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A gestão de pessoas na fazenda e o uso de tecnologia

por Antonio Chaker Neto
Terça-Feira, 12 de Março de 2019 - 05h55


A Scot Consultoria convidou Antonio Chaker Neto para um bate-papo sobre a gestão de funcionários da fazenda e o uso de novas tecnologias, temas das suas palestras no Encontro de Confinamentos e Recriadores da Scot Consultoria.



Antonio é zootecnista, mestre em Produção Animal pela Universidade Estadual de Maringá-PR. Consultor sênior e coordenador do Inttegra - Instituto de Métricas Agropecuárias. Autor do livro “Como ganhar dinheiro na pecuária. Os segredos da gestão descomplicada”.



Scot Consultoria: Antonio, o senhor estará no Encontro de Confinamento e Recriadores da Scot Consultoria, o que o público pode esperar de suas palestras?



Antonio Chaker Neto: Na primeira palestra ele pode esperar a orientação para que tenha ações imediatas sobre como planejar e bonificar a equipe, mas, mais importante, é como ele engajar a equipe em busca dos resultados. Esse é o primeiro grande ponto, ter uma ligação muito forte com a equipe e como fazer isso.



Na segunda palestra, cujo tema é “Cada macaco no seu galho: uma análise do uso de novas tecnologias”, é deixar claro que nem todas as tecnologias servem para todos os projetos e que a pessoa precisa ter muito discernimento na escolha do que é bom para ela. Existe um método chamado análise de balanço, que é simples e objetivo e que faz com que a pessoa conheça a possibilidade de sucesso da nova tecnologia sem necessariamente precisar aplicar e validar se funciona para ela ou não. Então, é um poder muito importante para o processo de tomada de decisão.



O fundamental é que em ambas as palestras, os participantes sairão com ações de aplicação imediata e que vão gerar alto impacto no resultado da fazenda.



Scot Consultoria: Cada vez mais o pecuarista procura avaliar o resultado do seu negócio, analisando a produção de arrobas por hectare, ganho médio diário, lucro por hectare no ano, entretanto, poucos tem métricas definidas para avaliar o desempenho da equipe, é possível? O que o pecuarista pode e consegue fazer analisando o desempenho da equipe?



Antonio Chaker Neto: Não é só possível, como é absolutamente necessário avaliar a performance da equipe. Um profissional vale aquilo que ele é capaz de realizar e a realização nunca é baseada em percepções, nem em humor, e sim em entregas e, para isso, existem indicadores de performance de equipe que vão desde o cumprimento de tarefas semanais até o desempenho financeiro e econômico da propriedade, que mede o resultado dessa equipe.



Devo lembrar que cada dia que passa, a equipe precisa ter um envolvimento muito grande no que diz respeito à liberdade para tomar decisão. Assim, o líder deve cada dia mais empoderar e dar liberdade e eu só consigo essas duas ações se consigo medir o desempenho. As novas gerações pedem liberdade e liberdade sem responsabilidade é loucura, é o padre do balão. Assim, a gente precisa realmente medir para que possa empoderar.



Então, eu te dou toda a liberdade, mas você me devolve com responsabilidade e métrica de entrega. Essa é uma combinação infalível de sucesso.



Scot Consultoria: Em conversa com pecuaristas, detectamos uma grande dificuldade em conseguir mão de obra para a fazenda em algumas regiões, resultando em alta rotatividade de funcionários. O que o pecuarista precisa fazer e com o que precisa se preocupar diante desse cenário?



Antonio Chaker Neto:  Na verdade, a gente tem uma visão muito clara de que mão de obra é um desafio para todos os segmentos e todos os setores. Se você parar em um mercadinho da esquina ou em uma grande multinacional de varejo, certamente equipe é um tema relevante. Isso não é diferente na pecuária e diria que em regiões onde o pecuarista mede e tem dificuldade de mão de obra, sempre tem as fazendas que não tem problema nenhum com a equipe. Assim, equipe é um problema muito mais interno do que regional, esse é o primeiro ponto que temos que reconhecer.



