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Disponibilidade de dados pecuários: Brasil x EUA

por Leandro Bovo
Quinta-feira, 11 de janeiro de 2018 -14h40

Quem acompanha o dia a dia do mercado futuro de boi, com certeza já participou ou participa de discussões sobre o Indicador Esalq à vista, que é o objeto de negociação do mercado futuro na B3. Mesmo quem atua apenas no mercado físico muito provavelmente também conhece e já deve ter discutido sobre os preços das praças pecuárias, levantados e reportados diariamente pelo CEPEA também da Esalq. Independente das discussões sobre a acurácia dos levantamentos, acredito que seja da concordância de todos que o fato de existir um levantamento “oficial”  feito por uma estrutura independente e nacionalmente reconhecida é um fator positivo e digno de elogios, principalmente num país que possui a notória dificuldade de acesso a dados como o Brasil.


Essa falta de volume de dados disponíveis para análise é um grande dificultador para se traçar cenários e expectativas para os preços futuros e nisso ainda temos muito o que aprender com os Estado Unidos. A quantidade de dados e relatórios disponíveis sobre pecuária bovina nos EUA é tão grande que é até difícil escolher os dados que merecem realmente ser acompanhados de perto. Eles têm números e históricos como: estoque de animais em confinamento (divididos por categoria, peso e data de entrada), estoque de carne congelada, número de animais abatidos divididos por classificação de carcaça, número de animais abatidos que eram de propriedade do frigorífico, número de animais comprados por tipo de negociação (a termo com preço fixo, a termo com preço a fixar mais prêmios, etc.).


Esse volume descomunal de dados é disponibilizado através de um sistema chamado “Mandatory price reporting system”, onde como o próprio nome diz, as indústrias são obrigadas a enviar determinadas informações que são compiladas, agrupadas e posteriormente disponibilizadas na internet. Para quem quiser conhecer melhor o sistema, o link é https://www.ams.usda.gov/rules-regulations/mmr/lmr.


Segundo dados compilados pela consultoria Steiner Consulting Group e divulgado no Daily Livestock Report, cerca de 91% do abate de gado gordo dos EUA tem suas informações divulgadas através desse sistema. As informações dos abates são divulgadas semanalmente e incluem até mesmo o tipo de negociação em que se baseou a compra, ou seja, se foi negócio direto entre produtores e indústria (mercado de balcão), negócio a termo baseado em preço bolsa mais prêmio ou negócio a termo com preço fixo. Apenas como exemplo do nível de informações disponíveis, essa mesma consultoria divulgou nesta semana as imagens 1 e 2, mostrando a quantidade de gado já comprado nos EUA para entrega nos meses seguintes, bem como o histórico dos anos anteriores e também o percentual do abate total coberto por essas compras, bem como seu histórico.


A pecuária brasileira deve evoluir em algum momento para uma maior disponibilidade de dados do que temos disponível hoje, o que permitirá a construção de cenários e tendências de forma mais embasada e, portanto, auxiliará na tomada de decisão de todos os envolvidos na atividade, porém, enquanto essa evolução não acontece, é nosso dever fomentar as iniciativas que já existem a esse respeito. Nesse aspecto é imprescindível a colaboração de todos os produtores em enviar suas informações de negociação ao CEPEA. Se você ainda não é um informante de preços, cadastre-se e passe a informar seus negócios, quanto maior o número de informações, menor a chance de distorções ou preços que não refletem a realidade, o que é do interesse de todos.