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Onda vegetariana: modismo ou tendência?

por Fabio Lucheta Isaac
Terça-feira, 20 de junho de 2006 -12h57
Saiu na última edição da revista Época: uma onda “vegetarianista” invade o mundo, chegando ao Brasil.

Vários famosos, seja por razões de saúde, por “respeito aos animais”, porque é bonitinho, ou qualquer outro motivo, fazem coro à dieta sem carne. Existe até votação para eleger a vegetariana mais sexy!! Pode?

O problema, para os produtores de carne, é se a moda pegar. No caso da carne bovina, já não chega a concorrência ferrenha exercida pela carne de frango? Agora até a alface vai querer incomodar?

O pior é que, o que hoje parece moda, pode se transformar em tendência. Segundo uma pesquisa sobre hábitos alimentares, feita pelo grupo Ipsos, cerca de 28% dos brasileiros “têm procurado comer menos carne”.

As vantagens relacionadas a uma dieta sem carne não são muito claras. Aliás, não se sabe nem se elas existem, afinal já foi provado, por vários estudos, que alimentos de origem animal oferecem uma série de nutrientes essenciais para uma vida saudável. Portanto, cortar os exageros seria algo muito mais sensato do que cortar a carne. Mas, como se costuma dizer, cada um com seu cada um.

A reportagem da Época traz uma tabela interessante sobre os mitos e verdades relacionados ao vegetarianismo. Desmistifica, por exemplo, o conceito de que somos naturalmente vegetarianos, explicando que o homem é mais próximo dos macacos onívoros, como o chipanzé, que dos vegetarianos, como o gorila. Nosso sistema digestivo é preparado para comer de tudo.

Mas a tabela aponta que o vegetarianismo favorece o meio ambiente, pois a criação de gado provoca derrubada de florestas e agrava o efeito estufa, e o consumo de água e grãos pelos rebanhos dos países ricos é imenso.

Agora pergunto eu, oh pá, para o cultivo de vegetais, também não é necessário a derrubada das matas? Se toda a população do planeta fosse vegetariana, não seria necessário um aumento significativo da produção de grãos? Ou cada um sairia procurando seu almoço na floresta, como os índios? Aliás, nem os índios fazem mais isso. Sem contar que, mediante o tamanho atual da população mundial, não iria sobrar uma única árvore em pé após alguns dias de consumo extrativista.

De toda forma, seguindo na mesma tabela, a própria reportagem corrige, de certa forma, o equívoco. Afirma que o conceito de que é possível se alimentar sem matar animais é verdade apenas em termos, pois para plantar vegetais é preciso derrubar florestas, eliminando o hábitat de diversos animais. O plantio de vegetais, portanto, pode ser nocivo a espécies animais.

Fica claro que não tem mais escapatória. Coma o que quiser, o homem não deixará de causar impacto na natureza. O ideal é procurar meios de minimizar os danos, e é aí que se destaca a aplicação de tecnologia, a fim de permitir produzir mais, em menos área.

Com relação à questão de consumir carne, ou apenas vegetais, tem-se um debate truncado, que envolve uma série de fatores não relacionados apenas à saúde e/ou à preservação ambiental. Tem muito “achismo” e muita ideologia boba.

Talvez seja esse o grande desafio dos programas de informação e marketing institucional para incentivo do consumo de carne bovina. Aumentar o consumo per capita é uma tarefa difícil, uma vez que ele já é alto, próximo ou até superior ao observado em países desenvolvidos. Mas impedir, por meio de esclarecimentos e quebra de paradigmas, que o bife perca espaço no mercado, seja para a carne de frango, seja para a beterraba, o jiló, a soja ou afins, já estaria de bom tamanho. (FTR)