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Resgatando a saga do leite - um presente para o setor

por Mauricio Palma Nogueira
Terça-feira, 2 de janeiro de 2007 -11h13



Para quem gosta de história, e se interessa pelo agronegócio do leite, o jornalista e advogado, João Castanho Dias, proporcionou um belo presente ao setor, publicando um livro sobre a história do leite no País.

Lançado por ocasião da comemoração dos 30 anos da Embrapa, o livro, ilustrado do começo ao fim, é de fácil leitura e trás histórias curiosas sobre a saga do leite no Brasil.

Primeiro rebanho

Dentre várias passagens interessantes, o autor conta que o rebanho brasileiro começou em 1532, com trinta e duas cabeças de bovinos que foram trazidas por Martin Afonso de Souza.

O maior animal que os índios conheciam era a anta. Impressionados quando viram os primeiros bovinos, chamaram de “antas de outras terras”, que na língua indígena era cobaiguara.

Os primeiros bovinos não foram utilizados para a produção de leite. Serviam para tração e produção de carne.

Os portugueses, que ficaram no Brasil na primeira metade do século XVI, acabaram por incorporar a cultura indígena em maiores proporções que os índios incorporavam a cultura européia. Leite não fazia parte do cardápio.

Depois das primeiras 32 cabeças, as novas levas de bovinos chegaram ao Brasil por três frentes: São Paulo, Rio Grande do Sul e Bahia.

Primeiros clientes

Nem o esforçado e dedicado jornalista, autor do livro, é capaz de determinar a primeira ordenha feita no País.

No entanto, a primeira referência ao leite no Brasil ocorreu em 1552, na localidade em que seria a futura capital da capitania da Bahia de todos os Santos.

Em carta, dirigida ao padre provincial de Portugal, o padre Manuel da Nóbrega informa que tomou “doze vaquinhas para criação, e para os meninos terem leite, que é grande mantimento”.

Os meninos, aos quais o padre se refere, eram cerca de trinta crianças indígenas, que se tornaram os primeiros clientes do leite produzido no Brasil. O jesuíta usava o leite, uma novidade às crianças, como forma de mantê-los no colégio fundado pela Companhia de Jesus.

Curiosidades

Provavelmente, a descoberta dos queijos por povos ancestrais ocorreu de maneira casual, após guardarem leite em odre feito com estômago de carneiro. Em contato com as substâncias, o leite coagulou.

Os queijos começaram a ser feitos no Brasil no começo do século XIX, a partir de enzimas extraídas do estômago de animais silvestres: anta, veados, tatu canastra e outros.

Os bezerros eram muito caros para serem abatidos e usados na fabricação de queijos, por isso o uso de animais silvestres.

De prender a atenção, a obra é ilustrada com fotos antigas, como a da primeira ordenha registrada no Brasil (foto da capa), fazendas antigas, personagens, salas de aula da “Luiz de Queiroz” e campos da Embrapa Gado de Leite - que tiveram papel fundamental no desenvolvimento da pecuária leiteira, entre diversas outras.

Há referências entre a relação do leite com períodos históricos e poesia. Uma gravura bem interessante mostra os vendedores ambulantes de leite em diversos países: Argentina, Brasil, França, Inglaterra, Itália e Suíça.

Relembrar sempre

Além de ser agradável, o levantamento histórico tem utilidade prática para que se entenda o difícil percurso da pecuária leiteira brasileira, assim como os avanços.

Ajuda também a compreender e planejar melhores formas de como lidar com o consumidor. Apontar benefícios do leite, quebrar dogmas e usar o próprio apelo histórico para trazer, para o leite, um pouco do charme da história do café e do vinho.

Conhecimento, como ensinam os antigos, não ocupa espaço e ninguém te toma. Vale a pena ler.