Scot Consultoria
www.scotconsultoria.com.br

O rumo do mercado do boi gordo

por Hyberville Neto
Segunda-Feira, 25 de Fevereiro de 2019 - 09h00


Com o ciclo pecuário entrando em uma fase de inversão, o aumento da retenção de fêmeas pode gerar menor oferta de boiadas, em conjunto com o cenário otimista para o crescimento econômico, que pode aumentar a demanda por carne.



Para discutir um pouco sobre quais são as expectativas para o mercado do boi gordo em 2019, batemos um papo com o Hyberville Neto, médico veterinário e consultor de mercado da Scot Consultoria.



Hyberville será um dos palestrantes no Encontro de Confinamento e Recriadores da Scot Consultoria que ocorrerá entre os dias 2 e 5 de abril de 2019. Para saber mais sobre o evento acesse. (https://confinamentoerecria.com.br/)



Scot Consultoria: Hyberville, nos conte um pouco o que será abordado em sua palestra no Encontro de Confinamento e Recriadores e a importância de o pecuarista não perder.



Hyberville Neto: A ideia é abordar o mercado do boi gordo, com expectativas para o ano, além de análise sobre as estratégias para quem produz boi magro, avaliando a possibilidade de venda da categoria ou engorda em confinamento.



Scot Consultoria: Levando em consideração a demanda, previsões de crescimento econômico e safra, quais são as expectativas para o mercado do boi gordo este ano? Será melhor que em 2018?



Hyberville Neto: Do lado da oferta de boiadas, com o cenário de preços firmes que observamos ao longo de 2018 para categorias de reposição, é provável que 2019 seja um momento de inversão do ciclo pecuário. Isto significa que devemos ter uma oferta menor de vacas e novilhas, com menor disponibilidade de bovinos para abate, colaborando com as cotações.



No que diz respeito ao consumo doméstico, temos um cenário de possível melhoria, além de termos fechado 2018 com recordes de exportações. China e Hong Kong comprando bem e, mais no final do ano, a volta das compras da Rússia, trazem expectativas de boas vendas em 2019.



Segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), as projeções são de aumentos nas importações totais de carne bovina dos nossos principais clientes. Os embarques, por si só, não fazem milagre, no que diz respeito aos preços do boi gordo, mas dão uma boa ajuda. 



Scot Consultoria: Considerando as mudanças na economia e a melhora no índice de confiança do consumidor, o que podemos esperar em relação ao consumo de carne para 2019?



Hyberville Neto: Temos diversos indicadores que ilustram um cenário mais positivo para a demanda em 2019. A própria evolução forte da B3 (ações em geral) neste começo de ano aponta nesta direção. Obviamente, o fato de as ações estarem em alta não gera consumo por si só, mas isso é um sintoma de aumento na confiança na nossa economia e em um futuro não muito distante.



Essa confiança acaba sendo convertida em empregos e consumo, ou mesmo um pouco mais de “coragem” para quem já estava empregado gastar um pouco mais. Estes gastos a mais, muitas vezes são direcionados à alimentação.



Scot Consultoria: Muitos pecuaristas ficam na dúvida entre confinar ou não. Quais os principais fatores a serem analisados nessa tomada de decisão?



Hyberville Neto: Contas, depois o resto.



O confinamento, embora seja uma atividade altamente intensiva, o que traz riscos relacionados ao manejo e pouca margem para erro, é uma atividade que pode ser visualizada do início ao fim. Isso porque no fechamento do gado o produtor já tem, ou deveria ter, o preço do boi magro, o custo da dieta e pode travar cotações futuras.



Antes de o gado entrar no cocho, o produtor, se tiver um sistema com históricos zootécnicos relativamente conhecidos, já tem uma boa ideia do que vai obter de resultado. Os preços no mercado futuro já são conhecidos e, embora não sejam garantias de cotações lá na frente, eles podem, e devem, ser usados para garantir uma margem mínima.



No caso do confinador exclusivo, ou seja, aquele que compra boi magro, a conta é simples. Se indicar lucro, feche o gado, se não, não confine naquele momento.



Quando o confinamento é feito dentro de um sistema maior, o cenário é menos preto no branco. Aquele pasto que será liberado pode fazer falta para categorias que estão em recria e assim por diante. Com isto, este sistema pode suportar margens mais justas e ainda fazer sentido no cenário geral. No entanto, a venda da boiada magra, se o pasto (mais escasso na seca) já tiver destino para outras categorias, pode ser uma opção. Aí, se o confinamento não estiver projetando resultados, a venda do boi magro pode ser uma opção interessante.  



Scot Consultoria: Para 2019, quais estratégias seriam interessantes adotar para minimizar os riscos referentes a volatilidade na cotação da arroba do boi gordo?  



Hyberville Neto: Travar as cotações é algo que sempre deve ser considerado, mas em anos como 2019, que podemos ter um cenário de preços mais firmes, com possibilidade de altas expressivas, o interessante é garantir preços mínimos.



O uso de opções de venda, que funcionam como seguros contra quedas, mas permitem que o produtor ganhe na alta é uma boa alternativa neste cenário. Com isto, o produtor ganha se o mercado subir e não perde a troca com a reposição, que provavelmente terá subido junto com o boi gordo.