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Custo de produção "está comendo" os bons preços do leite

por Carolina Magnabosco Ribeiro
Terça-feira, 29 de julho de 2008 -17h27
Embora as cotações do leite tenham se recuperado a partir de 2007, alcançando patamares recordes (R$0,768/ litro em agosto de 2007), nem todos os produtores se beneficiaram dessa alta.

Se em 2006, o leite atravessou seu pior momento, os custos com alimentação favoreceram o pecuarista por conta dos baixos preços da soja e do milho. Em 2007 e neste ano a situação mudou. A cotação dos grãos e dos demais resíduos agrícolas usados nas dietas puxaram a inflação nas fazendas leiteiras.

Em São Paulo, a cotação do leite aumentou 75,40% de janeiro de 2006 a junho de 2008, e o preço do milho subiu 81,82%. Fato que retrata o cenário atual da pecuária leiteira, preços altos, porém com custos mais altos ainda.



Os alimentos concentrados representam cerca de 30% a 40% do custo de produção.

Veja na figura 2 o comportamento da relação de troca entre leite e preço de milho.



Em junho de 2006, com um litro de leite era possível adquirir 2,30 quilos de milho. No mesmo mês deste ano, o produtor comprou 1,87 quilo de milho com a venda de 1 litro de leite. Poder de compra 18,59% menor em 2008.

Já em 2007 foram registradas a melhor e a pior relação de troca do período analisado. Enquanto em julho podia-se trocar um litro de leite por 2,95 quilos de milho, em dezembro, o pecuarista obtinha apenas 1,31 kg/ litro. A perda no poder aquisitivo do pecuarista foi de 55,66% em seis meses, em relação ao milho.

Nesse período, o preço do leite sofreu retração de 16,69% e a cotação do grão subiu 87,88%.

Mas não só os concentrados estão em alta. Os fertilizantes também vêm batendo recordes de preços.

O aumento da demanda mundial por adubos, principalmente por parte do Brasil, Rússia, Índia e China, a oferta restrita devido a problemas climáticos nos países produtores e a alta do petróleo foram os responsáveis pelos reajustes históricos.

Tomando como base o super simples granulado, só nos seis primeiros meses do ano, o fertilizante subiu 53,04%, contra um aumento de 17,79% no preço do leite. Acompanhe na figura 3.



Para os próximos meses, embora as cotações da soja e do milho tenham recuado nos últimos dias, a tendência é de mercado firme para os grãos. Os estoques continuam baixos e a demanda crescente. Contudo, serão o desenvolvimento da safra americana e os preços do petróleo que irão determinar as cotações das commodities agrícolas neste segundo semestre.

A perspectiva para os preços dos fertilizantes é que continuem em alta, principalmente em agosto e setembro, quando a procura pelo produto aumenta devido o plantio (outubro e novembro).

O que não é o caso do leite. Em julho, o preço médio nacional, calculado a partir da média ponderada entre os Estados, recuou 2,45% comparado a junho, ficando em R$0,723/ litro. Reflexo da maior disponibilidade de matéria-prima e das vendas fracas de lácteos no varejo, principalmente do leite longa vida.

Segundo levantamento da Scot Consultoria, 69% dos laticínios esperam queda no preço para o pagamento de agosto. Sinal de que o poder de compra dos pecuaristas deve diminuir ainda mais.