Scot Consultoria
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Bezerro de qualidade é aquele que nasce bom

por Mateus Pies Gionbelli
Segunda-Feira, 01 de Abril de 2019 - 05h50


Diante tantas novas tecnologias que estão surgindo no mercado, a programação fetal é uma que vem ganhando espaço. Ela promete entregar um bezerro mais bem preparado e que terá o máximo desenvolvimento, graças à nutrição da mãe durante a gestação.



Para discorrer sobre o assunto, convidamos o professor Mateus Gionbelli, que será palestrante no Encontro de Confinamento e Recriadores da Scot Consultoria, para um bate-papo.



Mateus é formado em zootecnia pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). Possui mestrado e doutorado em zootecnia pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) e pós-doutorado no Departamento de Zootecnia da UFV. Hoje é professor adjunto no Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Lavras (UFLA) e coordenador do programa de pós-graduação em Zootecnia da UFLA (conceito 6 CAPES). É líder do Grupo de Pesquisa em Nutrição Gestacional e Programação Fetal (DGP/CNPq).



Scot Consultoria: Mateus, o senhor participará do Encontro de Confinamento e Recriadores da Scot Consultoria, qual será a abordagem da sua palestra? Na sua opinião, qual a importância de um evento como este para a pecuária nacional?



Mateus Pies: A principal abordagem da palestra será sobre como a qualidade do bezerro produzido pode sofrer grande influência do ambiente pelo qual a mãe passou durante a gestação. Se pensarmos em animais de recria, a nutrição da vaca no terço médio da gestação pode ser mais importante, porque condiz com o momento de formação do tecido muscular do bezerro dentro do útero. Um bezerro que nasce com maior número de células musculares tem maior potencial de ganho de peso e pode ter melhor desempenho na recria.



Falar sobre isso no Encontro de Confinamento e Recriadores da Scot Consultoria é uma excelente oportunidade de mostrar o que temos de melhor para quem faz a pecuária girar no Brasil. O evento é recordista em participação de pecuaristas que estão sempre ligados às novas informações, conhecimento atualizado, novidades de mercado, etc. É muito prazeroso falar para um público desses!



Scot Consultoria: Quais os principais cuidados no nascimento do bezerro para garantir uma boa saúde?



Mateus Pies: Até o momento do nascimento o bezerro recebe nutrientes e oxigênio via cordão umbilical. O cordão umbilical serve também como dreno de substâncias indesejáveis e gás carbônico. Então, ao nascer, o cordão umbilical representa uma via de acesso fácil aos órgãos internos do animal.



Se o umbigo não for curado corretamente, o índice de mortalidade de bezerros aumenta muito, principalmente por pneumonias. Repetir a cura do umbigo com bastante atenção é mais barato do que tratar de bezerro doente.



Outro fator que faz diferença na redução da incidência de problemas em bezerros recém-nascidos é a altura do pasto. Bezerros recém-nascidos em pastos altos têm a cura do umbigo prejudicada pelo atrito frequente com as folhas do capim. Além disso, vacas bem nutridas e com bom escore corporal irão parir bezerros mais pesados e conseguirão fornecer colostro e amamentá-los mais facilmente.



Scot Consultoria: Nutricionalmente falando, a suplementação na época da cria gera dúvidas quanto ao custo-benefício. Na sua opinião, o creep-feeding é vantajoso?



Mateus Pies: Em geral, o creep-feeding faz sentido quando se desejam altos níveis de produtividade ao longo de todo ciclo produtivo, não somente na fase de cria.



Isso significa que, em linhas gerais, o uso de creep-feeding tende a ser vantajoso quando esses animais continuarem num sistema intensivo de produção após a cria, com altas taxas de ganho de peso, mesmo que isso ocorra a pasto. Se usar creep-feeding e deixar esses bezerros caírem numa seca após a desmama sem suplementação adequada, todo o ganho adicional pode ir por água abaixo.



Scot Consultoria: Falando agora sobre a vaca, qual a importância de uma boa nutrição durante a gestação para garantir o nascimento de um bezerro mais pesado e mais forte?



Mateus Pies: Desde o momento em que passa a existir até o momento do nascimento, um bezerro já tem nove meses e meio de vida (vida intrauterina). Nessa fase ocorrem coisas muito importantes, como a formação de todas as células de tecido muscular que o animal terá durante toda a vida.



Isso representa o potencial dele para produzir carne. Esse potencial é definido pela genética, mas a expressão ou não dessa genética passa pelo ambiente materno (principalmente nutrição) durante a gestação. Vacas que passam por dificuldades durante a gestação irão produzir bezerros “economizadores de energia”.



Isso é ruim do ponto de vista de produtividade, pois para economizar energia, significa que esses animais terão menos tecido muscular do que a capacidade genética deles. É lógico que isso tudo tem também impactos na saúde do bezerro, pois aqueles nascidos de mães que sofrem durante a gestação serão mais fracos e terão menor chance de sobrevivência.



Em resumo, um bezerro pode nascer preparado para expressar o máximo da sua genética ou não. Isso dependerá muito do ambiente materno durante a gestação da vaca. É por isso que podemos encaixar perfeitamente o ditado “pau que nasce torto nunca se endireita” para esse tipo de situação.



Scot Consultoria: Tem-se ouvido muito falar sobre programação fetal e seus benefícios. Para o senhor, quais as vantagens de se conseguir controlar a gestação nesse nível? E quais os principais benefícios que o produtor pode ter utilizando essa ferramenta?



Mateus Pies: A principal vantagem de entender e usar os conceitos de programação fetal na prática é garantir que você terá um bezerro capaz de expressar o potencial genético dele para produzir carne.



Nós hipotetizamos que há muito gado no Brasil produzindo abaixo do que poderia porque as mães deles passaram por condição nutricional ruim durante a gestação. Cuidar da nutrição da vaca durante a gestação melhora todo o sistema, não só o potencial de crescimento do bezerro.



Nossos estudos têm mostrado, por exemplo, ganhos de até 16% nas taxas de prenhez de vacas nas primeiras duas IATF e até 10% a mais de ganho de peso dos bezerros ao longo de toda a vida, quando essas vacas foram corretamente suplementadas durante a gestação.