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União Européia pode barrar carne brasileira

por Equipe Scot Consultoria
Terça-feira, 8 de abril de 2008 -18h12
Apesar de seis frigoríficos brasileiros terem retomado os abates destinados à União Européia, a carne embarcada corre o risco de ser barrada. Isso porque as autoridades sanitárias do bloco ainda não entendem como foram liberadas as 95 fazendas autorizadas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento a fornecer os animais. As primeiras remessas deveriam chegar àquele continente nesta semana. Mas algumas nem foram embarcadas - vetadas pelo próprio governo.

Até o momento, pelos cálculos da Secretaria de Agricultura de Minas Gerais, foram abatidos 3.749 bovinos, de quatro frigoríficos. No Rio Grande do Sul, o Mercosul abateu outros 150 animais. Os volumes não incluem o Minerva, que não revelou a quantidade abatida. Pelos cálculos da AgraFNP, o total de animais abatidos seria suficiente para o embarque de 195 toneladas de carne - considerando que cerca de 20% da carcaça seriam de peças tipicamente consumidas por aquele mercado. "É uma quantidade ridícula", afirma o diretor da consultoria, José Vicente Ferraz.

Em uma circular interna do ministério, o governo admite que existam problemas e sugere às superintendências regionais que tenham "precaução no abate dos animais dessas fazendas".

O documento foi enviado também às indústrias exportadoras. Segundo fontes do setor, a circular teria sido originado após o Bertin abater o primeiro lote, de 1,2 mil animais, e ter o embarque vetado pelo ministério, sob a alegação de que a propriedade de onde os bovinos saíram não teria sido re-visitada. Procurada, a indústria não quis fazer declarações sobre o ocorrido, afirmando, por meio de sua assessoria, "que quem fala pelo setor é a Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne (Abiec)".

No final de fevereiro, o governo havia comunicado que 106 fazendas estavam autorizadas a comercializar os bovinos com os frigoríficos que exportam para o bloco. A lista era de propriedades que constavam no banco de dados do sistema Estabelecimentos Rurais Aprovados pelo Sisbov (Eras), cuja documentação havia sido conferida pelo governo e estavam em conformidade com as exigências do bloco econômico. No entanto, parte das propriedades era de pecuária de elite e outra, leiteira. Hoje, a lista tem apenas 95 fazendas.

Técnicos europeus estiveram no País em março vistoriando pouco mais de 20 destes estabelecimentos. O entendimento do setor é que apenas aqueles que tenham sido visitados é que podem vender os animais.

Segundo o secretário de Defesa Agropecuária do ministério, Inácio Kroetz, "o documento pode ter gerado algum mal-entendido. Mas a lista segue valendo". De acordo com ele, em função do treinamento dos técnicos pelos europeus, as fazendas e as documentações precisam ser re-visitadas. Ele argumenta que a circular surgiu porque houve pressão para o abate e uma diferença de preço".

Fontes do setor dizem que em Minas Gerais, Estado que tem a maior quantidade de fazendas na lista, teria havido um leilão de gado para o abate destinado à União Européia e o Bertin teria pago R$12,00 a mais por animal. Mas a fazenda de onde os bovinos saíram não teria sido revisitada e, portanto, não estava autorizada a exportar. Kroetz garantiu que a carne que tiver sido embarcada não corre o risco de voltar. "As que estiverem viajando é que as propriedades foram revisitadas", disse.

Por precaução, o JBS, que havia tomado a decisão de retomar os abates, resolveu esperar por uma liberação oficial das fazendas pela União Européia e por um momento em que a diferença de mercado não fosse tão alta.

"Existem duas situações: a lista das 95 fazendas e a lista daquelas que foram visitadas e homologadas", diz o diretor-presidente do frigorífico Mercosul, Mauro Pilz. No estado, somente uma propriedade foi vistoriada pelos técnicos europeus. Por isso, a indústria comprou 150 bovinos apenas deste estabelecimento e, em função disso, não teme que o embarque, nesta semana, seja barrado. Segundo ele, foi um "abate simbólico, para atender aos pedidos".

Por meio de sua assessoria de imprensa, o Independência informou que a carne dos animais abatidos está a caminho da Europa e que a circular é informativa às unidades, pedindo "apenas cautela na compra, pois ainda faltam tecnicalidades das autoridades européias, que estão no Brasil". A empresa acredita que o assunto será resolvido esta semana. As demais empresas exportadoras não se pronunciaram sobre o assunto.

A circular do ministério causou surpresa aos analistas de mercado. O entendimento dos consultores ouvidos é que existe algum problema não explicado pelo governo brasileiro. No documento, o ministério afirma que as exportações estão paralisadas e diz que "entendimentos estão sendo mantidos com a UE".

"Para mim foi uma surpresa. Tem algum equivoco de alguém", diz o sócio-diretor da Agripoint, Miguel da Rocha Cavalcanti. Ele diz que acha estranho a informação do secretário de Defesa Agropecuária da necessidade de se revisitar as fazendas.

Opinião semelhante tem Ferraz, da AgraFNP. "O que se pode deduzir é que pode haver algum problema, que o governo está prevendo que possa acontecer alguma coisa, como a carne chegar lá e ser recusada por algum problema", afirma. Ele acrescenta que talvez só falte um "OK" da União Européia para todas as 95 fazendas e que assim que isso ocorrer a lista possa, inclusive crescer. De acordo com o governo, a quantidade de fazendas autorizadas a embarcar irá aumentar depois que do treinamento dos fiscais, que ocorre até o dia 24 de abril.

"Nossa senhora! Quer dizer que o que já era uma miséria virou pó?", indaga o analista da Safras & Mercado, Paulo Molinari. Ele também acredita que seja uma medida do governo de precaução, mas acrescenta que o cenário não vai mudar enquanto não houver uma quantidade maior de fazendas autorizadas a vender para os frigoríficos exportadores. "A realidade é que o mercado europeu vai ficar desabastecido e o Brasil vai vender pouco", diz. Segundo dados da consultoria, no primeiro trimestre deste ano os embarques de carne caíram de 667,2 mil toneladas para 507,2 mil toneladas (em equivalente carcaça), ou seja, uma diminuição de 24% no período.

"No meu entender, o ministério tinha entendido que as 95 fazendas estariam automaticamente credenciadas e os frigoríficos poderiam abater e parece que aconteceu algum problema", diz o diretor da Scot Consultoria, Alcides Torres. Ele lembra, no entanto, que o mercado mundial de carne está muito bom, que a Argentina e a Austrália estão com problemas de oferta e que, portanto, o Brasil tem chances de embarques para outros países. Procurada, a Abiec não se pronunciou sobre a documentação do governo.

Fonte: Gazeta Mercantil. Por Neila Baldi. 7 de abril de 2008.