2020, um ano para ser lembrado ou esquecido?

O ano de 2020 vai entrar nos livros de história como o ano em que a humanidade foi assolada por uma enorme pandemia que alcançou todos os cantos do globo e trouxe impactos devastadores para a economia mundial, isso sem contar nos inúmeros dramas familiares de pessoas que perderam seus amigos e familiares para a doença.

Na imensa maioria dos setores da economia, o impacto da Covid19 variou de levemente negativo a catastrófico, com muitas empresas falindo ou encerrando as atividades por não terem condições de suportar o impacto em seus negócios. Felizmente esse não foi o caso para a agropecuária, que, impulsionada pela alta do dólar e pela demanda chinesa, teve um dos melhores anos de sua história. Diante dos aspectos citados acima, ficamos até “sem jeito” de comemorar um ano como esse, mas o fato é que o tumulto causado pela pandemia trouxe uma conjunção de fatores positivos poucas vezes vista em nossa atividade. Acompanhe na tabela 1 as variações de alguns produtos de janeiro a novembro de 2020.

Analisar a variação de preços entre o começo e o fim do ano por si só, no entanto, não conta a história completa, já que a volatilidade ocorrida no período foi das mais altas da história da pecuária, sobretudo no período entre março e maio, quando o temor da pandemia fez os preços despencarem no mercado futuro, com maio fazendo mínima de R$165,00/@ e out/20 fazendo mínima de R$177,00/@. Além dessa enorme oscilação, outra relação que mereceu destaque foi o estreitamento do diferencial de preços entre maio/20 e out/20, que chegou a ser negociado a -R$ 3,50, ou seja, a entressafra abaixo da safra, numa inversão da referência histórica e num desestímulo ao confinamento, que cobrou um preço altíssimo com relação à falta de oferta no segundo semestre.

No segundo semestre, a alta do dólar, a força das exportações e o complemento de renda proporcionado pelo “corona voucher” fez com que os preços do mercado físico operassem em alta constante, saindo dos R$200,00/@ de final de maio para a máxima de R$292,00/@ em meados de novembro. O mercado futuro, no entanto, ficou praticamente o ano todo abaixo do físico, invertendo essa tendência apenas a partir de setembro, quando finalmente o contrato de out/20 começou a ser negociado a preços acima dos vigentes no mercado físico. A partir daí o ágio veio se acentuando, atingindo seu ápice durante o mês de outubro, quando o contrato de novembro chegou a ser negociado com um ágio impressionante de R$ 20,00/@ acima do mercado físico. E essa foi outra distorção determinante para o restante do ano.

Com um ágio tão grande de um mês para o outro, muitos confinadores optaram por manter os animais em engorda, o que acabou tirando oferta do final de outubro e começo de novembro e jogando para final de novembro e começo de dezembro. Essa concentração, catalisada pela queda do dólar, que saiu dos R$5,50 para ao redor de R$5,10, e a desaceleração das exportações para a China acabaram geram uma pressão baixista no mercado físico, que saiu dos R$290,00 para os R$ 255,00/@ de meados de dezembro.

A pressão da indústria, apesar de grande, tem esbarrado no ambiente de baixa oferta que prevaleceu em todo ano de 2020 e deve ditar a tônica também em 2021, agravada pelo enorme aumento no custo de produção ditado pela reposição caríssima e pelos preços de milho e soja nos maiores patamares da história. Assim como em 2020, a evolução do dólar e seu consequente impacto na dinâmica das exportações serão os fatores determinantes para ditar o rumo dos preços pecuários em 2021 e nesse aspecto as previsões são as mais variadas possíveis, desde R$4,25/dólar até a manutenção das máximas de R$5,50/dólar, a depender da melhora da situação fiscal do país e da aprovação das reformas. A única certeza é que a maior volatilidade será uma constante também em 2021. Ter gestão eficiente e aproveitar as oportunidades geradas por possíveis distorções será fundamental no sucesso da atividade.