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Concorrência pesada para o boi

por Leandro Bovo
Quinta-feira, 8 de março de 2018 -14h40

A semana começou bastante tumultuada para o setor de proteína animal com a notícia da “Operação Trapaça” da Polícia Federal, que foi um desdobramento da Operação Carne Fraca, que tanto estrago causou ao setor no ano passado. Dessa vez a operação foi centrada apenas na gigante de alimentos BRF, onde foram cumpridos 53 mandatos de busca e apreensão, 27 de condução coercitiva e 11 de prisão temporária, incluindo aí o ex presidente da empresa. As ações da empresa caíram mais de 20,0% após o anuncio da investigação e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) suspendeu as exportações de carne de frango de três plantas da empresa envolvida na investigação.


Após o primeiro momento de alívio por não impactar diretamente a indústria de carne bovina, é preciso analisar com maior profundidade os possíveis impactos que teremos por conta dessa operação. O principal deles, que seria uma reação drástica dos nossos importadores, com bloqueio de remessas, a princípio não aconteceu e nem irá acontecer. Os questionamentos dos países importadores foram prontamente respondidos e nenhuma medida mais dura foi tomada. Porém, não conseguiremos escapar da segunda consequência mais importante desse evento para o nosso negócio, que é a maior oferta de carne suína e de frango no mercado interno, ampliando ainda mais o já grande diferencial entre essas proteínas e a carne bovina. Observe nas figuras 1 e 2.


Tanto o frango quanto o suíno já vinham sendo bem mais competitivas que a carne bovina nas últimas semanas e apenas para ilustrar, a carne suína e a de frango estão 34,0% e 59,0% mais barata que a carne bovina, contra uma média desde 2012 de 13,0% e 42,0% abaixo, respectivamente. Caso haja um redirecionamento da produção da BRF para o mercado interno, esse diferencial tende a se acentuar ainda mais, dificultando o já difícil escoamento da carne bovina no mercado interno.


A resposta do mercado futuro a essa situação não foi muito forte, e os contratos da safra caíram ao redor de 1,0% nessa semana após a notícia. O impacto no mercado físico ainda está sendo sentido, mas as tentativas de recuo de preços em São Paulo têm sido mais intensas. A situação das pastagens ainda permite que o pecuarista seja mais duro na negociação, porém, isso implica numa possível maior oferta para o final da safra. Cada vez mais as exportações terão enorme relevância para a manutenção dos preços de boi durante essa safra e a volta da Rússia e dos EUA às compras já seriam uma boa noticia nesse sentido.