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Scot Consultoria

Quem tem medo do termo?


Quinta-feira, 24 de outubro de 2019 - 14h40

Ao longo de 2019, à medida que a safrinha de milho vinha se consolidando como recorde e o mercado futuro de boi apontava preços remuneradores para o segundo semestre, o volume de negociações a termo para entrega futura de bois entre pecuaristas e indústrias, veio aumentando. Em suas diversas modalidades, como o termo com preço fixo, ou termo indexado ao Cepea da região mais premiação, é seguro afirmar que talvez este ano tenha sido o recorde de bois comprados nessa modalidade, ou, se não foi recorde, com certeza foi próximo dele.


À medida que as negociações avançavam, não faltaram análises de que o mercado estava condenado a cair, ou, na melhor das hipóteses, não subir na entressafra, já que as grandes indústrias estavam com as escalas praticamente lotadas até o final do ano. O raciocínio linear era: se as grandes indústrias já estão com bois na escala e, portanto, sem apetite de compra no mercado à vista, como o mercado vai ter sustentação?


A resposta veio da maneira mais contundente possível, com o mercado trabalhando em uma alta consistente e ininterrupta desde o final de julho, com direito a seguidas quebras de recordes no preço nominal da arroba até agora, além de preços futuros disparando, chegando até o pico de R$176,00/@, no contrato de dezembro de 2019. Se a situação na cabeça de muitos parecia tão clara e definida para a entressafra, com a enxurrada de boi a termo na escala dos frigoríficos, então o que deu errado?


 O que muitos não colocaram na conta foi que o mercado não é definido apenas pela escala dos grandes frigoríficos. O que define o rumo dos preços é uma força mais poderosa e abrangente, chamada de oferta x demanda. O boi a termo nada mais é do que uma ferramenta de antecipação de negociação que garante previsibilidade para a indústria sobre a matéria-prima que ela poderá trabalhar no futuro, podendo planejar, adequar e direcionar sua produção ao mercado mais remunerador do seu portfólio.


Vamos supor que o número de animais negociados a termo tenha sido de um milhão de cabeças, da mesma forma que as indústrias compradoras não precisarão comprar esse volume na época do abate, os pecuaristas também não precisarão vender esse volume no mercado spot. É um jogo de soma zero, um anula o outro e os efeitos nos preços acabam não sendo relevantes.


Agora imagine que a demanda se aqueça, e o apetite de compra de quem não tem boi a termo escalado aumente. Com os grandes confinamentos com oferta comprometida, o jeito vai ser partir para o mercado spot com agressividade para disputar os poucos bois disponíveis. Com somente os frigoríficos menores atuando no mercado, o indicador de preços tenderá a refletir a realidade de preço desses participantes e não dos grandes, que geralmente compram na banda de baixa dos preços, aumentando ainda mais o potencial da alta.


O objetivo desse texto não é o de defender o “boi a termo”, que é apenas mais uma entre tantas outras modalidades de negociação disponíveis no mercado, mas apenas chamar a atenção para o fato óbvio, mas muitas vezes negligenciado, que, no final das contas, quem manda nos preços é oferta x demanda, e essa equação não é, nem nunca será mudada por qualquer modalidade no relacionamento comercial entre pecuarista e indústria.




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