Scot Consultoria
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O poder da modelagem na nutrição animal

por Nilva Kazue Sakomura
Terça-Feira, 23 de Fevereiro de 2021 - 10h00



Formada em zootecnia e com mestrado em produção animal pela Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias (FCAV-UNESP) de Jaboticabal, Nilva é doutora em Zootecnia pela Universidade Federal de Viçosa. Possui pós-doutorado pela University of Arkansas e University of KwaZulu. Atualmente é professora titular do Departamento de Zootecnia da FCAV-UNESP Jaboticabal e sua linha de pesquisa é exigências nutricionais e avaliação de alimentos para monogástricos.



Scot Consultoria: Professora Sakomura, como a senhora definiria aos nossos leitores o conceito de modelagem? Quais são os benefícios de uma dieta balanceada e como podemos determinar esse balanceamento utilizando a modelagem?



Nilva Sakomura: O conceito de modelagem é muito amplo, um modelo pode ser uma equação linear  predizendo a resposta de ganho de peso em função do consumo de um determinado nutriente. Por outro lado, um modelo pode ser muito complexo, como por exemplo, um modelo de crescimento que envolve uma teoria que explica todos os fatores que afetam o consumo alimentar e define as exigências baseado no potencial genético do animal.



Dieta balanceada é aquela que atende a todas as exigências nutricionais sem excessos, sendo que os nutrientes possuem relações adequadas entre eles, permitindo o animal atingir seu potencial genético de produção. Alguns modelos podem ser utilizados para simular o crescimento ou a produção do animal, identificando os pontos fortes e fracos, auxiliando o nutricionista a alcançar o melhor balanceamento da dieta de acordo com o potencial genético do animal.



Scot Consultoria: Como o uso de ferramentas da modelagem auxilia na tomada de decisão das empresas?



Nilva Sakomura: Atualmente existem diferentes tipos de softwares comercializados com o objetivo de modelar a produção animal e auxiliar na tomada de decisão dos profissionais da área. De forma ampla, um modelo de simulação permite ao usuário avaliar o efeito dos fatores que podem influenciar a produção, como, por exemplo, mudanças nos programas nutricionais, na genética e no ambiente sobre o desempenho dos animais, possibilitando ao usuário fazer modificações no processo de produção animal com maior acurácia. Além disso, alguns modelos permitem simular o desempenho do animal consumindo diferentes rações e selecionar aquela que proporciona maior retorno econômico da atividade.



Scot Consultoria: Sabe-se que a alimentação é responsável pela maior parte dos custos de produção. Nesse sentido, é possível utilizar a modelagem para predizer os gastos relacionados à dieta? Como a utilização de ferramentas da modelagem pode ser utilizada para aumentar as margens econômicas da atividade?



Nilva Sakomura: Alguns modelos possibilitam a predição dos gastos com alimentação, mas, para isso, é necessário predizer o consumo de ração, que deve levar em consideração os diversos fatores que o afetam, como o potencial genético do animal, ambiente, fórmula e características dos ingredientes da ração, capacidade máxima de consumo, entre outros. Predizer o consumo de um animal ou um grupo de animais é um desafio e esse assunto ainda é fonte de debate. Entre as ferramentas de modelagem disponíveis atualmente existem modelos que estimam o consumo de ração, ou seja, essa variável é um resultado de uma simulação, e modelos nos quais o consumo é uma variável de entrada necessária para que o programa realize a simulação. Portanto, a principal vantagem em predizer o consumo de ração é possibilitar a predição do custo de alimentação do animal simulado.



Vale ressaltar que a composição da ração pode modificar o custo de alimentação em dois pontos: quantidade de ração consumida e preço da ração. Como exemplo, podemos adotar uma situação na qual o nutricionista deve decidir o nível de lisina para formular a ração de um lote de frangos de corte. Tendo a sua disposição um modelo de simulação, o nutricionista pode simular o desempenho das aves alimentadas com rações contendo diferentes níveis de lisina e escolher a ração que atenda ao seu objetivo. Nesse caso, ao utilizar um modelo que não prediz o consumo de ração, a sua decisão será baseada no desempenho do lote, como ganho de peso diário ou conversão alimentar. Já nos modelos que permitem a predição do consumo, além do desempenho do lote, o nutricionista pode se basear no retorno econômico obtido a partir da ração testada, ou seja, o nível de lisina que proporcione a melhor combinação entre consumo, preço de ração e desempenho.



Scot Consultoria: Nilva, quais são as ferramentas disponíveis atualmente no mercado, como aplicativos e softwares, que podem auxiliar o produtor no manejo alimentar e a avaliação de consumo? A senhora e seu grupo de estudos desenvolveram um software com base nos resultados obtidos ao longo dos anos de pesquisa. Poderia nos contar um pouco mais sobre ele?



Nilva Sakomura: Há várias ferramentas no mercado, como o EFG da África do Sul, modelo utilizado pela Cargill. Nosso grupo de modelagem tem desenvolvido modelos e aplicativos para auxiliar os nutricionistas e produtores para estabelecer seus programas nutricionais de acordo com a realidade de cada empresa, são eles:



BGM – Broiler Growth Model – este é um modelo de simulação que permite avaliar mudanças nos programas nutricionais de acordo com a linhagem criada na granja e diferenças no ambiente (temperatura, umidade e ventilação), sendo essas condições, variáveis de entradas do modelo. As respostas são o desempenho (consumo, ganho de peso e conversão alimentar) e composição corporal (deposição de proteína e gordura). O modelo também pode proporcionar uma recomendação das exigências nutricionais (energia, aminoácidos, Ca e P). Desse modo, é possível realizar uma otimização, definindo os níveis de proteína (com base na lisina) e energia, levando-se em conta os preços dos ingredientes e dos produtos (frango inteiro, carcaça e partes).



EPM – Egg Production Model – é um modelo de simulação da produção de ovos, tem os mesmos objetivos do BGM, apenas difere nas respostas (produção de ovos, peso dos ovos e classificação) e calcula as exigências nutricionais.



Temos também aplicativos que permitem calcular as exigências nutricionais de energia (EM) e de todos os aminoácidos essenciais para frangos, aves de postura em crescimento e produção e matrizes em produção. Esses aplicativos podem auxiliar os nutricionistas na elaboração dos programas nutricionais.



Os modelos de simulação e os aplicativos, em breve, estarão disponíveis no portal: poultrymodel.com



Scot Consultoria: Quais as principais diferenças entre a modelagem da nutrição de monogástricos e de ruminantes, na sua opinião? Qual setor está mais avançado em termos de pesquisas e de auxílio à tomada de decisão de indústrias e produtores?



Nilva Sakomura: As diferenças entre os modelos de monogástricos e ruminantes são inerentes às diferenças entre as espécies. A modelagem de ruminantes está mais avançada que a de monogástricos, pois há vários grupos de pesquisa no Brasil e no mundo que trabalham com modelagem em ruminantes. Já para monogástricos, os grupos são mais restritos.



Scot Consultoria: Com a utilização da modelagem, a senhora acredita que um dia será possível realizar estudos somente com simulações, sem a necessidade da utilização de animais?



Nilva Sakomura: Os modelos de simulação permitem simular estudos que seriam desenvolvidos em campo. Vejo uma boa alternativa para as empresas, já que muitas não possuem estrutura de pesquisas, mão de obra e profissionais para realizar os experimentos. Além disso, as empresas economizariam em investimentos com pesquisas, tempo e profissionais.