Scot Consultoria
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Sanidade plena, barriga cheia e dinheiro no bolso

por Elias Facury
Segunda-Feira, 15 de Abril de 2019 - 05h50



A Scot Consultoria vai iniciar uma série de entrevistas com palestrantes do Encontro de Confinamento e Recriadores visando trazer um pouco do que foi abordado no evento para quem não pôde participar.



Nesta primeira entrevista pós-evento conversamos com Elias Facury sobre o problema de sanidade entre animais confinados.



Elias é médico veterinário formado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Possui mestrado em Medicina Veterinária pela UFMG e doutorado em Ciência Animal pela mesma universidade. Atualmente é professor associado pela UFMG, participa dos programas de pós-graduação em Ciência Animal e trabalha com linhas de pesquisa de período de transição de vacas leiteiras, doenças metabólicas, neuropatias em ruminantes, doenças parasitárias, fluidoterapia em bovinos, sistema locomotor dos bovinos, neonatologia e sanidade dos bezerros.  



Scot Consultoria: Elias, gostaríamos de saber a sua opinião de como foi o evento? E qual a importância de eventos como esse para a pecuária?



Elias Facury: O doutor Sergio Raposo, da Embrapa, deixou bem claro que as tecnologias que são desenvolvidas são para serem usadas, não para serem publicadas e guardadas. Então eu acho que esse evento traz as tecnologias para o produtor diretamente e para os técnicos presentes, para que nós possamos, então, multiplicar o uso dessas tecnologias.



O evento demonstra claramente isso, um grande número de pessoas que estão aqui participando, um grande número de bons palestrantes trazendo essas tecnologias e discussões e uma possibilidade muito grande de interação entre a pesquisa e o campo.



Scot Consultoria: Quais as perdas que animais doentes podem trazer? E qual o custo com a sanidade do rebanho para prevenção de doenças?



Elias Facury: Bom, vou começar pelo final. O custo de prevenção de doenças é muito baixo, os confinamentos apresentam custo com sanidade da ordem de 0,5% a 2,0% do custo de produção, dependendo do confinamento. A questão é que quando a sanidade não dá certo as perdas são enormes.



Vimos claramente durante o evento que quando um animal começa mal no confinamento, ele vai mal até o final. Esse começar mal, muitas vezes, é por causa de doenças, como doença respiratória e problemas de cascos, que são muito frequentes. Com isto, ele vai mal o confinamento todo.



Os trabalhos que já fizemos em confinamentos demonstram, por exemplo, que animais que tiveram alguma doença ficaram cerca de vinte dias a mais no confinamento para chegarem no mesmo peso dos que não adoeceram, só falando de mais tempo se alimentando, e tiveram em torno de 300g a menos, por dia, de ganho de peso. Isso impacta, e muito, no custo final do confinamento, sem falar da mortalidade, que é um problema muito grande. Talvez a maior perda seja a mortalidade direta, e os custos com medidas para controlar uma enfermidade que já está acontecendo.



Esses custos representam muito no confinamento quando as coisas não dão certo.



Scot Consultoria: Quais as principais doenças em animais confinados?



Elias Facury: Os trabalhos que a gente tem feito na Escola de Medicina Veterinária na UFMG mostram o seguinte, a principal causa de mortalidade no confinamento é a doença respiratória e as doenças que causam neuropatia, principalmente a polioencefalomalácia e outras doenças sobre as quais ainda há dúvidas sobre a etiologia.



A doença com maior morbidade, por incrível que pareça, são as lesões de casco, que possuem uma frequência alta, mas não levam o animal à morte. Como se apresentam no confinamento em uma quantidade grande, têm um impacto econômico importante, apesar de não serem as principais responsáveis pela mortalidade.



Scot Consultoria: Quais são os principais fatores de risco que podem desencadear as doenças nos animais?



Elias Facury: Durante o bloco “Saco vazio não para em pé” foi muito falado sobre a preparação dos animais para entrar no confinamento, e esse é um fator importante.



Nós vamos reunir animais de origens diferentes, com experiências sanitárias diferentes, portadores de doenças infecciosas distintas. Então, eles vão se juntar e tem uma ressocialização, tem que refazer toda a hierarquia do grupo, isso é um fator de risco. A densidade animal é extremamente alta, então a chance de disseminação de enfermidades é muito grande.



A própria dieta do animal, é uma dieta para ganho de peso elevado, quase sempre com energia alta, com muito amido, isso proporciona alguns casos de acidose ruminal, que se constitui em um fator de risco e imunossupressão.



Nós temos um ambiente no qual muitas vezes é difícil garantir todo o conforto que o animal precisa, principalmente em relação a estresse calórico, esse é um outro risco grande.



E, tem alguns riscos que não conseguimos controlar muito, como mudanças bruscas de temperatura, você está em um período de temperatura alta e geralmente vem uma frente fria e meio que “liga” as doenças respiratórias, que começam a ocorrer. É muito interessante observarmos fatores de risco, vendo aqueles que temos como controlar e outros que não temos muito controle, como a temperatura e as mudanças climáticas.



Fica um pouco do que o doutor Reinaldo Cooke falou sobre a importância de se vacinar antes de trazer para o confinamento, preparar esses animais antes. Isso tem muito a ver com o status de saúde, sanitário e nutricional que o animal vinha sofrendo antes de ser confinado.