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Frigoríficos poderão manter volumes sem UE, mas margens cairão

por Equipe Scot Consultoria
Quarta-feira, 30 de janeiro de 2008 -19h00
A suspensão das importações de carne brasileira pela União Européia, anunciada hoje, poderá ser parcialmente compensada pelo redirecionamento das vendas para outros países ou para o mercado interno. No entanto, as margens dos frigoríficos serão muito prejudicadas pela queda dos preços, já que a Europa é o mercado que paga mais pela carne brasileira.

Os mercados alternativos para o Brasil são os países que já compram a carne nacional, como Oriente Médio, Egito e outros países da África, mas nenhum deles oferece uma rentabilidade tão elevada quanto a Europa, que prefere os cortes nobres. Uma evidência disso é que a União Européia representa apenas 21% das exportações brasileiras em volume, mas em valor sua participação é de 32% (ou US$1,3 bilhão), segundo a consultoria Scot. "A rentabilidade dos exportadores será afetada pela queda dos preços", disse o consultor Leonardo Alencar, da Scot.

Os maiores frigoríficos, como Friboi, Marfrig e Minerva, serão os principais afetados pela restrição européia porque são muito dependentes deste mercado. No acumulado dos nove primeiros meses de 2007, o Friboi destinou 36% dos seus embarques para países europeus, o Marfrig exportou 54,1% do total para a região, enquanto o Minerva direcionou 25% das exportações para este mercado.

Em um primeiro momento, os frigoríficos devem encaminhar suas vendas para o mercado doméstico, provocando uma retração nos preços da carne no atacado e do boi. Segundo o consultor da FNP José Vicente Ferraz, nos próximos dias a arroba do boi pode cair de R$4 a R$5 a partir dos atuais R$74.

No segundo momento, as empresas começarão a direcionar seus produtos para o exterior para evitar que se crie um excedente de oferta no mercado interno. A queda dos preços será negativa para as empresas, que ainda não conseguiram repassar totalmente a alta dos preços do boi.

Por outro lado, os países que substituirão o Brasil como fornecedores da União Européia deixarão de abastecer outros mercados, o que abrirá oportunidades para os brasileiros, de acordo com Ferraz. "A Argentina e o Uruguai devem aumentar as vendas para a Europa em busca de maiores preços, reduzindo os embarques para os países árabes", afirmou. Isso abrirá mercado para o Brasil, mas não compensará a queda dos preços.

Para a Europa, o fechamento das importações de carne brasileira significará um aumento significativo dos preços da carne, já que não existem fornecedores alternativos ao Brasil com preços baixos. A expectativa é de que os consumidores europeus e a indústria de carne local protestem contra a alta dos preços, o que pode forçar a Europa a interromper o embargo. "Os maiores beneficiados serão os pecuaristas do Reino Unido e da Irlanda, que têm dificuldades de competir devido a seus altos custos de produção", disse Alencar, da Scot.

Por meio de nota, o Friboi afirmou hoje que pretende compensar o fechamento da União Européia com a venda de carne para outros países. O frigorífico informou ainda que deve ampliar as vendas a partir da Austrália, da Argentina e dos Estados Unidos para a região, se beneficiando de maiores preços.

Segundo especialistas, o caminho mais fácil para o Friboi seria exportar por meio da Argentina, mesmo com a existência de cotas, porque os Estados Unidos ainda enfrentam restrições de oferta e a Austrália consegue preços melhores no Japão e na Coréia do Sul. As ações da companhia estão em queda de 4% hoje. O Ibovespa, por volta das 16h, caía 0,93%.

O Marfrig afirmou por meio de nota que vai direcionar sua exportação para outros destinos que não a União Européia, além de focar no mercado doméstico. Segundo a companhia, suas nove unidades de abate de bovinos na Argentina e no Uruguai trabalharão em plena capacidade para atender a Europa. O Minerva também foi procurado pela reportagem mas não se pronunciou até o momento.

As ações destas empresas estão em queda de 1,6% e 2,6%, respectivamente. Caso o embargo se prolongue por muito tempo, os especialistas acreditam que o Brasil sofrerá um efeito muito negativo na sua imagem diante de outros países compradores, já que as decisões da Europa costumam ser seguidas por outros países.

Fonte: Agência Estado. Por Natalia Gómez. 30 de janeiro de 2008.