Scot Consultoria
www.scotconsultoria.com.br

Miniusina: bom investimento ou riscos?

por Mauricio Palma Nogueira
Quarta-feira, 20 de dezembro de 2006 -12h01
O jornal O Estado de São Paulo trouxe, na edição de 20 de dezembro de 2006, matéria sobre o investimento em miniusinas.

O investimento não foi colocado como algo milagroso, que resolveria o problema de toda a produção. A reportagem escutou técnicos e produtores, publicando informações mais exatas sobre o processo.

Por exemplo, discorreu-se sobre o montante de investimentos e a necessidade de escala para que se cubram os investimentos e custos operacionais. E mais importante de tudo, a necessidade de se avaliar a viabilidade do negócio.

Também não ficou de fora a importância da avaliação do mercado e da obtenção de licença e selos de inspeção (municipal, estadual ou federal).

Segundo Antônio Carlos Hentz, técnico da Alapp (Associação dos Laticínios de Pequeno Porte de São Paulo), para se manter uma miniusina é preciso produzir, no mínimo, dois mil litros de leite por dia. Assim, paga-se os custos dos investimentos, da mão-de-obra, energia, insumos e outros gastos.

O custo da produção leiteira (fazenda) não está incluído no cálculo da escala de produção da miniusina. Por isso, produtores de leite com menores volumes de produção, que investirem em miniusinas, precisarão adquirir matéria-prima de outros.

Investir, desde que planejado, não é tão difícil, conforme mostra a matéria do Estado de São Paulo, assinada pela jornalista Fernanda Yoneya. Gasta-se, em média, cerca de R$40 mil apenas para adquirir equipamentos como tanques, bombas sanitárias, pasteurizador e embaladora; além dos outros custos para adaptação de instalações e infra-estrutura, de acordo com as exigências sanitárias e necessidades operacionais.

O maior problema, dentre todos, é justamente chegar ao mercado. Cooperativas e pequenas e médias indústrias tem tido dificuldades em expandir, ou mesmo manter a venda de leite no atacado e no varejo. Tem sido difícil “colocar” os produtos no mercado.

A escala, mesmo viabilizando o processo produtivo, pode não ser suficiente para garantir o marketing e a distribuição do leite pasteurizado. Muitas vezes, quando o produtor planeja o investimento em miniusinas, o faz visualizando apenas o processo produtivo, quando na verdade é o planejamento do escoamento da produção que garantirá o sucesso do empreendimento.

Existem vários casos de produtores, inclusive de leite tipo A, que vez ou outra acabam trazendo o seu produto de volta à fazenda, desembalando-o, sejam saquinhos ou garrafas, e despejando em um tanque de expansão para vender, a preços baixos, a uma indústria próxima. É um prejuízo enorme. Este risco, portanto, precisa ser considerado na análise.

A reportagem foi muito feliz ao exemplificar o caso de um pequeno produtor, de Itápolis (SP), que produz cerca de 1.200 saquinhos de leite/dia, com 70% da matéria-prima vindo de outros fornecedores. Ele próprio faz as entregas nos pontos de venda, economizando cerca de R$ 0,15/litro com distribuidores.

Faz sentido! Há quatro anos a Scot Consultoria foi convidada para palestrar e participar de uma discussão em uma pequena associação de produtores de leite pasteurizado.

A recomendação, da Scot Consultoria, foi que mesmo com qualidade do leite superior à média regional, os produtores estariam competindo num mercado em que um dos principais atributos de qualidade, percebida pelos consumidores, é a praticidade. Por isso o longa vida abocanhou mais de 70% do mercado.

Era preciso planejar formas de tornar aquela pequena produção, de leite pasteurizado embalada em saquinhos barriga mole, em algo prático para o consumidor. A solução encontrada foi o investimento em um veículo e a entrega direta ao consumidor. No caso, a prática mostrou-se viável.

Portanto, além de analisar a viabilidade operacional, é preciso muita atenção à capacidade de competir no mercado, com as novas preferências e exigências do consumidor atual.