E o que ele precisa fazer diante desse cenário? Ele tem que entender que o recrutamento, ou seja, atrair as pessoas para querer trabalhar com ele, é fundamental, porque existem pessoas fracas, aquelas que não têm o perfil da empresa, tem até pessoa mal-intencionada. Então, só com uma grande atração eu consigo estabelecer uma seleção e, para isso, preciso obrigatoriamente ser a fazenda mais desejada na região para que as pessoas queiram trabalhar comigo.



Eu consigo fazer isso com algumas atitudes, salário atrai as pessoas, condição de moradia, plano de carreira, status de que aquela fazenda é uma fazenda de altíssima produtividade. Então com essas atrações, eu consigo selecionar pessoas certas e aí eu entro em um ritual de manutenção. Então eu atraio, seleciono os melhores e trabalho para manter. E como eu mantenho? Eu mantenho com uma combinação de quatro elementos: atenção para o funcionário e a família, orientação, cobrança no sentido de poder supervisionar o desempenho (dar feedbacks) e mérito. Fez mais ganha mais, fez mais fica, não fez está fora. Então, essa combinação realmente constrói um time vencedor e, lembrando que a atenção do líder tem que ficar, cada dia mais, em atrair e manter boas pessoas, o resto sai sozinho.



Scot Consultoria: Mudando um pouco de assunto, o uso de novas tecnologias será o tema central do evento este ano. O pecuarista que se isola e não aceita o uso de tecnologia, sobrevive na atividade? Por outro lado, o uso das melhores tecnologias garante lucratividade?



Antonio Chaker Neto: Excelente pergunta, acho que a mais importante, muito poderosa.



Na verdade, a gente pode ver tecnologia um pouco mais como conhecimento, aplicação de novos conhecimentos que vem através das inovações de nutrição, adubação de pastagem e assim por diante. O mundo muda muito, a única certeza é de que as coisas mudam e o que me trouxe até aqui não vai me levar adiante. Fechar os olhos para as mudanças e inovações é, sem dúvida, uma combinação de fracasso.



Quanto à tecnologia por si só garantir o sucesso, é um outro ponto importante. Não garante e a tecnologia mal aplicada, mal dimensionada, pode aumentar o seu custo de produção e, se houve uma promessa de aumento de produtividade e esse aumento não vier, aumenta meu risco. Porque adotar uma tecnologia e executar mal, fora do tempo, ou mesmo descasada com a minha estrutura, vai me expor a um risco e pode me levar ao fracasso. Então, a gente precisa reconhecer qual é a minha capacidade de execução dessa nova tecnologia e se realmente ela vai trazer aquilo que eu espero. Então, não, a resposta é basicamente que quem não olhar para o que está acontecendo vai sair fora, mas quem quiser adotar tudo sem um critério bem estabelecido de qual é o processo passo a passo certamente vai ter prejuízo, sem dúvida nenhuma.



Scot Consultoria: Por fim, a personalidade do pecuarista reflete diretamente na fazenda?



Antonio Chaker Neto: A personalidade do pecuarista reflete diretamente na fazenda e ele tem que reconhecer que hoje em dia precisa ter três personalidades que navegam para essa liderança situacional. Então, você tem a personalidade do camarada autocrático, que é aquela que eu mando e você obedece, a personalidade do democrático, vamos decidir juntos, e a personalidade do liberal, o que vocês decidirem está decidido. Se ele exercer basicamente a única personalidade, que é a dele e muitas vezes é autocrática, ele não constrói o espírito de equipe. Se ele for muito democrático, perde a genialidade e o poder do dono, que muitas vezes ele precisa adotar uma decisão que só ele tem informação e se ele for só liberar, que é aquela coisa assim, vocês decidem e o que decidir está decidido, praticamente a fazenda fica sem rumo. Ele deve ter 80,0% a 90,0% das ações democráticas e liberais e 10,0% a 20,0% das ações autocráticas. Então, ele precisa realmente calibrar a personalidade dele pensando no resultado que ele espera, que é muito difícil, afinal a gente muitas vezes não percebe o quanto autocrático ou eventualmente o quanto liberal somos. Então, precisa fazer a leitura de calibrar o nosso perfil, o nosso estilo de liderança conforme o momento e a maturidade da equipe.