Scot Consultoria
www.scotconsultoria.com.br

Importância da adubação fosfatada para a produção de forragem

por Adilson Aguiar
Segunda-Feira, 04 de Novembro de 2019 - 05h50



Na rodada de entrevistas da semana, nosso convidado é Adilson Aguiar, um dos nossos palestrantes do Encontro dos Encontros 2019. Adilson abordou a importância da adubação fosfatada para a produção de forragem. Confira!



Adilson Aguiar é Zootecnista, professor de Forragicultura e Nutrição Animal no curso de Agronomia e de Forragicultura e de Pastagens e Plantas Forrageiras no curso de Zootecnia das Faculdades Associadas de Uberaba (FAZU); Consultor Associado da CONSUPEC - Consultoria e Planejamento Pecuário Ltda, investidor nas atividades de pecuária de corte e de leite.



Scot Consultoria: Comente um pouco sobre o que foi abordado em sua palestra.



Adilson Aguiar: Tenho a honra de participar pela sétima vez do Encontro de Adubação e Pastagens. Participo desde o primeiro, ocorrido em 2013. Este ano abordei o uso do fósforo, que é um nutriente essencial para todas as culturas, incluindo as pastagens. Apresentei de que forma o fósforo é encontrado nos sistemas de pastagens que não corrigem nem adubam o solo em seus compartimentos (atmosfera, solo, planta, animal) e mostrei que, nessas condições, o aporte de fósforo proveniente destes compartimentos é muito baixo. Dessa forma, a produção de forragem, a capacidade de suporte, a lotação e a qualidade das plantas também são muito baixas, levando à baixa produtividade.



Diante disto, baseado no diagnóstico de viabilidade técnico-econômica, inicia-se um programa de manejo e fertilidade do solo. Foram apresentadas as metodologias para avaliação da fertilidade do solo, assim como o passo a passo da amostragem de solo até o envio ao laboratório, a interpretação dos resultados das análises de acordo com as recomendações dos boletins de correção e adubação regionalizados, de que forma é feita a aplicação corretiva do fósforo (fosfatagem) e os fundamentos para a adubação de fósforo. Também foi apresentada a opção de se utilizar modelos de balanço de massa. Tais modelos permitem que sejam feitas recomendações baseadas em metas específicas de produtividade de carne ou de leite.



Finalizei falando sobre como aplicar as fontes de fosfato no plantio e na manutenção das pastagens, as fontes de fósforo existentes no mercado e como utilizar cada uma para se obter a máxima eficiência agronômica. Por fim, apresentei alguns estudos de caso da evolução da utilização de fósforo nas produções de leite e carne.



Scot Consultoria: Tendo em vista a deficiência de fosfato no solo brasileiro, quais os benefícios da adubação com este macronutriente?



Adilson Aguiar: O fósforo é essencial para as plantas. A deficiência deste macronutriente provoca um menor desenvolvimento das raízes, tornando-as menos tolerantes à seca. Essas plantas vão perfilhar menos, produzir menos massa de forragem, suportando menos animais, resultando em menor taxa de lotação.



Além disso, a qualidade da forragem também será baixa, com deficiência de fósforo, levando o pecuarista à necessidade de suplementação com alimentos ricos em fósforo, que são mais caros, ou assumir menor desempenho dos animais.



O fósforo aumenta a tolerância da planta ao chamado estresse biótico, que é provocado por pragas, doenças, e ao estresse abiótico, que é provocado por extremos de temperatura e de umidade.



Todos estes ganhos o pecuarista consegue alcançar com a adubação de fósforo, e a perspectiva de custo benefício é a seguinte: para cada quilo de P2O5 aplicado nas pastagens bem manejadas, é convertido, em média, em um quilo de peso corporal. O pecuarista pode comparar o preço de um quilo de P2O5 aplicado nas pastagens com um quilo de peso corporal, que é vendido no mercado. Para a produção de leite, a eficiência é quase 2,5 vezes maior, sendo a resposta mais efetiva. Então as respostas obtidas poderão ser mensuradas por meio da produção individual por animal e produção por hectare.



