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Exportações de lácteos. Não foi desta vez

por Rafael Ribeiro
Sexta-feira, 19 de novembro de 2010 -15h02
O potencial de crescimento do Brasil no mercado internacional de lácteos é indiscutível.

Ao contrário dos principais blocos exportadores, tais como a Oceania e a União Européia, o país tem condições de aumentar a produção de leite sem expandir a área destinada à atividade. Neste caso, melhorando apenas os índices produtivos, que estão abaixo da média mundial.

Mas não é o que vem acontecendo. Em 2008, em função da seca e conseqüente queda de produção na Austrália e Nova Zelândia, o Brasil exportou mais.

Naquele ano, exportamos mais de US$500 milhões em produtos lácteos, o equivalente a 1,15 bilhão de litros de leite. O saldo da balança comercial foi de aproximadamente US$300 milhões, recorde.

Apesar da grandiosidade dos números, o volume embarcado representou menos de 5% da produção nacional.

Bom, de lá pra cá a situação foi diferente.

Em 2009, com a crise mundial, as exportações brasileiras caíram 70% em faturamento e as importações aumentaram 25% em relação a 2008. Isto representou um déficit de US$115 milhões na balança de lácteos.

Este ano, o cenário se repete. As exportações estão derrapando e um volume considerável de leite e derivados importados inundou o mercado interno. Veja a tabela 1.



Entre os fatores responsáveis podemos destacar o próprio preço dos produtos lácteos no mercado internacional, o câmbio desfavorável (real valorizado) e até mesmo a qualidade do produto brasileiro.

Preços no mercado internacional

Os preços dos produtos lácteos no mercado internacional melhoraram em relação a 2009, mas ainda estão abaixo do verificado em 2008.

Tomemos como exemplo o leite em pó integral, principal lácteo exportado pelo Brasil.

Atualmente, o produto está cotado, na Europa, em média, em US$3,6 mil por tonelada. Veja a figura 1.



Em 2008, até a crise estourar, os preços do leite e pó giravam em torno de US$4,5 mil/tonelada, 25% mais que a média atual.

Câmbio desfavorável

Não bastassem os preços em patamares menores, o real valorizado em 2010 diminui os ganhos dos exportadores, tornando o mercado internacional menos atraente.

Observe a tabela 2. Considerando os preços médios e a taxa de câmbio (média anual) a tonelada de leite em pó foi comercializada por R$7,3 mil em 2008, 17% mais em relação ao preço médio atual, cuja cotação é de R$6,2 mil/tonelada.



Qualidade do leite

Por fim, chegamos à questão da qualidade do leite brasileiro.

Apesar da melhoria nos últimos anos, em função do emprego de tecnologia crescente, a qualidade do leite brasileiro é questionada lá fora, principalmente pelos mercados mais exigentes.

O pagamento por qualidade, para incentivar a produção de um leite melhor, é uma medida inteligente. É preciso, no entanto, encontrar um meio termo entre o que a indústria pode pagar e o que o produtor quer receber.

Final

Por fim, em se tratando de balança comercial de lácteos, o Brasil deve fechar mais um ano no vermelho.

Não foi desta vez. Para 2011, é preciso analisar como ficará a questão cambial, que hoje é o fator de maior peso na decisão em exportar.

Mais que isso, é preciso buscar novos mercados. A demanda na Ásia e Oriente Médio é cada vez maior e o Brasil poderia aproveitar a boa relação com os países desses continentes para firmar novas oportunidades.

Tarefa árdua para nossos empresários e representantes do governo.