Scot Consultoria
www.scotconsultoria.com.br

Circuito Cria: explorando o berço da pecuária brasileira

por Circuito Cria
Segunda-Feira, 29 de Setembro de 2025 - 17h00

Com o desafio de mapear a fase da cria na pecuária de corte brasileira, o Circuito Cria, conduzido pela Scot Consultoria, dará início à segunda etapa da pesquisa-expedicionária, No Berço da Pecuária em 29 de setembro. A equipe percorrerá seis estados — Minas Gerais, Goiás, Tocantins, Pará, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul - para observar diretamente os manejos adotados pelos produtores, coletando indicadores zootécnicos e estratégias de gestão durante a estação de parição. Em entrevista exclusiva, Diego Rossin e Letícia Quintino comentam o que esperam encontrar nesta etapa e quais resultados a pesquisa-expedicionária deve gerar.

Scot Consultoria: O Circuito Cria nasceu em um momento específico da pecuária. Quais circunstâncias motivaram a criação da pesquisa-expedicionária? 

Letícia Quintino: Em 2024 o setor estava atravessando uma fase de baixa de preço do ciclo pecuário, e sabemos que a oferta de reposição é um dos principais fatores que influenciam o comportamento e as oscilações do mercado. Por isso, ao lançar o projeto o objetivo era entender como os produtores se comportariam durante esse período, que corresponde ao tempo necessário para gerar a oferta de reposição a partir do ano em que iniciamos a expedição. Dessa forma, durante esses primeiros três anos de Circuito Cria, acompanhando toda uma safra de bezerros, conseguimos analisar como esse comportamento impactaria a oferta de reposição em 2026 e 2027. 

Scot Consultoria: Por que a etapa da cria merece uma análise tão detalhada e profunda dentro da pecuária? 

Letícia Quintino: Porque é justamente onde a pecuária começa, é a base da pecuária. Embora essa fase possa apresentar margens diferentes em comparação com a recria e a engorda, que geralmente operam em cenários mais positivos e com maior uso de tecnologia, é na cria que tudo se inicia. A cria é o ponto de partida: tudo o que acontece nessa fase determina o rumo de toda a cadeia da carne. Por isso, é essencial voltar o olhar para esse começo. 

Scot Consultoria: A equipe do Circuito Cria percorrerá seis estados, sendo Minas Gerais, Goiás, Tocantins, Pará, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, o que vocês esperam observar nesses estados?

Letícia Quintino: Esses estados foram escolhidos por concentrarem produções estratégicas da cria no Brasil. Neste ano, vamos acompanhar a estação de parição. No ano passado estivemos focados na estação de monta e, no próximo, acompanharemos a chegada desses bezerros ao mercado. Ou seja, o Circuito Cria está estruturado como um projeto contínuo, que busca mapear toda a safra de bezerros no país. Durante essa etapa, além da parição, também observaremos o início da próxima estação de monta.

Diego Rossin: A expectativa é encontrar propriedades caminhando na estrada da intensificação e, principalmente, com planejamento de longo prazo. A cria é uma atividade que demanda organização mínima de quatro anos. Esperamos ver fazendas com forte controle de dados, capazes de medir seus indicadores produtivos e identificar os gargalos para a melhora no desempenho. Então, acreditamos que o foco está justamente nesse caminho da profissionalização.

Hoje, já se nota que a engorda no Brasil vem adotando práticas mais intensivas. Ainda há, é claro, muitos produtores que trabalham com terminação a pasto, no modelo do “boi sanfona”, que é quando o gado perde peso na seca, ganha um pouco nas águas e fica nesse descompasso. No entanto, já existem excelentes projetos de intensificação que mostram outra realidade. E, na cria, isso está vindo aos poucos.

Estamos observando, por exemplo, a cria adotando também a integração lavoura-pecuária. Isso proporciona, pastagens de melhor qualidade dentro da propriedade. Gradualmente, fica para trás a prática cultural de destinar as vacas prenhes aos piores pastos, sob a justificativa de que “já estão com bezerro na barriga”. Então, isso é um pouco do que esperamos ver nessas fazendas que são referência na atividade: investimento consistente em genética e nutrição, com foco em melhorar a eficiência produtiva, mostrando que a cria também está trilhando o caminho da intensificação. 

Scot Consultoria: Este ano, o Circuito Cria acompanhará o nascimento dos bezerros resultantes da estação de monta observada no ano passado. Qual é o objetivo específico desta etapa e como ela se conecta ao propósito geral da pesquisa?

Letícia Quintino: O objetivo desse ano é observar, diretamente no campo, as práticas adotadas pelos produtores nessa fase tão crucial da pecuária de corte. Queremos entender quais manejos estão sendo aplicados, como está sendo conduzida a parte de sanidade, nutrição, genética, tecnologias adotadas e, ao mesmo tempo, levar informações que possam auxiliar as propriedade em eventuais gargalos ou dúvidas.

Além disso, buscamos mapear as estratégias utilizadas por meio de um questionário, no qual coletamos indicadores zootécnicos que permitem construir um diagnóstico mais preciso da realidade no campo. Ao final, nossa proposta é devolver esse conhecimento ao produtor, contribuindo para o aprimoramento da atividade e para a tomada de decisões mais eficientes. 

Outro ponto importante é analisar como os pecuaristas se prepararam para enfrentar a fase de baixa de preços do ciclo pecuário em 2024. No ano passado, identificamos comportamentos distintos: enquanto muitos acompanharam o ciclo e descartaram fêmeas, alguns grandes produtores, mais estruturados, optaram por reter essas matrizes, planejando ofertar bezerros ao mercado em 2026 e 2027.

