Na primeira etapa da sexta edição da pesquisa-expedicionária realizada pela Scot Consultoria, a equipe do Confina Brasil percorreu cinco estados, visitou 34 propriedades e mapeou realidades diversas da produção intensiva no país. Em entrevista à Scot Consultoria, a equipe revela os principais destaques da primeira rota: o avanço das tecnologias nos confinamentos, o uso estratégico de coprodutos na dieta, práticas sustentáveis que geram receita e os desafios enfrentados pelos pecuaristas. Nos próximos meses, a expedição continua sua jornada pelo país conectando pessoas, levantando dados e fortalecendo o setor.
Scot Consultoria: O Confina Brasil está em sua sexta edição. Quais são os principais objetivos do projeto e de que forma ele tem contribuído para a pecuária nacional?
Confina Brasil: O Confina Brasil nasceu em 2020, num momento de forte crescimento da produção intensiva no país, mas ainda com pouca informação consolidada sobre esse modelo. O projeto surgiu justamente para preencher essa lacuna, mapeando dados, práticas e tendências dos sistemas intensivos de engorda de norte a sul do Brasil.
Desde então, já percorremos mais de 600 propriedades em 16 estados, registrando mais de 13 milhões de cabeças confinadas. A cada edição, além de produzir um RX detalhado da pecuária intensiva através da publicação anual do Benchmarking Confina Brasil, a Scot Consultoria contribui com análises que contribuem com informações de qualidade para munir o setor.
Em 2024, contamos com o apoio de importantes parceiros – Casale, Coimma, FS Bioenergia, Grupo IFB, Nutron, Pacifil e Solpack (categoria Ouro), e Associação Brasileira de Angus e Marcher (categoria Prata) – que nos acompanham nas visitas levando conhecimento técnico de importantes nichos da pecuária, diretamente ao campo.
Em resumo, mais do que uma pesquisa, o Confina Brasil é um movimento de conexão entre produtores, especialistas e empresas, promovendo a troca de informação visando fortalecer o setor.
Scot Consultoria: Quais estados e quantas propriedades foram visitadas na primeira etapa de 2025?
Confina Brasil: Ao todo, mapeamos cinco estados nessa primeira rota do Confina Brasil 2025. As visitas começaram no dia 2 de junho, passando pelo Norte e Noroeste de São Paulo. Em seguida, seguimos para o Triângulo Mineiro, depois para o Nordeste de Goiás, atravessamos a Bahia e encerramos na região Sul do Tocantins.
Foram quatro semanas de estrada, cerca de 8,0 mil quilômetros percorridos e 34 propriedades visitadas, distribuídas em 30 municípios.
Scot Consultoria: Quais os principais destaques das propriedades visitadas durante a primeira rota? E quanto à adoção de tecnologias, quais ferramentas vistas até aqui poderiam ser citadas?
Confina Brasil: Os confinamentos têm buscado a tecnologia como aliada para ganhar eficiência, cada um dentro da sua realidade. Em estruturas maiores, por exemplo, observamos o uso do BatchBox, que tem contribuído para tornar o trato mais ágil e preciso. Os drones também têm ganhado espaço como ferramenta de monitoramento do comportamento e bem-estar animal, permitindo a observação dos lotes em tempo real, sem causar estresse e gerando dados valiosos para a tomada de decisão.
A automação na mistura e distribuição da dieta já é uma realidade consolidada em diversas propriedades, independentemente do porte.
De forma geral, o que mais nos chamou a atenção nessa primeira etapa foi a postura dos produtores: há uma abertura crescente para novas soluções, especialmente aquelas que contribuem para aumentar a produtividade e diluir os custos de produção.
Scot Consultoria: O que tem sido destaque quando o assunto é nutrição dos bovinos em confinamento? Existe uma fórmula mágica que funcione para diferentes sistemas?
Confina Brasil: O que podemos afirmar é que, definitivamente, não existe fórmula mágica. O que vemos em rota é cada produtor ajustando a dieta conforme sua realidade. Logística, custo e a sazonalidade dos insumos são fatores que pesam bastante na formulação. No fim das contas, o foco é sempre na dieta que “fecha a conta”.
Em regiões como São Paulo e Triângulo Mineiro, os coprodutos estão muito presentes nas formulações. Chegamos a ver dietas com até 14 ingredientes diferentes. É comum encontrar polpa cítrica, e como são regiões produtoras de cana-de-açúcar, o bagaço segue como principal fonte de fibra.
Já em Goiás e Tocantins, as dietas tendem a ser mais enxutas. A proximidade com áreas produtoras de milho, soja e seus coprodutos facilita o uso desses insumos mais "nobres", enquanto o acesso a outros coprodutos é mais limitado. Um ponto que chamou a atenção foi a volta do farelo de soja em algumas formulações, ocupando o espaço que vinha sendo do DDG nos últimos anos. Com a alta no preço do subproduto do etanol de milho, o farelo voltou a ser mais competitivo nessas regiões.
