Alcides de Moura Torres Júnior, engenheiro agrônomo
Engenheiro agrônomo formado pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” – USP e analista e consultor de mercado, com atuação nas áreas da cadeia de pecuária de corte, leite, ovinos, grãos e insumos agropecuários. Alcides Torres também é diretor-fundador e coordenador das ações gerais da Scot Consultoria.
Felipe Araújo Dahas, médico veterinário
Bacharel em Medicina Veterinária pela Faculdade “Doutor Francisco Maeda”, Felipe Dahas é o coordenador do Confina Brasil 2021.
Scot Consultoria: Qual é o objetivo e a motivação da expedição do Confina Brasil?
Alcides Torres: O objetivo é conhecer de perto a pecuária intensiva brasileira, sem estereótipos, pois os meios de comunicação tendem a expor somente grandes empreendimentos ou os super tecnificados e sabemos que não é bem assim.
O Brasil é um país com diferentes costumes regionais, com possibilidades e limitações impostas pela natureza. A expedição do Confina Brasil é motivada por isso, para conhecer o Brasil pecuário sem preconceitos.
Scot Consultoria: Qual foi o perfil dos confinamentos visitados na primeira edição? Há algum lugar onde o nosso leitor possa encontrar essas informações e entender melhor o projeto?
Felipe Dahas: O perfil dos confinamentos variou bastante, desde propriedades que confinam 300 cabeças por ano, até aquelas que criam mais de 90.000 mil animais durante o ano. Então podemos considerar que nós visitamos pequenos, médios, grandes e gigantes confinamentos do país.
O leitor pode acessar essas informações coletadas através do Benchmarking Confina Brasil 2020, elaborado com esse compilado de dados. Nele é possível identificar a realidade e a variedade dos confinamentos em diferentes regiões do nosso país, analisando aspectos ligados às estruturas dos confinamentos, índices zootécnicos, produção, nutrição, sanidade, gestão, custo, bem-estar e sustentabilidade.
Para nos acompanhar nessa nova expedição em 2021, acesse o portal confinabrasil.com e acompanhe a página no Instagram @confinabrasil.
Scot Consultoria: Quais são as novidades dessa edição em relação a do ano passado? Os confinamentos visitados em 2020 serão novamente monitorados?
Felipe Dahas: Nós vamos investigar novidades em relação às estruturas das instalações, ao perfil dos animais, às estratégias e tecnologias utilizadas e aos modelos de gestão empregados, que variam de região para região.
Iremos refazer as pesquisas nas propriedades visitadas no ano passado de maneira remota, a fim de atualizar as informações desses contatos.
Scot Consultoria: Realizar a expedição no meio a pandemia torna o desafio ainda maior. Quais foram os maiores obstáculos que surgiram para a organização e preparação das expedições?
Felipe Dahas: No ano passado tivemos uma paralisação das expedições em março por conta da pandemia. Em setembro, nós retomamos esse projeto e decidimos que seria melhor reduzir e dividir a equipe para a realização das visitas. Dessa forma, a equipe que antes era única passou a ser dividida em duas e com menos integrantes, realizando as visitas de modo simultâneo. Isso acabou nos mostrando que era possível realizar as visitas de maneira mais rápida frente a essa dificuldade.
Além disso, a equipe da Scot Consultoria está tomando todas as medidas necessárias previstas por lei contra o covid-19. Os integrantes das expedições estão vacinados, com atestados negativos para a doença, utilizamos máscaras, álcool em gel e não estamos tendo contato físico com os produtores. Dessa forma, estamos preservando a saúde da nossa equipe e dos pecuaristas.
Scot Consultoria: Para 2021, quais serão as rotas por onde o Confina Brasil passará? Qual a expectativa de monitoramento para esse ano?
Felipe Dahas: Em 2020, visitamos os principais estados confinadores do país, que incluem São Paulo, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás e Minas Gerais (região do Triângulo Mineiro) em busca de informações que definem o confinamento tradicional brasileiro, que é aquele localizado no Centro-Oeste, onde há uma alta disponibilidade de grãos e de gado para a realização dessa terminação intensiva. Visitamos 118 pecuaristas, totalizando uma quantidade de bovinos confinados e semiconfinados de 1.663.062 e 247.869, respectivamente.
Neste ano visitaremos diferentes regiões, passando pelo Rio Grande do Sul, onde já iniciamos nossas visitas com início em 21 de junho e término em 9 de julho, e rodaremos pelos estados de Santa Catarina e Paraná.
Nossa próxima rota envolverá Rondônia, Norte do Mato Grosso e Sul do Pará. A terceira etapa da expedição passará por Tocantins, Oeste da Bahia, Norte de Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro.
Um dos nossos objetivos é entender as diferenças dessas regiões em relação às regiões de confinamento tradicional que visitamos no ano passado.
A expectativa da somatória das propriedades visitadas nas três rotas nesse ano, mais as pesquisas remotas referentes aos confinamentos visitados na edição anterior, é que totalize 40% do gado confinado brasileiro.
Scot Consultoria: Com o cenário de insumos, boi magro e alimentação subindo de preço, qual a expectativa em relação à produção de bovinos confinados para esse ano?
Alcides Torres: A expectativa em relação à elevação do custo de produção vai da estabilidade à queda da quantidade de bovinos confinados e semiconfinados. A expedição confirmará ou desmentirá essa projeção, mas podemos adiantar uma mudança de comportamento com relação ao confinamento de bovinos.
Confinadores de pequeno e médio porte têm preferido mandar as boiadas para boitéis, cujo custo de produção é menor em função da escala. Temos aí um paradoxo. Menos confinamentos rodando e filas nos boitéis. O Confina Brasil também verificará o grau de intensidade dessa tendência.