Com recorde no volume de bovinos confinados, aumento das fêmeas na participação no abate, recorde nas safras de milho e de soja, além de outros fatos favoráveis importantes, o ano de 2025 se despede e abre as portas para a chegada de 2026, que deverá desfrutar de uma mesa farta. Neste Papo com o Gestor, Alcides Torres, CEO da Scot Consultoria detalha suas percepções e expectativas otimistas e cautelosas para a chegada do novo ano, e destaca que ao longo dos 30 anos de existência da empresa “nunca tivemos um ano igual ao outro”. Portanto, como diz aquele velho ditado popular, “um rio nunca passa duas vezes no mesmo lugar”. Para ele, o pecuarista precisa estar atento e se antecipar às adversidades possíveis.
Scot, apesar das oscilações de mercado e dos fatos que preocuparam o pecuarista em 2025, o ano foi positivo, com a transição do ciclo para uma fase de alta e possibilitando o aumento da margem das fazendas. Para 2026, a Scot Consultoria prevê que os indicadores permanecerão positivos? Quais os principais pontos que o pecuarista brasileiro precisará acompanhar de perto?
Alcides Torres: Concordo que 2025 foi melhor que 2024 e para deixar registrado, as oscilações acontecem regularmente e sempre haverá fatos preocupantes. Essa não é uma característica da pecuária de corte, mas dos negócios. De qualquer negócio. A expectativa para 2026 é de indicadores positivos. O mercado espera preços melhores, ou que pelo menos viabilizem a produção. Com relação aos principais pontos de atenção, a dica é ficar perenemente informado e ter cuidado com a fonte de informação. A volatilidade do mercado exige isso. Mas, se o mercado não for surpreendido por acontecimentos desastrosos a expectativa é de produção menor e de preços melhores para o fazendeiro.
Vimos um mercado de reposição com preços firmes em 2025. A equipe do Circuito Cria, pesquisa expedicionária promovida pela Scot Consultoria, acabou de chegar e o sentimento de otimismo foi frequente entre as fazendas visitadas. Podemos afirmar que chegou a vez da cria? O que o criador pode esperar para 2026?
Alcides Torres: Sim, a expedição confirmou o que o mercado previa. Com a projeção de elevação da cotação da reposição pode-se dizer que a Cria será favorecida em 2026. O criador pode esperar um mercado comprador.
O confinamento, em 2025, foi uma estratégia fundamental para aumentar o giro e prover boa rentabilidade para quem apostou nesse sistema de terminação – o Confina Brasil 2025 apurou isso na prática (leia mais no benchmarking). O que o confinador pode esperar para o próximo ano, o custo com alimentação poderá ser maior? O preço do boi gordo vai disparar? Olhando para os indicadores, é possível prever se a margem seguirá atraente?
Alcides Torres: O confinamento de bovinos racionaliza a terminação, mas é preciso competência e rigor para ter resultados satisfatórios. É um trabalho intenso. Para 2026 a expectativa é de crescimento. Mais bovinos serão terminados em confinamento se o mercado continuar procurado como foi em 2025. Há questões pendentes, como a importação chinesa. Com relação à dieta, o custo deverá compor sem sustos pois a projeção é de uma boa safra. Com relação à cotação “disparar” é um termo forte e inadequado. Pecuária não é loteria. O que mais importa é a margem e não o preço e, a projeção é de que ela será atraente em 2026. Mas é bom monitorar o mercado.
Quais são as expectativas para a demanda interna e externa em 2026, especialmente considerando possíveis variações no apetite da China, o mercado dos EUA se tornando mais amigável novamente com o Brasil e a recuperação do consumo doméstico de proteínas?
Alcides Torres: As expectativas são boas. Se o nível de empregabilidade no Brasil se mantiver e se a China continuar a comprar, como comprou em 2025, teremos um bom 2026.
Para garantir essa expectativa o poder de compra dos brasileiros precisaria melhorar. Seria algo como emprego e moeda forte, pois vivemos uma reduflação. Os Estados Unidos voltando a importar e a abertura de mercados prometem uma exportação com mais estabilidade. O que turva o horizonte é o que virá com as salvaguardas chinesas. A China é o principal parceiro comercial do Brasil.
“Todo ano é um ano atípico na pecuária”, essa frase é uma das mais icônicas usadas por você em palestras pelo Brasil. Qual o principal conselho que o senhor deixa para as gerações que buscam “driblar” essa atipicidade do mercado pecuário?
Alcides Torres: Essa frase de efeito é para despertar o cuidado que se deve ter para não se acomodar. Os mercados estão constantemente mudando. Não é mais possível esperar tranquilidade em qualquer tipo de produção, agrícola ou não. Nos 30 anos da Scot Consultoria, nunca tivemos um ano igual ao outro. Não adianta reclamar. É assim. E isso é bom, pois esse dinamismo atrai para o campo as novas gerações. Aliás o campo, faz tempo, nada tem de bucólico.
Olhando para o mercado de alimentos, este ano já tivemos produção recorde de soja e milho, por exemplo. Ano que vem o Brasil deve superar o recorde deste ano? Você acredita que os pecuaristas poderão se beneficiar deste mercado? Como a evolução dos custos de insumos — especialmente nutrição, fertilizantes e energia — pode influenciar a margem do confinamento e, consequentemente, a oferta de boi gordo em 2026?
Alcides Torres: O Brasil é um grande produtor de grãos. Isso é um mérito que deve ser louvado. Se a produção será recorde é o de menos. O que importa é ter segurança alimentar, suprindo o mercado interno e exportando o excedente. Quando o papo é grãos, a pecuária entra consumindo o produto primário, os grãos em si e seus coprodutos, como os farelos, as tortas, as cascas, os melaços, o DDGs, WDGs e por aí vai. Quanto maior o processamento desses alimentos, melhor para a pecuária. Nesse sentido todos se beneficiam.
Agora, o aumento do custo de produção para quem produz commoditie é sempre um problema sério. Nesses casos a margem vai se estreitando até que a atividade fique inviável ou regrida para o extrativismo. Mas, não acredito num cenário desses em 2026. A oferta de boiadas será normal, de acordo com o ciclo de preços pecuários.
De que maneira fatores macroeconômicos (taxa de juros, câmbio, inflação e políticas agrícolas) podem influenciar o planejamento dos produtores, a capacidade de investimento e o equilíbrio entre oferta e demanda no mercado do boi gordo em 2026?
Alcides Torres: O campo precisa de crédito para produzir e a taxa de juros precisa ser adequada à produção rural. Taxas exorbitantes desestimulam investimentos e a adoção de técnicas agrícolas. A política cambial exerce pressão sobre os custos de produção, pois importamos os princípios ativos dos defensivos agrícolas e fertilizantes, por exemplo. E influi na exportação. O que é bom para a importação não é bom para a exportação. O produtor, de maneira geral, considera apenas o mercado interno no planejamento, pois tem pouca influência sobre os fatores que pesam no mercado externo.
Agora, basta aguardar a chegada do novo ano para tomar novas decisões. A Scot Consultoria volta em 2026 com mais informação de qualidade – direto da fonte –, que você poderá acessar através dos canais oficiais, consultorias personalizadas, encontros, pesquisas expedicionárias, palestras e mais.