Diego Rossin: O projeto foi moldado para acontecer em três etapas. A primeira etapa, consiste em mapear as fazendas durante a estação de monta, para entender como estava o pensamento do produtor naquele momento. Na cria, a estação de monta é, essencialmente, a etapa de planejamento do que será colhido nos anos seguintes.

Isso difere bastante da engorda. Nesse sistema, o produtor adquire um bovino, coloca-o no confinamento e, em cerca de quatro meses, já tem o resultado: o boi pronto para venda e o capital disponível para um novo giro.

Na cria, o processo é muito mais longo. O produtor precisa preparar a fêmea, realizar a inseminação, aguardar os nove meses de gestação e, depois, ainda tem aproximadamente oito meses até a desmama. Se for apenas criador, é nesse momento que ele vende o bezerro. Ou seja, o animal inseminado no fim de 2024 só trará retorno efetivo em 2026, quando o bezerro estiver desmamado. É um ciclo maior, do qual é necessário planejamento e visão de longo prazo. 

Scot Consultoria:  De que forma os dados levantados pelo Circuito Cria poderão contribuir para os produtores e para a pecuária de cria como um todo?

Letícia Quintino:  Estamos levantando indicadores fundamentais da pecuária de cria, principalmente, os registros de produtividade, como taxa de prenhez, taxa de natalidade e taxa de desmama. Também buscamos entender quais informações cada produtor acompanha de perto e onde concentra seus esforços de gestão.

Com esse diagnóstico, será possível construir uma média representativa da realidade no campo. Esses resultados não apenas retornam aos produtores visitados, mas também servem como referência para outros pecuaristas, ajudando a identificar em que ponto estão em relação ao setor e quais caminhos podem seguir para aumentar eficiência e resultados.

Scot Consultoria: O Brasil tem se consolidado cada vez mais como um país que exporta carne de qualidade, e, com isso, existe uma preocupação com genética. Então, gostaríamos que você comentasse um pouco sobre isso, Letícia. O Circuito Cria vai trazer mais informações sobre como que os pecuaristas têm se preparado para alcançar mercados mais exigentes?

Letícia Quintino: O que temos visto é uma mudança significativa no comportamento do produtor. Ele tem investido cada vez mais em tecnologias reprodutivas, com destaque para o avanço da inseminação artificial em tempo fixo (IATF) nos últimos anos. Esse comportamento demonstra a preocupação em ter maior controle sobre a produção, garantindo previsibilidade e qualidade nos bezerros gerados.

Hoje, o foco não é apenas produzir um bezerro, mas sim produzir um animal com alto potencial de desempenho, capaz de entregar mais resultados em menos área. Esse cuidado com genética, manejo reprodutivo e planejamento da estação de monta evidencia que o setor já está alinhado com as exigências dos mercados mais competitivos.

Scot Consultoria: Diego, você comentou que vocês vão passar por estados que são referência, né? O Pará, em especial, ele é o estado que mais exporta carne bovina no país. Você acha que nesse estado pode ter um comportamento diferente do que foi visto no ano passado?

Diego Rossin: Tem impacto na dinâmica do mercado, sim, principalmente no gado europeu. O bezerro europeu tem uma saída muito grande no mercado, como batemos recordes de exportação de gado vivo, a procura aumentou consideravelmente. Chegou-se a ter produtores indo buscar até no Araguaia, em Mato Grosso, devido à falta de bezerros no Pará, o que, naturalmente, impacta a região.

Agora, na cria em si, a gente vê - às vezes - algum impacto no sentido de a pessoa optar por fazer um gado cruzado, como um F1 Angus, por exemplo, para atender esse mercado adicional. Neste caso, ele geralmente exporta o gado mais jovem.

Scot Consultoria: Muitas fazendas no Brasil têm perfil de ciclo completo, integrando cria, recria e engorda. No Circuito Cria, vocês esperam encontrar esse modelo com frequência nas visitas? Que perfil de pecuária vocês acreditam que deve predominar nas propriedades visitadas?

Diego Rossin:  No ano passado, 47,0% das propriedades que visitamos eram de ciclo completo. O restante se dividiu entre apenas cria (21,0%) e cria com recria (32,0%). Esses números mostram que o ciclo completo acaba sendo mais presente dentro das visitas.

Estamos falando de produtores que estão na vanguarda, que são referência no meio pecuário, com propriedades grandes e alto número de animais. E, geralmente, esses perfis estão inseridos no ciclo completo justamente para aproveitar os benefícios da cadeia como um todo. O produtor que investe na cria — com genética e nutrição de qualidade — está, na verdade, construindo um animal com maior potencial de eficiência e de conversão. Esse desempenho não se limita à fase inicial, mas se estende também à recria e à engorda, e é justamente esse potencial que o produtor quer aproveitar em todas as etapas do ciclo.

Vale destacar que são fazendas com muitos anos de produção, e o ciclo completo confere maior estabilidade. Ele pode não proporcionar a maior rentabilidade em determinados momentos, mas reduz riscos e dá mais segurança frente às oscilações do ciclo pecuário.

Ao longo dos próximos dois meses, o Circuito Cria vai mostrar essa realidade de perto, em diferentes regiões do país. Acompanhe cada passo desse caminho que iremos percorrer pelas redes sociais do Circuito Cria e da Scot Consultoria e conheça como a base da pecuária está se transformando.