Na Bahia, segundo maior produtor de algodão do país, é comum vermos dietas com caroço e capulho de algodão, aproveitando os coprodutos da cadeia algodoeira.
No fim, não tem segredo: se o boi come bem, o custo compensa e o desempenho aparece, o produtor adota.
Scot Consultoria: Com relação à responsabilidade ambiental e sustentabilidade, o que os confinamentos têm a nos ensinar?
Confina Brasil: A cada ano, fica mais evidente que a sustentabilidade tem ganhado espaço na rotina dos confinamentos, tanto por consciência ambiental quanto por viabilidade econômica. Em grande parte das propriedades que visitamos, práticas sustentáveis já fazem parte do dia a dia. E onde ainda não são realidade, existe uma intenção clara de adoção no curto ou médio prazo.
Um destaque claro é o reaproveitamento dos dejetos do confinamento. O que antes era visto apenas como um passivo ambiental, hoje é um insumo de valor dentro da propriedade. Cerca de 95% dos confinamentos mapeados nessa primeira etapa tem reaproveitado os dejetos, utilizando o insumo nas pastagens ou lavouras e, em alguns casos, comercializado esse produto para obter uma renda extra.
Com o perdão da palavra, mas a frase ouvida de mais de um produtor resume bem esse cenário: “Quem pagou a conta do boi no último ano, foi a bosta”. A sustentabilidade deixou de ser custo e passou a ser parte da estratégia de resultados.
Scot Consultoria: Levando em conta as particularidades de cada região, quais foram as principais dificuldades encontradas nos confinamentos visitados?
Confina Brasil: Dentro da porteira, a dificuldade mais recorrente relatada pelos produtores continua sendo a mão de obra: contratar, treinar e, principalmente, reter funcionários nas fazendas. Já fora da porteira, o maior gargalo segue sendo a volatilidade dos preços. A percepção de quem está na lida é que, ao menos no curto e médio prazo, a dinâmica de preços do boi gordo deve continuar pressionando o resultado dos confinamentos.
Outro ponto que surgiu com frequência foi a preocupação com a reposição de animais. Em algumas regiões, a oferta de gado já está mais restrita, o que pode tornar esse processo ainda mais desafiador nos próximos ciclos.
Scot Consultoria: Falando em oscilação dos preços de mercado, dos confinamentos visitados, quantos utilizam algum tipo de proteção quando o assunto é boi? Quais são as ferramentas mais utilizadas?
Confina Brasil: Mesmo com as oscilações de mercado sendo um dos principais desafios apontados pelos pecuaristas, uma parte significativa dos confinadores visitados nesta primeira etapa ainda não utiliza estratégias de proteção de preços (cerca de 35,0% dos entrevistados).
Entre os que adotam algum tipo de ferramenta, o contrato a termo e os contratos futuros na B3 continuam sendo os mais utilizados.
Analisando os dados preliminares e usando como referência a praça paulista, identificada no benchmarking 2024 como a região com maior adesão a essas ferramentas, observamos uma evolução interessante: a adesão passou de 60,0% em 2023, para 75,0% em 2024 e chegou a 80,0% em 2025, considerando as visitas realizadas no estado nesta primeira etapa.
Esse movimento mostra que, embora a adesão ainda não seja majoritária em todas as regiões, há um avanço consistente. Cada vez mais produtores têm buscado se proteger da volatilidade e se posicionar de forma mais estratégica frente ao mercado.
Scot Consultoria: Com base nas visitas da primeira rota, o número de animais confinados esse ano será maior ou menor do que em 2024?
Confina Brasil: Apesar dos desafios, vimos de perto a força e a resiliência do produtor. A virada de fase do ciclo pecuário tem trazido mais ânimo, e o sentimento entre os confinadores é de otimismo.
Nos cinco estados visitados até agora, a grande maioria dos pecuaristas planeja aumentar o volume de gado confinado em 2025. Muitos também já enxergam um cenário mais positivo para 2026, com a expectativa de uma virada mais clara do ciclo e maior sustentação nos preços do boi gordo.
Esse otimismo tem sido um fator decisivo para a continuidade e até ampliação dos investimentos em confinamento.
Essa primeira rota foi só o começo da nossa expedição. Seguimos na estrada, retratando a pecuária intensiva pelo Brasil, ouvindo quem faz e mostrando a realidade do campo. Para maiores informações sobre o Confina Brasil acompanhe a pesquisa-expedicionária através do site www.confinabrasil.com e das redes sociais @confinabrasil.