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Scot Consultoria

2015: o ano do hedge


Quarta-feira, 30 de dezembro de 2015 - 10h30

O ano começou com expectativas de bons resultados para os pecuaristas. Apesar de a taxa de reposição estar em patamares desconfortáveis, os preços do milho apresentavam forte tendência de queda, com estoques de passagem bastante altos, abrindo ótimas perspectivas para o custo da alimentação em confinamento ou suplementação a pasto. Além disso, o mercado futuro vinha apresentando forte tendência de alta, sempre com um ágio bastante relevante frente ao mercado físico e, portanto, abrindo boas oportunidades de negociação em bolsa ou no mercado a termo.
A expectativa de alta no mercado físico foi confirmada durante a safra, e o indicador à vista, que começou o ano em R$144,00/@, atingiu seu pico no final de abril, a R$150,36/@. Essa máxima não conseguiu ser rompida nem mesmo na entressafra, marcando 2015 como o ano em que o pico de preços foi atingido em plena safra. A extensão do período chuvoso para até o início de junho postergou o tradicional aumento de oferta ao final da safra e após o pico do final de abril, o mercado veio numa tendência ininterrupta de queda até atingir sua mínima no dia 13 de agosto, em R$140,03/@.
A figura 1 mostra o comportamento do vencimento out/15 contra o indicador Esalq à vista, repare que ele sempre operou com bom ágio sobre o mercado físico, com máxima de R$11,15/@ de diferença em março, quando o contrato de outubro operou acima de R$155,00/@, fazendo sua máxima em abril, a R$158,06/@.
Outro gráfico que evidencia bem as boas expectativas para a pecuária no início de 2015 é o da relação de troca boi x milho (figura 2). Repare que de maio a julho (época de início dos confinamentos) a relação de troca atingiu e se manteve em seu melhor patamar, acima de seis sacas de milho por arroba, contra uma média histórica de menos de quatro sacas por arroba, ou seja, no início do confinamento era possível travar uma relação de troca mais do que 50,0% melhor do que a média histórica para a alimentação do confinamento no restante do ano.
Só que ao longo do ano ocorreram algumas grandes reviravoltas que inverteram o cenário e a situação, que era bastante confortável, se tornou um tanto quanto ruim para quem não tinha seus custos e preços de venda devidamente travados. A primeira grande mudança foi com relação à indústria, que atuou forte no sentido de readequar sua capacidade de abate para a nova realidade de menor oferta. Ao todo foram fechadas cerca de 40 plantas de abate, reduzindo de forma relevante a demanda por bois e dando muito mais força para os frigoríficos na precificação de sua matéria-prima, colocando pressão nas cotações do boi gordo. 
A outra mudança foi a disparada do dólar, que saiu de R$2,60, no início do ano, para a máxima de R$4,20 em final de setembro. Isso normalmente seria boa notícia para a pecuária, já que aumenta o faturamento das indústrias exportadoras, dando fôlego extra para aumentar o pagamento pelo boi gordo. Porém, não foi exatamente o que aconteceu e por conta de problemas específicos de alguns dos nossos principais clientes, como Rússia, Venezuela e Hong Kong, nosso volume exportado vai fechar o ano com queda próxima a 20,0%. 
Já no caso do milho, a alta do dólar teve impacto direto nas exportações e caminhamos para finalizar 2015 com volumes exportados próximos a 30,0 milhões de toneladas. Esse volume foi suficiente para absorver todo o excedente gerado pela boa produtividade da safra e safrinha, trazendo novamente o mercado para uma situação de oferta restrita e preços em trajetória ascendente.
O grande aprendizado do ano foi o de não utilizar os preços do mercado futuro para tomar decisões de investimento se não for efetivamente usá-lo para garantir os preços. Quem teve essa postura este ano acabou enfrentando dificuldades e muitas vezes o cenário que mostrava lucros razoáveis acabou se transformando numa realidade de prejuízos.
 
Para 2016 o ano já começa com um cenário muito menos promissor do que 2015, com margens apertadas e cenário complicado em todos os aspectos para a pecuária de corte: milho em alta com a relação de troca para outubro em 4,40 sacas/@, reposição nos piores níveis da história, problemas climáticos causados pelo El Niño principalmente nas regiões mais ao norte do país. Isso sem falar em toda a turbulência política e econômica, cuja tendência é de piora para 2016. A boa notícia fica por conta das boas perspectivas com as exportações, que têm tudo para quebrar recordes de volume e faturamento em 2016. De toda forma, esse vai ser mais um ano no qual aproveitar as oportunidades vai fazer a diferença para ser bem sucedido na atividade.

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