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Dólar interfere na evolução dos preços pecuários

por Fabio Lucheta Isaac
Quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007 -09h40
Não só a agricultura é fortemente influenciada pelo comportamento da taxa de câmbio. A cotação do dólar também influencia a evolução dos preços pecuários.

Um estudo da Scot Consultoria apontou, por exemplo, que a correlação entre o câmbio e os preços domésticos do boi gordo chegou a 0,727 entre janeiro de 1999 e dezembro de 2006. Já a correlação entre a cotação do couro verde e o dólar, entre dezembro de 2002 e fevereiro de 2007, chegou a 0,862.

Correlações a partir de 0,7 são consideradas altas. Elas indicam que uma das variáveis tende a influenciar significativamente o comportamento da outra. Pode também haver influência cruzada, mas nesse caso é, logicamente, o dólar que interfere no comportamento dos preços do boi e do couro.

A correlação mais forte com o couro é explicada pelo fato de mais de 60% da produção nacional ser negociada no mercado internacional. Já as exportações de carne bovina dão conta de “apenas” 22% do que é produzido no País.

Dentro do que foi exposto, é possível concluir que a nova onda de valorização do real pode se transformar em forte barreira à recuperação dos preços pecuários. Mas é preciso fazer ao menos uma consideração.

Se a oferta, de qualquer commodity, cai demais, a tendência é que os preços reajam, independentemente do comportamento da taxa de câmbio. Veja o exemplo da figura 1. A cotação do boi gordo, nos períodos em destaque (círculos), se descolou do dólar, em função da significativa redução da oferta de animais terminados.



Em síntese, o dólar exerce forte influência sobre a formação dos preços pecuários. Em alta, ele favorece a rentabilidade das indústrias exportadoras, o que dá margem ao aumento dos preços pagos aos produtores. Por outro lado, em baixa, ele age negativamente sobre os resultados de curtumes e frigoríficos, o que favorece a retração dos preços pagos aos produtores, ou ao menos instiga a resistência a aumentos de preços.

No entanto, mediante alterações bruscas na relação oferta/demanda, a interferência do dólar perde força. Ao final, quem “manda” mesmo, é a lei da oferta e da procura. (FTR)