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2017: perca o jogo, mas não perca a lição!


Sexta-feira, 5 de janeiro de 2018 - 11h30

O último ano já se desenhava como desafiador para a pecuária, com os produtores carregando estoques caros, fruto dos animais comprados durante o mercado em alta de 2015 e 2016. Além disso, a maior recessão econômica da história do Brasil trazia consigo as consequências negativas do alto desemprego e diminuição do consumo no mercado interno. Porém, nem a mais pessimista das projeções sequer chegou perto do que viria a ocorrer realmente ao longo do ano.


No final de 2016 e início de 2017 o preço do boi gordo no estado de São Paulo estava ao redor de R$150,00/@ e o mercado futuro precificava os mesmos R$150,00/@ para out/17 e R$145,00/@ para maio/17, refletindo justamente essa visão mais cautelosa para o ano. A safra seguia seu curso com preços cedendo levemente, à medida que a oferta aumentava, até que em 17 de março veio o primeiro susto do ano: a operação Carne Fraca desvendou um esquema de corrupção entre os fiscais agropecuários de algumas indústrias, levantando dúvidas entre os consumidores dos mercados interno e externo sobre a qualidade do produto. Felizmente a época do ano permitiu que o pecuarista adotasse um ritmo mais comedido de vendas e o estrago nesse incidente não foi tão grande.


Quando o mercado começava a dar sinais de que estava superando o episódio da “Carne Fraca” veio a segunda, e mais forte, pancada do ano com a delação dos controladores da JBS em maio. Da noite para o dia a viabilidade do maior frigorífico do Brasil passou a ser questionada, pecuaristas deixaram de vender seus animais para essa indústria, deslocando um volume enorme de oferta para a concorrência, com efeitos catastróficos sobre os preços. Dessa vez o tamanho do problema foi agravado, já que diferentemente da “Carne Fraca”, o estoque de animais era maior e a capacidade de retenção menor, levando o produtor a enfrentar essa nova crise com mais oferta e com menos alternativas. As semanas que se seguiram foram muito tumultuadas, com a volatilidade do mercado futuro explodindo, preços em queda e o pecuarista sem ter para onde correr no meio dessa confusão toda. A queda dos preços se acentuou, chegando à mínima do ano em São Paulo a R$122,80/@ em meados de julho. No mercado futuro a queda foi ainda maior, com o contrato de out/17 chegando a fazer mínima de R$118,00/@ no final de junho.

Esses foram apenas os dois maiores problemas do ano, mas não podemos esquecer de mencionar a volta do Funrural, o aumento do ICMS para as carnes em São Paulo e o embargo dos EUA para as exportações brasileiras, todos com efeitos negativos sobre os preços.

A consequência de tudo isso foi um desequilíbrio total das cotações ao longo da cadeia, com as indústrias aumentando enormemente suas margens e o produtor trabalhando no vermelho, o que foi um grande desincentivo ao confinamento. A partir de agosto esse desequilíbrio começou a ser corrigido e a recuperação dos preços ocorre desde então, trazendo o mercado no final do ano para ao redor de R$147,00/@, à vista, livre de Funrural, patamar ligeiramente abaixo do que iniciamos o ano.

O detalhe de 2017 foi que o pecuarista teve que enfrentar toda essa turbulência sem a possibilidade de efetuar vendas a termo, já que as indústrias optaram por não realizar essa modalidade de negócio nesse ano. A única saída disponível foram os mercados futuros e de opções da B3 e quem optou por essas modalidades conseguiu ter bons resultados, já que os diferenciais de base estreitaram significativamente ao longo do ano (em alguns estados como Goiás e Minas Gerais chegaram a ficar zerados com relação a São Paulo).

Há um ditado que diz, que você pode até perder o jogo, mas não deve perder a lição, e 2017 foi uma grande lição sobre os riscos imponderáveis e suas consequências muitas vezes traumáticas para o setor. As expectativas são melhores para 2018, com juros caindo, recuperação econômica encaminhada, melhora de demanda nos mercados interno e externo, maior competição entre as indústrias pela matéria-prima e, isso tudo, com o custo dos animais em estoque num nível bem mais favorável. Os riscos contudo, ainda são muito presentes e não podem ser negligenciados, isso sem nem falar dos fatores que não estão no radar de ninguém e podem aparecer de repente. As alternativas para gerenciamento desses riscos estão disponíveis e ao alcance de todos!

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