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Recuperação <i>versus</i> reforma: quando e como agir nas pastagens degradadas

por Janaina Martuscello
Sexta-Feira, 27 de Junho de 2025 - 06h00

Janaina Martuscello, especialista em manejo e recuperação de áreas degradadas, revela como a combinação de técnicas agronômicas e gestão eficiente pode transformar a produtividade no campo. Em conversa com a Scot Consultoria, ela detalha os critérios para recuperar ou reformar pastagens, o impacto da compactação do solo e os desafios do manejo pós-incêndio.

Entre fertilizantes químicos e biológicos, prevenção e inovação, Martuscello mostra que investir na recuperação é o caminho para uma pecuária mais sustentável e lucrativa — aproveitando melhor o que já tem disponível na fazenda.

Scot Consultoria: Considerando o alto custo da terra atualmente, por que investir na recuperação de pastagens degradadas é uma alternativa mais vantajosa, tanto do ponto de vista econômico quanto ambiental, em comparação à abertura de novas áreas?

Janaina Martuscello: De fato, hoje, investir na recuperação de áreas degradadas é muito menos oneroso do que a abertura de novas áreas. Então, nós precisamos ser cada vez mais competitivos em áreas menores.

O histórico do Brasil aponta que, antes, era mais barato a gente adquirir novas terras para poder fazer a expansão da pecuária do que recuperar as terras que estavam diminuindo a produtividade. Mas esse cenário mudou.

Com o valor atual da terra, expandir área não é mais uma opção interessante. Por isso, a recuperação de pastagens degradadas é a melhor alternativa em relação à abertura de novas áreas. O Brasil já conta com cerca de 160,0 milhões de hectares de pastagens. E grande parte dessas áreas está produzindo bem abaixo do seu potencial. Diante disso, não há justificativa para a abertura de novas áreas. O que faz sentido é olhar com seriedade para o que já temos e investir na recuperação dessas áreas que estão produzindo pouco.

Scot Consultoria: Quais critérios devem ser considerados para decidir entre a recuperação de uma pastagem e a realização de uma reforma completa? Em quais situações cada abordagem é mais indicada?

Janaina Martuscello: Antes de respondermos à pergunta, nós precisamos definir o que é recuperar e o que é reformar uma área. A recuperação é manter — ou melhorar — a produtividade da planta forrageira que já está presente no pasto. Isso pode ser feito com práticas como o descanso e a calagem da área.

A renovação, ou a reforma, acontece quando é necessário substituir completamente a planta forrageira, adotando todos os tratos agronômicos desde o início: uso de maquinário, aração e gradagem. A escolha entre recuperar e reformar depende de alguns critérios. Mas o mais importante é: não deixar o pasto chegar a um ponto tão crítico a ponto da reforma se tornar inevitável.

Então, é sempre bom trabalhar pensando em manter a produtividade, que é muito mais barato do que recuperar, e do que, por sua vez, é muito mais barato do que reformar.

Porém, quando há 50,0% da área coberta com a forrageira de interesse e você consegue controlar as plantas daninhas com todos os tratos agronômicos, como, por exemplo, a correção do solo, a adubação e o uso de herbicidas, você pode fazer a recuperação. E ferramentas como o descanso e a calagem podem ser grandes aliadas no processo de recuperar a sua produtividade.

Agora, quando você tem mais da metade da área desocupada ou ocupada, ou seja, você tem espaços vazios no solo ou a área ocupada por outras plantas que não são forrageiras (plantas daninhas), a melhor alternativa é uma reforma completa.

Outro ponto que precisa ser avaliado na decisão da recuperação ou reforma é verificar a compactação do solo. Um solo compactado exige o uso de máquinas — seja um arado, no caso da reforma, ou pelo menos um subsolador, se a opção for pela recuperação. Porque a adubação e calagem não funcionam em solos compactados.

Scot Consultoria: A compactação do solo pode comprometer significativamente o desenvolvimento das pastagens. Quais são os principais métodos utilizados para avaliar o grau de compactação do solo e quais manejos são recomendados para cada nível identificado?

Janaina Martuscello: A avaliação da compactação do solo deve ser feita a partir do uso de equipamento específico: o penetrômetro. É ele que indica os níveis de compactação, mostrando se a compactação é mais superficial ou se tem uma compactação mais profunda.

