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Estratégias de intensificação sustentável: recuperação ou reforma de pastagens?

por Igor Lucas Rodrigues Dias
Sexta-Feira, 12 de Setembro de 2025 - 06h00

Com o desafio de transformar pastagens degradadas em oportunidades de produção sustentável, o engenheiro químico, mestre e doutorando em Engenharia Química pela UNICAMP, Igor Lucas Rodrigues Dias, compartilha sua visão sobre estratégias de intensificação da pecuária. Ele aborda critérios técnicos, econômicos e ambientais para a decisão entre recuperação e reforma de pastagens, o papel da análise de risco na tomada de decisão e como ferramentas de modelagem podem apoiar sistemas mais produtivos e sustentáveis. Igor também antecipa ao público os principais pontos de sua palestra no Encontro de Intensificação de Pastagens, que será realizado nos dias 24 e 25 de setembro, em Ribeirão Preto-SP.

Scot Consultoria: O Brasil tem cerca de 177,0 milhões de hectares de pastagens cultivadas e a Embrapa estima que 60,0% apresentam algum nível de degradação. Nesse cenário, qual o potencial da pecuária brasileira, tanto de forma independente quanto integrada à agricultura, para transformar esse desafio em oportunidades de produção sustentável?

Igor Dias: O Brasil possui grande potencial para transformar a degradação de pastagens em oportunidades de produção sustentável. Com o crescimento da demanda por alimentos e biocombustíveis, há uma pressão crescente sobre a terra, com risco de avanço sobre a vegetação nativa. Nesse cenário, as áreas de pastagem com algum nível de degradação representam uma alternativa estratégica, dada sua ampla extensão no território nacional.

Com o manejo adequado, é possível intensificar a pecuária nessas áreas, aumentando a produtividade animal e liberando terra para outras culturas, sem necessidade de desmatamento. Além disso, a integração entre a pecuária e a agricultura amplia os ganhos em sustentabilidade, favorecendo sinergias, como o uso mais eficiente de insumos, a melhoria da fertilidade do solo e a redução de emissões associadas ao uso de fertilizantes.

É importante destacar, no entanto, que o termo “degradação” abrange diferentes níveis de perda de produtividade, refletindo o desvio em relação ao potencial máximo da pastagem. Assim, cada situação exige práticas de manejo específicas para recuperação e intensificação sustentável.

Scot Consultoria: Em que momento o produtor deve optar por recuperar ou reformar a área de pastagem? Quais pontos levar em consideração para a tomada de decisão?

Igor Dias: A decisão entre recuperar ou reformar uma pastagem depende de múltiplos fatores, como o potencial produtivo do solo, o nível de degradação e os preços de mercado.

De forma geral, áreas em degradação leve ou moderada ainda apresentam capacidade de resposta e podem ser recuperadas com práticas de manejo e correções específicas, a custos menores. Já áreas em estágio avançado, com baixa cobertura vegetal e solo exposto, normalmente exigem a reforma completa, que envolve maior investimento, mas permite, por exemplo, reimplantar forrageiras de maior potencial produtivo.

Na minha pesquisa, considerei justamente essa dinâmica: um sistema de manutenção contínua da produtividade por meio de recuperações, versus outro de ciclos de queda seguidos de reforma periódica. Os resultados mostraram que, em certos contextos, permitir a queda temporária da produtividade e depois reformar pode ser uma estratégia economicamente mais atrativa do que manter recuperações constantes.

É importante destacar que essa escolha deve sempre levar em conta as especificidades de cada sistema, combinando critérios técnicos e condições de mercado. Nesse sentido, estamos desenvolvendo uma ferramenta capaz de especificar diferentes cenários e comparar as alternativas de manejo - seja por recuperação ou reforma - de modo a quantificar benefícios e riscos associados a cada decisão.

Scot Consultoria: De que forma a análise conjunta dos aspectos econômicos e ambientais pode apoiar o produtor na escolha entre diferentes estratégias de intensificação da pecuária?

Igor Dias: Nossos estudos mostram que indicadores econômicos, como a lucratividade, e indicadores ambientais, como as emissões por arroba produzida, muitas vezes apresentam comportamentos opostos. Em geral, melhores resultados econômicos tendem a estar associados a maiores impactos ambientais e vice-versa.

Por isso, é fundamental compreender os trade-offs existentes entre essas duas dimensões - em outras palavras, avaliar qual é o impacto ambiental adicional para cada melhoria econômica obtida. Uma maneira de quantificar esse equilíbrio é por meio de ferramentas de modelagem e otimização, como as que utilizo em minha pesquisa.

No meu trabalho, desenvolvo análises baseadas em fronteiras de Pareto, que representam as combinações ótimas entre desempenho econômico e ambiental de cada sistema. A partir do formato dessa curva, é possível verificar se os ganhos econômicos compensam ou não os prejuízos ambientais. Além disso, essas fronteiras permitem até mesmo quantificar o benefício associado às emissões evitadas, oferecendo um subsídio objetivo para a tomada de decisão do produtor.

Scot Consultoria: No processo de escolha entre diferentes estratégias de intensificação, de que forma a análise de risco pode apoiar o produtor a lidar com as incertezas de mercado?

Igor Dias: A análise de risco é uma ferramenta essencial para apoiar o produtor na escolha entre diferentes estratégias de intensificação. Isso porque os mercados agropecuários são altamente voláteis: preços de insumos, como a ureia, de produtos, como o boi gordo, além do próprio preço da terra, podem variar significativamente em curtos períodos.

Ao utilizar métodos como a simulação de Monte Carlo, conseguimos quantificar os impactos dessa incerteza sobre indicadores econômicos, como lucratividade e retorno do investimento. Com isso, o produtor não avalia apenas o resultado médio esperado, mas também a probabilidade de perdas e ganhos em diferentes cenários de mercado.

Na prática, isso significa tomar decisões mais embasadas: escolher a estratégia de intensificação que não só apresenta bom desempenho em condições favoráveis, mas que também seja resiliente em cenários adversos. Esse olhar probabilístico permite reduzir riscos e aumentar a consistência dos resultados ao longo do tempo.

Scot Consultoria: O Encontro de Intensificação de Pastagens está chegando. Quais serão os principais pontos da sua palestra e que mensagem você gostaria de deixar para quem ainda não garantiu sua vaga?

Igor Dias: Na minha palestra, vou apresentar um estudo que compara dois sistemas de engorda: um baseado na manutenção contínua da produtividade da pastagem e outro em ciclos de queda, seguidos de reforma periódica, nas regiões Sudeste e Centro-Oeste do Brasil.

Esses sistemas foram modelados e otimizados a partir de indicadores econômicos e ambientais, complementados por uma análise de risco de Monte Carlo, que incorpora as incertezas do mercado. O objetivo é trazer um olhar mais matemático e estatístico para apoiar a tomada de decisão sobre estratégias de intensificação.

O Encontro de Intensificação de Pastagens será uma oportunidade única de aprendizado, com a presença de especialistas renomados, compartilhando experiências e tendências para o futuro. Se você deseja aprofundar seus conhecimentos e ampliar seu networking com quem entende do assunto, este é o lugar certo!