Scot Consultoria: Qual o custo da adubação fosfatada para o produtor? E os produtores já estão dando a devida importância para esse tipo de cuidado com a pastagem?



Adilson Aguiar: Tem aumentado bastante desde que eu comecei meus estudos na área, ainda como estudante, em 1988. Todo o conhecimento que tínhamos era apenas teórico e o manejo de fertilidade do solo ainda não era aplicado no campo.



Depois do Plano Real, em meados de 1994, é que os pecuaristas começaram a investir em tecnologia. No caso de correção e adubação, a ideia que eu e outros profissionais da área tínhamos era de que a adubação de pastagem só seria feita nos estados da região Sul, estado de São Paulo, parte de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Sul de Goiás e leste de Mato Grosso do Sul, onde os preços das terras já eram altos naquela época, além de outras alternativas de uso da terra, como cana, grãos, eucalipto, seringueira, café, e assim por diante.



Não acreditávamos que essa tecnologia seria adotada por produtores da região Norte e Nordeste, sendo que, na última década, a adoção dessa prática se disseminou por todo o país. Já o custo depende do resultado da análise do solo. Existem aqueles solos muito pobres em fósforo, que são a maioria (em torno de 90%) e solos muito ricos, que são apenas 5% das análises realizadas em todo o Brasil.



Outro fator que determina o custo é a meta de produção. No Brasil a média de lotação de pastagens é em torno de 0,9  UA (unidade animal) por hectare, se a meta for aumentar essa taxa para 1,8 UA por hectare, o custo será X, se ele quer triplicar a lotação, o custo será Y, ou seja, a medida que se aumenta a meta de taxa de lotação, produção de leite por hectare, produção de arrobas por hectare, o custo irá variar.



O que pode ser estabelecido é que utilizando um manejo correto, para cada quilo de P2O5 aplicado, converte-se em média quilo de peso corporal, mas a estimativa de quanto será usado por hectare, por exemplo, varia bastante. Em áreas com baixas metas de produtividade pode ser que não seja necessário utilizar o fósforo e, para metas altas, podem ser necessários 300kg de P2O5 por hectare.



Mas, de qualquer forma, o fósforo não é o mais caro da adubação, mesmo 90% de um solo sendo pobre em fósforo, o maior limitante de pastagens de gramíneas no Brasil é o nitrogênio, compondo o maior custo. Em um solo muito pobre, com necessidade de aplicação de calcário, gesso, fósforo, potássio, enxofre, nitrogênio, este último chega a representar até 50% do custo final dessa adubação.



Scot Consultoria: Na sua opinião, o que um evento como o Encontro dos Encontros pode agregar à pecuária nacional?



Adilson Aguiar: Antes da atitude da Scot em fazer um Encontro de Adubação de Pastagem, que teve início em 2013, o último evento realizado sobre o assunto havia sido em 2004, em um Simpósio sobre manejo de pastagens organizado pela Esalq em Piracicaba.



Anteriormente a isso, havia ocorrido outro evento sobre o assunto em 1996, ou seja, em todo este intervalo, foram apenas dois eventos sobre o tema, até que a Scot começou a realizar anualmente este evento. Nesse meio tempo, ocorreu um aumento enorme na demanda de conhecimento e informação sobre essa tecnologia, com os pecuaristas cada vez mais interessados e em busca de um evento em que técnicos, professores, pesquisadores e produtores pudessem se reunir para discutir esse assunto tão importante.



Então, a contribuição da Scot com a realização deste evento é inestimável e, devido ao sucesso a cada ano, as instituições de ensino e pesquisa voltaram a oferecer eventos semelhantes. Então, além da contribuição direta, com a realização do próprio evento, tem contribuído indiretamente, estimulando novos eventos na área.