É importante lembrar que a compactação do solo compromete seriamente o desempenho da pastagem: ela impede a infiltração de água, que impede o desenvolvimento do sistema radicular e a efetividade do uso de adubos.

Por isso, é essencial identificar corretamente a profundidade da compactação para decidir a melhor estratégia de manejo: será que basta o uso de um escarificador? Um subsolador? Ou será necessário partir para uma reforma completa? Tudo vai depender do diagnóstico feito em campo.

Scot Consultoria: Com a chegada do período seco, é comum vermos áreas de pastagem mais expostas e, infelizmente, o risco de incêndios aumenta bastante. Em situações em que o fogo atinge uma área de pasto, qual deve ser o manejo daquela área?

Janaina Martuscello: Tão importante quanto saber o que fazer com o pasto após ele ser atingido por um incêndio, é prevenir a entrada do fogo, por meio da construção de aceiros. Mas, se ainda assim o fogo atingir a fazenda, o mais indicado é que o pecuarista tenha paciência e espere. É necessário aguardar o tempo de recuperação da área, permitindo que as plantas germinem novamente a partir do banco de sementes. Caso o fogo tenha sido muito intenso, pode haver a inviabilização do banco de sementes, o que impede a rebrota do pasto e pode levar à desertificação da área. Nesses casos, no início do período chuvoso, é recomendada a reforma da pastagem. Já se o fogo não foi tão intenso, ele pode até favorecer a rebrota, devido à mineralização da matéria orgânica.

Scot Consultoria: Quais são os principais tipos de fertilizantes e corretivos utilizados atualmente na recuperação de pastagens degradadas? São mais químicos ou biológicos?

Janaina Martuscello: O uso de fertilizantes deve sempre ser baseado nos resultados da análise do solo. No caso dos fertilizantes orgânicos, é fundamental conhecer sua composição para aplicar as quantidades corretas, atendendo à demanda nutricional das plantas.

Além da fertilização, hoje temos observado muitas iniciativas relacionadas ao uso de bactérias promotoras de crescimento – os biológicos –, que também podem ser utilizadas em áreas de pastagens. No entanto, ainda é necessário avançar em métodos de aplicação mais assertivos desses fertilizantes biológicos, e a ciência tem se dedicado a estudar as melhores formas de aplicação. O uso via tratamento de sementes já apresenta bons resultados, e diversos estudos vêm sendo conduzidos para avaliar a eficácia da aplicação em cobertura.

Porém, o mais comum é utilizarmos os fertilizantes químicos para a recuperação mais imediata das pastagens. É importante destacar que os produtos biológicos não substituem totalmente os fertilizantes químicos, mas sim os complementam.

Scot Consultoria: Há situações em que o grau de degradação da pastagem torna a recuperação ou até mesmo a reforma inviável do ponto de vista econômico? Quais fatores influenciam essa decisão?

Janaina Martuscello: Se você tem uma área que já apresenta uma voçoroca, e que está caminhando para a desertificação, o processo de recuperação será muito oneroso. O melhor a se fazer é permitir que essa área se recupere naturalmente, realizando um trabalho de recuperação, por exemplo, dessas voçorocas.

Portanto, toda avaliação para reforma da pastagem deve ser feita considerando os custos, para identificar quais serão as necessidades. Assim, ao perceber que os gastos serão muito elevados, talvez não seja interessante mexer nessa área.

Mas, tão importante quanto recuperar a área degradada, é frear o processo de degradação para que não se chegue a esse ponto. Se uma fazenda possui uma área de pastagem degradada a ponto de que a recuperação não seja viável economicamente, isso indica que há algo muito errado na gestão da propriedade. Não podemos permitir que nossas áreas cheguem a esse nível.

Scot Consultoria: Existe limiar populacional ou percentual de cobertura de plantas daninhas que defina pastagens como degradadas?

Janaina Martuscello: Se mais de 50,0% da área estiver coberta por plantas daninhas e, somando-se a isso, houver solos descobertos, é recomendada a reforma dessas áreas de pastagem. Esse limiar de 50,0% pode variar dependendo da espécie invasora, por isso é importante avaliar também o tipo de planta para definir com precisão esse limite.