• Sexta-feira, 29 de março de 2024
  • Receba nossos relatórios diários e gratuitos
Scot Consultoria

Reflexões sobre o “boi a termo”


Sexta-feira, 10 de julho de 2015 - 14h41

Com a recente queda de preços no mercado físico e futuro do boi gordo, uma velha discussão, que estava "esquecida" nos últimos, anos voltou à tona. Com muitos colocando a culpa pela queda nas compras a termo e/ou contratos de fornecimento. Como essa discussão já é bastante antiga, "resgatei" um texto que escrevi neste espaço em julho de 2010 expressando minha opinião sobre o tema.


As discussões a respeito dessa forma de comercialização são muitas vezes acaloradas e defensores e críticos muitas vezes apresentam as razões para seu ponto de vista de forma mais "apaixonada" do que racionalmente. O objetivo deste artigo não é defender e nem criticar essa importante ferramenta de comercialização, mas apenas tentar analisar da forma mais isenta possível suas conseqüências nos preços.


A afirmação que mais se ouve em relação ao boi a termo é que ele é o grande culpado pela queda de preço na entressafra nos últimos anos. O argumento é que com a escala de abate garantida, os grandes frigoríficos teriam força suficiente para forçar quedas de preços aos demais pecuaristas que vendem no mercado spot. A meu ver, tanto a afirmação, quanto a justificativa são simplistas demais e merecem uma análise mais detalhada.


A comercialização a termo é uma ferramenta extremamente difundida nas mais diversas commodities, sendo, inclusive, muito mais antiga e mais amplamente utilizada em outros mercados, que não o do boi, como soja e café, por exemplo. Analisando isoladamente, o impacto de maior número de animais comprados a termo seria nulo, já que seria exatamente igual à diminuição dos animais disponíveis para venda no mercado spot. Porém, pelas características do mercado do boi gordo, principalmente na entressafra, quando o custo de confinamento inviabiliza o carrego de estoques de animais prontos, o fato de grandes indústrias já terem suas programações de abate fechadas poderia, em teoria, exercer uma pressão adicional baixista no mercado.


Ao analisar o mercado nos últimos anos, a conclusão mais lógica a que se chega é que o termo amplifica a importância da demanda por carne na precificação do boi gordo. Se imaginarmos que as duas principais influências na precificação são a demanda por carne e a oferta de animais, e que elas teriam forças iguais sobre o preço, num ambiente com grandes frigoríficos, com boa parte da escala comprada a termo, a influencia da demanda se amplifica.


Explico-me: num ambiente de demanda fraca, como observado no segundo semestre de 2008 e 2009, o impacto do termo foi realmente baixista, já que as grandes empresas saem das compras e, com a demanda fraca, os demais participantes não têm incentivo suficiente para subir preços e absorver a oferta disponível no spot, pagando valores menores e ampliando a queda.


O contrário também é verdadeiro: num mercado de demanda aquecida, como foi em 2007 e 2010, o efeito do termo é o inverso do esperado, exacerbando a alta dos preços. Num cenário em que os grandes frigoríficos estão com as escalas completas por bois a termo e, portanto, não comprando no mercado spot, eles saem da base de cálculo do índice ESALQ, que passa a ser composto em sua maioria pelas indústrias menores, que, com boa demanda, pagam mais pelos bois disponíveis, subindo o Índice ESALQ à vista, amplificando a alta e potencialmente causando valorização nos mercados futuros.


O comportamento do mercado em 2007, 2008, 2009 e 2010 reforça a viabilidade dessa hipótese e, se for esse mesmo o caso, ao ampliar a importância da demanda na precificação, o boi a termo não tem a conseqüência sempre baixista que a maioria aborda, mas ele pode amplificar movimentos de alta ou de baixa conforme a variação da demanda, agregando volatilidade aos preços, e não tirando volatilidade, como seria o esperado.


Independente do impacto, essa modalidade de comercialização é mais uma ferramenta à disposição dos pecuaristas e é uma realidade que tende a aumentar, à medida que a cultura de gerenciamento de risco se aprofunda na pecuária. É bom conhecer e estudar, para poder tira proveito disso.




<< Notícia Anterior Próxima Notícia >>

Buscar

Newsletter diária

Receba nossos relatórios diários e gratuitos


Loja