menos 60 dias para vender seu terceiro lote, esperando obter preços melhores. Segundo ele, a primeira comercialização foi feita para honrar compromissos e não teve diferencial: R$77 a arroba. Na segunda, o animal foi vendido a R$90 a arroba - quando sai entre R$80 a R$85 a arroba em São Paulo. "É preciso ter um diferencial de pelo menos 25% sobre o boi comum para compensar o desgaste que tem", diz Murta Filho.

A pecuarista Marta Eloísa Marcondes da Silva, também de Minas Gerais, faz coro à reclamação." Tem dado muito trabalho e em termos financeiros, não tem diferença", afirma. Até o momento a propriedade, localizada em Francisco Sá (MG), comercializou apenas um lote, esperando vender outro em até dois meses. Na Fazenda Santo Antônio, em Joaquim Felício (MG), foram duas vendas desde março e a expectativa é de um novo lote entre junho e julho, dependendo da disponibilidade de pastagem. "Se entrar no confinamento tem de ter um ágio maior", diz o administrador, Fernando Antônio Pereira Diniz. Os animais estão sendo vendidos com uma diferença de R$10 por arroba.

Fonte: Gazeta Mercantil. Agronegócio. Por Neila Baldi. 28 de maio de 2008.