Scot Consultoria
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Tempo é dinheiro: Implementação de estação de monta e IATF

por Roberto Sartori
Segunda-Feira, 02 de Setembro de 2019 - 05h55


O Encontro dos Encontros da Scot Consultoria está chegando. Na rodada de entrevistas da semana, nosso convidado é Roberto Sartori, palestrante do Encontro de Criadores, que junto com seu aluno Lucas Oliveira e Silva (ESALQ/USP), sanou algumas dúvidas sobre a importância de aumentar a eficiência reprodutiva da fazenda.

O encontro acontecerá de 30 de setembro a 4 de outubro de 2019, em Ribeirão Preto-SP. Para mais informações e fazer sua inscrição, acesse: encontros.scotconsultoria.com.br.

Roberto Sartori é médico veterinário pela FMVZ/USP. Fez residência e mestrado na mesma instituição. Possui Doutorado e Pós-doutorado em Dairy Science (Universidade de Wisconsin).

É professor Associado do Departamento de Zootecnia (ESALQ/USP) e professor orientador no Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal e Pastagens (ESALQ/USP).

Scot Consultoria: O senhor será um dos palestrantes do Encontro dos Encontros da Scot Consultoria. Qual a importância de um evento como esse para a pecuária nacional? O que o público pode esperar da sua participação no evento?

Roberto Sartori: Eventos como esse, promovido pela Scot, são de extrema importância para o desenvolvimento da pecuária no Brasil, principalmente por proporcionarem a oportunidade de interação entre os principais protagonistas do setor, compartilhando ideias com o intuito de otimizar o sistema de produção. A integração de criadores, representantes comerciais e pesquisadores é fundamental para conectar o conhecimento e tecnologia disponíveis com as demandas do campo. Pretendo auxiliar no estreitamento dessa comunicação ciência – campo, trazendo o que temos desenvolvido na área de reprodução animal aplicada, visando aumentar a eficiência reprodutiva dos rebanhos.

Scot Consultoria: Com a tendência do mercado de bezerros saindo de um ciclo de baixa para um ciclo de alta neste momento, o que a IATF e uma estação de monta bem planejada podem trazer de estratégias?

Roberto Sartori: Não há dúvidas de que a estação de monta associada à implementação da IATF é uma ferramenta extremamente eficaz para o criador que quer alavancar a produção de bezerros e obter os melhores resultados desse sistema. Além de todas os benefícios já bem estabelecidos dessa técnica, como o incremento genético devido à utilização de reprodutores provados, a uniformização dos lotes de bezerros e concentração dos serviços dentro da fazenda, a meu ver, o principal benefício da IATF está no aumento das concepções no início da estação de monta. Dessa forma, por aumentar o número de vacas prenhes ao início da estação de monta, a IATF promove uma maior concentração de partos no início da estação de parição, ou seja, é possível aumentar a proporção de ”bezerros do cedo“. Já está bem estabelecido que esses bezerros são os mais saudáveis e mais produtivos do rebanho, apresentando melhor desempenho não só à desmama, mas também à terminação.

Scot Consultoria: O que precisa ser desenvolvido porteira à dentro na fazenda antes de iniciar uma estação de monta ou IATF, e quais os desafios e glorias das duas técnicas?

Roberto Sartori: Nos últimos dois anos, acompanhamos um aumento significativo no mercado da IATF no Brasil. Segundo dados recentes do Departamento de Reprodução Animal da USP, a utilização da técnica cresceu cerca de 16% nesse período. No entanto, se olharmos o cenário como um todo, o percentual de fêmeas submetidas à IATF ainda é muito discreto (apenas 13% do rebanho). A meu ver, o ponto chave para continuarmos crescendo e difundindo a técnica está relacionado à gestão da informação e de recursos. Em muitas fazendas, a falta de conhecimento dos índices reprodutivos reais, bem como dos custos e receitas, deixa parte dos produtores incrédulos quanto aos potenciais benefícios da técnica. Outro aspecto extremamente importante está relacionado à gestão dos recursos estruturais e humanos. Para obtermos os resultados desejados com a IATF é fundamental dispor de infraestrutura adequada e uma equipe preparada para executar os manejos. Conciliando um bom registro e gestão das informações, infraestrutura e equipe adequadas, e protocolos de IATF eficientes, é totalmente possível otimizar os índices produtivos da fazenda. 

Scot Consultoria: Professor Roberto Sartori, talvez o principal motivo para que o criador não adote o uso de IATF é o manejo. Pecuaristas com carência de eficiência, enxergam dificuldades em terminar em tempo hábil o protocolo em todos os seus lotes. Há algum estudo ou projeto em andamento que prevê dar mais rapidez aos protocolos convencionais usados no rebanho brasileiro?

Roberto Sartori: Hoje em dia, temos à nossa disposição diversos protocolos de IATF, com duração de 9, 10 ou 11 dias, além de pequenos ajustes para determinadas categorias animais, comprovadamente eficientes. Portanto, essa versatilidade permite ao produtor se planejar e organizar os serviços de forma a otimizar o calendário da fazenda e maximizar o número de animais trabalhados durante a estação de monta. Além disso, existem também opções eficazes de ressincronização, que permitem diminuir o intervalo entre serviços com o intuito de agilizar o processo e aumentar o número de animais trabalhados durante a estação.

Scot Consultoria: O que vale mais a pena, ressincronizar as fêmeas ou fazer o repasse com touro?

Roberto Sartori: A ressincronização é uma estratégia muito interessante para reduzir os custos e o manejo com touros dentro da fazenda, e se bem executada pode proporcionar índices finais equivalentes ou até mesmo superiores ao repasse com touro. Além disso, outro ponto importante a ser considerado é que parte das vacas que retornam vazias da primeira IATF não retomam a ciclicidade, portanto emprenharão tardiamente em monta natural ou permanecerão vazias. Assim sendo, a ressincronização pode contribuir com a antecipação das concepções dentro da estação de monta, se comparada ao padrão de distribuição de concepções na monta natural. Dessa forma, é possível aumentar o número de bezerros nascidos no início da estação de parição, e consequentemente, aumentar a produtividade.

Caso haja dificuldade de agenda ou de manejo que encaixe todas as categorias e tiver que priorizar uma delas para ressincronização, esta deve ser a de primíparas, pois são a de maior exigência nutricional e de menor fertilidade ao repasse com touro.

Scot Consultoria: Estação de Monta de 70 dias é viável no Brasil? Qual protocolo usar para atingir esse índice?

Roberto Sartori: É possível encurtar a duração da estação de monta, aumentando a taxa de serviço, com a utilização de novas estratégias de ressincronização já disponíveis, como a ressincronização precoce ou mesmo a superprecoce (com auxílio da ultrassonografia Doppler). Os trabalhos realizados com essas técnicas demonstram que é possível reduzir o período de estação de monta sem prejudicar os resultados finais. No entanto, acredito que antes de optarmos por estratégias mais intensivas como estas, é preciso buscar a máxima eficiência reprodutiva do rebanho, atentando para categorias desafio (como é o caso das primíparas) bem como para o estado nutricional e sanitário das fêmeas em reprodução. As estratégias de ressincronização só apresentarão resultados adequados se, de modo geral, a reprodução do rebanho estiver em harmonia.