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Scot Consultoria

Reflexões sobre o boi a termo


Sexta-feira, 29 de outubro de 2010 - 10h30

Sem haver muito a acrescentar sobre a atual situação dos mercados físico e futuro, cujas tendências permanecem inalteradas e em alta e já com a entressafra caminhando para o seu final (pelo menos no calendário), é pertinente uma análise um pouco mais aprofundada sobre o real impacto do “boi a termo” no mercado pecuário nacional. Para tanto, vou reproduzir parcialmente um artigo publicado nesse espaço no dia 29/7/2010. As discussões a respeito dessa forma de comercialização são muitas vezes acaloradas. Defensores e críticos apresentam as razões para seu ponto de vista de forma mais “apaixonada” do que racional. O objetivo deste artigo não é defender e nem criticar essa importante ferramenta de comercialização, mas apenas tentar analisar da forma mais isenta possível suas conseqüências nos preços. A afirmação que mais se ouve em relação ao boi a termo é que ele é o grande culpado pela queda de preço na entressafra nos últimos anos. O argumento é que com a escala de abate garantida, os grandes frigoríficos teriam força suficiente para forçar quedas de preços aos demais pecuaristas que vendem no mercado spot. A meu ver tanto a afirmação quanto a justificativa são simplistas demais e merecem uma análise mais detalhada. A comercialização a termo é uma ferramenta extremamente difundida nas mais diversas commodities, sendo inclusive muito mais antiga e amplamente utilizada em outros mercados que não o do boi, como soja e café por exemplo. Analisando isoladamente, o impacto de maior número de animais comprados a termo seria nulo, já que seria exatamente igual à diminuição dos animais disponíveis para venda no mercado spot. Porém, pelas características do mercado de boi gordo, principalmente na entressafra, onde o custo de confinamento inviabiliza o carrego de estoques de animais prontos, o fato de grandes indústrias já terem sua programação de abate fechada poderia, em teoria, exercer uma pressão baixista no mercado. Ao analisar o mercado nos últimos quatro anos, a conclusão mais lógica a que se chega é que o termo amplifica a importância da demanda por carne na precificação do boi gordo. Se imaginarmos que as duas principais influências na precificação são a demanda por carne e a oferta de animais, e que elas teriam forças iguais sobre o preço, num ambiente com grandes frigoríficos com boa parte da escala comprada a termo, a influência da demanda se amplifica. Explico: num ambiente de demanda fraca, como observado no 2º semestre de 2008 e 2009, o impacto do termo é realmente baixista, já que as grandes empresas saem das compras e com a demanda fraca, os demais participantes não têm incentivo suficiente para subir preços e absorver a oferta disponível no spot, pagando preços mais baixos, e ampliando a queda. O contrário também é verdadeiro: num mercado de demanda aquecida, como foi 2007 e está sendo 2010 até o momento, o efeito do termo é o inverso do esperado, exacerbando a alta dos preços. Num cenário em que os grandes frigoríficos estão com as escalas completas por boi a termo e, portanto, não comprando no mercado spot, eles saem da base de cálculo do índice ESALQ, que passa a ser composto em sua maioria pelas indústrias menores. Com boa demanda, essas indústrias pagam mais pelos bois disponíveis, subindo o Índice ESALQ à vista, causando aumento nos mercados futuros que, por sua vez, incentiva a retenção de animais no mercado spot e assim amplifica a alta, num ciclo que somente é quebrado quando a demanda nos preços mais altos fica comprometida. O comportamento do mercado em 2007, 2008, 2009 e principalmente em 2010, reforçam a viabilidade dessa hipótese e se for esse mesmo o caso, ao ampliar a importância da demanda na precificação, o boi a termo não tem a conseqüência sempre baixista que a maioria aborda, mas ele pode amplificar movimentos de alta ou de baixa conforme a variação da demanda, agregando volatilidade aos preços e não tirando volatilidade como seria o esperado. Independente do impacto, essa modalidade de comercialização é mais uma ferramenta à disposição dos pecuaristas e é uma realidade que tende a aumentar à medida que a cultura de gerenciamento de risco se aprofunda na pecuária. É bom conhecer e estudar seus impactos para poder tirar proveito disso.
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