Relevância da programação fetal e período gestacional das vacas

Nesta semana nosso bate-papo é com Reinaldo Cooke, um dos nossos palestrantes do Encontro dos Encontros 2019. Na entrevista Reinaldo comentou sobre a importância da programação fetal e destacou alguns pontos relevantes sobre o período gestacional das vacas. Reinaldo Cooke é zootecnista, professor na Texas A&M University e professor permanente na pós-graduação da FMVZ/UNESP.

Scot Consultoria: Qual a importância do Evento Encontro dos Encontros da Scot para a pecuária nacional?

Reinaldo Cooke: É interessante para mostrarmos aos produtores o cenário atual, começando por onde viemos, onde estamos, e quais os próximos passos a serem seguidos. Todas as discussões são interessantes, principalmente as que envolvem a parte reprodutiva. As palestras foram excelentes e é importante, principalmente para mim, que venho de fora, pois, a pecuária americana está à frente da pecuária brasileira. Dessa forma, muitos dos desafios, não só na parte de cria, mas também a recria e o confinamento, que os americanos passaram ou estão passando, o Brasil vai passar, eventualmente, quando intensificarmos mais. Portanto, é fundamental debatermos muitos assuntos. Talvez o que estou falando aqui não seja tão importante hoje, mas possivelmente daqui dez anos vai ser e, tendo isso em mente, quando esses problemas e desafios chegarem, nós estaremos preparados para resolvê-los.

Scot Consultoria: Reinaldo, o que é programação fetal e quais os principais pontos a serem considerados no momento da elaboração desse programa?

Reinaldo Cooke: A programação fetal é o termo utilizado quando levamos em consideração o manejo nutricional, sanitário, entre outros, da fêmea durante todo seu período gestacional. Portanto, o termo programação fetal está relacionado à forma como estamos programando o bezerro durante a gestação, para ser um animal altamente produtivo após seu nascimento. Dessa forma, é preciso entender as necessidades da vaca, pois o que a ela necessita o bezerro também precisa. Se a vaca está ganhando peso, significa que ela está passando os nutrientes que o bezerro precisa durante a gestação. Se a vaca está saudável, o bezerro está saudável, se a vaca não está sob stress, o bezerro também não está. A programação fetal é focada na vaca, nas suas necessidades, já que, se as atendermos, o bezerro provavelmente receberá o que precisa também.

Scot Consultoria: Qual a importância de a vaca possuir escore corporal adequado no momento que vai parir?

Reinaldo Cooke: É extremamente importante que ela esteja com a nutrição adequada no momento do parto, ter reserva suficiente para produzir um volume considerável de leite e, também, para ter status nutricional adequado e reservas para emprenhar mais cedo durante a próxima estação de monta. O indicado é a vaca parir com 3,25/3,5. Porém, acredito que o ponto chave não é a condição que ela tem no momento do parto, mas como ela chegou nessa condição. A vaca deve chegar nessa condição de uma maneira gradual e positiva durante a gestação. Então, se o objetivo é fazer a vaca parir com escore corporal 3,25/ 3,5, é preciso chegar nisso de uma maneira positiva, ou seja, subir a condição dela durante a gestação de 2,75 para 3,25, por exemplo, de uma maneira gradual, respeitando o ciclo natural de variação de condição corporal. Isso deve ser feito porque, após o parto, ela perderá peso, já que, quando começa a produzir leite, não consegue comer o suficiente para atender os requerimentos. Se a vaca pariu com 3,25, vai baixar para 3,0/2,75, não tem o que fazer.

Scot Consultoria: Quais os impactos do fornecimento de dietas inadequadas às vacas gestantes no desempenho dos bezerros?

Reinaldo Cooke: O bezerro nasce fraco, pois durante toda a gestação ele não recebeu o que precisava para seu desenvolvimento muscular, do tecido adiposo, do sistema imune e do sistema nervoso. Dessa maneira, ele nasceu com todos os sistemas comprometidos, debilitados.