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Recordes nas cadeias de suínos e aves em 2023, sustentam expectativas de maiores números em 2024

por Luis Rua
Segunda-Feira, 22 de Janeiro de 2024 - 06h00



Scot Consultoria: Rua, considerando o setor de carne de frango, qual foi o balanço da produção, exportação e custos em 2023, e quais são as perspectivas para o setor em 2024?



Luis Rua: Os números indicam altas e tivemos recordes históricos registrados em 2023, tanto em produção, quanto em exportação. No caso da produção, ainda em números projetados (o resultado será conhecido apenas em abril, com a divulgação do Relatório Anual da ABPA), devemos fechar este ano com uma produção de até 14,9 milhões de toneladas, o que representa 2,6% a mais sobre o ano anterior. A maior produção abasteceu as gôndolas do Brasil  (o consumo per capita aumentou em torno de 1kg,  próximo de 46kg), mas encontrou, principalmente, o mercado internacional como destino.  Nossas exportações, em números consolidados, superaram pela primeira vez a casa de 5 milhões de toneladas, com total de 5,138 milhões de toneladas embarcadas, o que é algo como 6,6% a mais sobre as exportações até então recordes de 2022.



De certa maneira, os números mostram um quadro positivo para o setor, que ampliou sua presença em novos mercados, diversificou em destinos já consolidados e reforçou a liderança do país no mercado global, agora com share de 38%. 



Mas sabemos que o quadro é bem mais complexo. Embora menores em relação ao triênio do “terror” (2020 a 2022), os custos de produção ainda são desafiadores, especialmente entre insumos industriais, como embalagens. E houve forte competição interna entre as proteínas, especialmente com os impactos da suspensão temporária chinesa às importações de carne bovina. 



Para 2024, esperamos um ano de novos incrementos na produção, que pode chegar a 15,3 milhões de toneladas, impulsionada por embarques na casa de até 5,3 milhões de toneladas. Um ponto relevante esperado é o novo aumento nos níveis de consumo em mais 1kg, podendo chegar a 47kg, em um contexto econômico-social mais favorável em 2024.



Scot Consultoria: Falando agora de carne suína, como foi o balanço do setor em 2023, e as perspectivas para 2024?



Luis Rua: O contexto de produção da carne suína é muito semelhante ao de frango em diversos aspectos. A produção projetada de 2023 também é recorde, com até 5,1 milhões de toneladas produzidas (algo em torno de 2,3% acima de 2022) e exportações consolidadas de 1,229 milhão de toneladas, quase 10% a mais que no ano anterior. Abrimos mercados relevantes ao longo dos últimos anos, que tiveram influência direta no bom desempenho de 2023. Também vimos uma mudança de fluxo, com menor participação da China e ampliação dos destinos de exportações de carne suína do Brasil. No mercado interno, o consumo per capita seguiu estável, em torno de 18kg. Assim como em aves, os custos de produção para os produtores de suínos foram menos hostis que nos anos anteriores, mas, ao mesmo tempo, desafiador, especialmente com o incremento da competição entre as proteínas no mercado interno.  



Neste ano, a produção deverá registrar leves altas esperadas de, no máximo, 1% em relação a 2023.  Em ritmo diferente, as exportações devem aumentar em torno de 6%, graças ao incremento da presença de Chile e México, nas Américas, e de determinados mercados da Ásia. Também esperamos estabilidade, com leves altas no consumo interno, com a expectativa de uma eventual redução de oferta de carne bovina, conforme o mercado tem sinalizado.



Scot Consultoria: E quanto ao setor de ovos em 2023, qual foi o balanço da produção, exportação e custos? E quais são as perspectivas para o setor em 2024?



Luis Rua: O setor de ovos vivenciou um quadro de certa estabilidade em relação à produção, em 2023. A produção projetada para o ano ficou em 52,5 bilhões de unidades, pouco acima das 52 bilhões produzidas em 2022. Em 2024, contudo, devemos ver uma expansão destes volumes em até 6%, chegando a 56 bilhões de unidades. Nesta toada, o brasileiro deverá voltar a consumir perto de 260 unidades per capita em 2024. As exportações, que chegaram ao patamar de 1% do total produzido no país, ficaram em 25,4 mil toneladas no ano passado, volume que o setor espera repetir em 2024.



Scot Consultoria: Como a ABPA lidou com a iminente chegada da gripe aviária ao Brasil? Ainda existem riscos ao mercado brasileiro atualmente? Como a crise global relativa à gripe aviária afetou o Brasil com relação às nossas exportações?



Luis Rua: A ABPA e o setor produtivo estavam preparados para a chegada da gripe aviária no Brasil. Ensaiamos durante mais de 10 anos esse momento, elaboramos planos estratégicos de prevenção e contingenciamento, construímos campanhas (até mesmo um hotsite), previmos fundos de emergência, enfim, construímos uma ampla e profunda estratégia, em linha com o Ministério da Agricultura, e que foi colocada em curso imediatamente após o anúncio do primeiro caso, no dia 15 de maio, no Espírito Santo. 



De forma efetiva, praticamente não houve impactos gerados pela influenza aviária no Brasil, que só ocorreu em aves silvestres e em três situações de aves de fundo de quintal - nossa produção industrial segue livre. As situações ocorridas em fundo de quintal geraram suspensões temporárias apenas pelo Japão aos estados onde houve registros – porém, já tivemos a retomada em fluxo ainda mais expressivo que os registrados anteriormente.



Scot Consultoria: Há alguns anos, a Peste Suína Africana (PSA) foi um grande desafio ao mercado asiático, principalmente chinês, o que favoreceu nossas exportações de carne suína. Como vocês enxergam a PSA no mundo (ainda é um risco?) e, por que, mesmo com uma retomada do plantel chinês, tivemos recorde de exportação de carne suína em 2023?



Luis Rua: A PSA ainda é um fator relevante para o mercado internacional. Focos persistem em regiões produtoras importantes da Ásia e Europa. As atenções seguem elevadas em torno do tema. Aqui na ABPA, por exemplo, temos grupos de trabalho voltados exclusivamente ao tema, em interação com os demais países da América Latina. 



A PSA, no entanto, não foi o “motor” das exportações neste ano. A oferta chinesa foi retomada, apesar de ainda haver registros da enfermidade na região. Mas, por política interna, a China determinou o suprimento de 5% de sua demanda por carne suína a partir de suprimento internacional - neste caso, o Brasil segue como um dos principais parceiros. Mas, paralelamente a isso, outros mercados também buscaram mais o nosso país este ano com o objetivo de suprir sua demanda e reduzir efeitos inflacionários. É o caso, por exemplo, do México e da República Dominicana. Parceiros tradicionais também incrementaram suas compras, o que influenciou o desempenho recorde do Brasil, como foi com Singapura, Chile, Filipinas e outros.



Scot Consultoria: Por fim, os custos de produção foram um grande desafio aos produtores entre 2021 e 2022. Começamos 2024 com a perspectiva de custos, com destaque à alimentação e ao milho, maiores. Qual poderá ser o impacto desse aumento nos custos?



Luis Rua: Não esperamos aumentos expressivos de custos de produção. Há indicativos em relação a mudanças na projeção da produção de milho, mas que ainda deve ser maior que as safras anteriores.  Não esperamos ver uma repetição do quadro atípico visto entre 2020 e 2022.  Nesse sentido, as projeções traçadas para a avicultura e a suinocultura não mudam no cenário atual.