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Evolução do sistema de produção de cana-de-açúcar no Brasil

por Antônio de Pádua Rodrigues
Terça-Feira, 03 de Agosto de 2021 - 17h00


Antônio Rodrigues é bacharel em Administração de Empresas pela Faculdade de Administração de Empresas, Serviço Social e Educação de Americana (SP), com especialização em Administração de Projetos na Faculdade de Economia e Administração (FEA) da Universidade de São Paulo.



Membro da equipe da UNICA desde 1990, exerce o cargo de diretor técnico desde 2003. Foi coordenador de Administração e Finanças do Programa Nacional de Melhoramento da Cana-de-Açúcar (Planalsucar) e supervisor Administrativo-Financeiro dos projetos financiados pela Secretaria de Tecnologia Industrial (STI) do Ministério da Indústria, Comércio e Tecnologia (MICT). Em 1983, implantou junto aos fornecedores de cana o Sistema de Pagamento de Cana por Teor de Sacarose (SPCTS), junto ao qual atuou como consultor até 1990.



Scot Consultoria: Podemos considerar que a produção de cana no Brasil é tecnificada, comparando-a com outros países? Como a pandemia afetou essa produção?



Antônio Rodrigues: Sim, podemos considerar que a produção de cana-de-açúcar no Brasil é altamente tecnificada, desde a escolha da variedade, plantio e colheita mecanizadas, tratos culturais da cana planta e cana-soca, compreendendo análise de solo, adubação, uso de drones, aviação agrícola etc.



Apenas no Nordeste ainda temos uma maior incidência de uso da mão de obra na colheita e no plantio, em função da topografia. 



A pandemia não afetou a produção, tivemos pontualmente apenas uma redução da demanda de combustível, por conta da redução de mobilidade.



Scot Consultoria: Antônio, há alguma estimativa da utilização da cana-de-açúcar brasileira que vai para a produção de açúcar, etanol, bioeletricidade, nutrição animal, entre outras?



Antônio Rodrigues: Cerca de 50% da cana processada vai para a produção de etanol e 50% para a produção de açúcar. Não temos informações da quantidade de cana produzida com destinação à produção de aguardente, alimentação animal, vendida em garapeiras e feiras livres, apenas acompanhamos a cana processada em unidades com produção de açúcar e etanol.



Scot Consultoria: O senhor vê a utilização de bagaço de cana como uma boa alternativa para a alimentação dos bovinos?



Antônio Rodrigues: A utilização do bagaço na alimentação animal, acho pouco provável. Tivemos em algumas unidades, no passado, confinamentos utilizando silagem de cana e de outras culturas. O destino do bagaço hoje é para produção de etanol de duas gerações, produção de energia elétrica e, eventualmente, para alimentação animal.



Entendo que o etanol de milho, sim, tem uma combinação ótima para produção de etanol, alimentação animal, geração de energia e de óleo vegetal. Por isso, é crescente em regiões produtoras de grãos e com criação forte de bovinos.



Scot Consultoria: Quais foram os avanços da produção de cana-de-açúcar em termos de sustentabilidade? E quanto aos avanços ligados à genética?



Antônio Rodrigues: Os avanços foram enormes, com a redução do uso de água no processamento, aproveitamento dos resíduos da cana como torta de filtro, vinhoto, bagaço, palha da cana na produção de energia, biogás e biometano, o fim da queima da palha da cana-de-açúcar para colheita, a recuperação de áreas de preservação permanente, a redução do uso de herbicidas e inseticidas no combate às pragas, entre outros.



As novas variedades ligadas à genética (GMO) é que darão um grande salto com o aumento da oferta de cana, muito mais vertical do que horizontal.



Scot Consultoria: Qual é o principal desafio para o setor atualmente?



Antônio Rodrigues: O setor sabe lidar com as variáveis agrícolas (geadas, secas, chuvas, pragas, doenças etc.), investiu em tecnologia e pessoas com inteligência em mercado. Temos que conviver com as variáveis do preço do petróleo e câmbio, como também com as políticas anticoncorrenciais no mercado de açúcar.



No momento, nosso desafio é solidificar o mercado de CBios (crédito de descarbonização) criado no programa do Renovabio, dado agora mais um produto que o ativo ambiental do setor, e aproveitar a oportunidade dos biocombustíveis serem a melhor matéria para o futuro da mobilidade, como os veículos com motores elétricos.