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Scot Consultoria

Reflexões sobre o “Boi a termo”


Sexta-feira, 5 de outubro de 2012 - 11h24

Com a chegada do mês de outubro e a atual pressão baixista no mercado, as discussões sobre o impacto do boi a termo no mercado têm ocorrido com maior frequência. Visando contribuir com a discussão, eu tomei a liberdade de reproduzir nesse espaço um artigo escrito em julho de 2010 apresentando minha opinião sobre o assunto.


As discussões a respeito dessa forma de comercialização são muitas vezes acaloradas. Defensores e críticos muitas vezes apresentam as razões para seu ponto de vista de forma mais "apaixonada" do que racionalmente. O objetivo desse artigo não é defender e nem criticar essa importante ferramenta de comercialização, mas apenas tentar analisar da forma mais isenta possível suas conseqüências nos preços.


A afirmação que mais se ouve em relação ao boi à termo é que ele é o grande culpado pela queda de preço na entressafra nos últimos anos. O argumento é que com a escala de abate garantida, os grandes frigoríficos teriam força suficiente para forçar quedas de preços aos demais pecuaristas que vendem no mercado spot. A meu ver tanto a afirmação quanto à justificativa são simplistas demais e merecem uma análise mais detalhada.


A comercialização a termo é uma ferramenta extremamente difundida nas mais diversas commodities, sendo inclusive muito mais antiga e amplamente utilizada em mercados como soja, milho e café, por exemplo. Analisando isoladamente, o impacto do maior número de animais comprados a termo seria nulo, já que seria exatamente igual à diminuição dos animais disponíveis para venda no mercado spot. Porém, pelas características do mercado de boi gordo, principalmente na entressafra, onde o custo de confinamento inviabiliza o carrego de estoques de animais prontos, o fato de grandes indústrias já terem sua programação de abate fechadas poderia em teoria exercer uma pressão adicional baixista no mercado.


O relativo otimismo que existia entre os produtores com o contrato de out/12 em alta já se transformou em pessimismo e preocupação com a possibilidade de novas quedas. E a má notícia é que o preço do seguro contra quedas está em valores muito altos, que chegam a inviabilizar a operação.


Ao analisar o mercado nos últimos quatro anos, a conclusão mais lógica a que se chega é que o termo amplifica a importância da demanda por carne na precificação do boi gordo. Se imaginarmos que as duas principais influências na precificação são a demanda por carne e a oferta de animais, e que elas teriam forças iguais sobre o preço, num ambiente com grandes frigoríficos com boa parte da escala comprada a termo, a influencia da demanda se amplifica.


Explico-me: em um ambiente de demanda fraca, como observado no 2º semestre de 2008 e 2009, o impacto do termo é realmente baixista, já que as grandes empresas saem das compras e com a demanda fraca, os demais participantes não têm incentivo suficiente para subir preços e absorver a oferta disponível no spot, pagando preços mais baixos, e ampliando a queda.


O contrário também é verdadeiro: em um mercado de demanda aquecida, como foi 2007 e 2010, o efeito do termo é o inverso do esperado, exacerbando a alta dos preços. No cenário em que os grandes frigoríficos estão com as escalas completas por boi a termo e, portanto, não comprando no mercado spot, eles saem da base de cálculo do índice ESALQ, que passa a ser composto em sua maioria pelas indústrias menores, que com boa demanda, pagam mais pelos bois disponíveis, subindo o Índice ESALQ à vista, amplificando a alta e potencialmente causando alta nos mercados futuros, sendo isso exatamente o que ocorreu em 2010.


O comportamento do mercado em 2007, 2008, 2009 e 2010, reforça a viabilidade dessa hipótese e se for esse mesmo o caso, ao ampliar a importância da demanda na precificação, o boi a termo não tem a conseqüência sempre baixista que a maioria aborda, mas ele pode amplificar movimentos de alta ou de baixa conforme a variação da demanda, agregando volatilidade aos preços e não tirando, como seria o esperado. Independente do impacto, essa modalidade de comercialização é mais uma ferramenta à disposição dos pecuaristas e é uma realidade que tende a aumentar à medida que a cultura de gerenciamento de risco se aprofunda na pecuária é bom conhecer e estudar para poder tira proveito disso. 




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